A noite já se acomodava nos corredores da mansão como um véu espesso e silencioso. As velas em suportes de pedra ardiam baixo, lançando sombras delicadas pelos azulejos da cozinha.
Lisanne empurrou a porta com o ombro, os pés descalços tocando o chão frio. A brisa leve que entrava pela janela semiaberta carregava o aroma de terra úmida e flores noturnas. O silêncio era quase confortável.
Quase. Ao dar dois passos, ela o viu.
Lian estava junto à janela, apoiado com o antebraço no parapeito, segurando um cálice de vidro onde o sangue deixava marcas discretas no interior. A luz banhava seu perfil com suavidade, tornando-o quase etéreo — os olhos voltados para algum ponto distante lá fora, como se a noite o escutasse.
Ela hesitou, mas não recuou. Pigarreou baixo, o suficiente para que ele a notasse.
— Outra vez nos encontramos aqui. — disse ela, com um sorriso contido nos lábios.
Ele se virou, lentamente, o olhar encontrando o dela com uma calma diferente.
— Parece que sim. — A vo