LAIKA
Olhei para o vestido pela décima vez no espelho. Já não me parecia tão deslumbrante quanto eu imaginava. Eu o comprara ontem, durante um passeio pelo mercado. Embora ainda não tivesse sido coroada Luna, as pessoas já sabiam que era prudente não me destratar; qualquer ressentimento permanecia guardado no coração e, enquanto ficasse ali, isso me bastava.
Vi o vestido pendurado e paguei por ele com algumas moedas da mesada que Karim me dera. Jamais comprara um vestido para mim. Era sempre Karim quem o fazia, e acertava em cheio. Hoje eu começaria a trabalhar e queria voltar bonita o suficiente. Meus cabelos tinham crescido de novo, e eu os transei em uma espinha-de-peixe.
Karim saíra cedo para uma reunião importante, obrigando-me a vestir-me sozinha. Já sentia saudades nesse curto intervalo em que ele não estava por perto. A aba da tenda se abriu de repente, e Alfa Karim entrou às pressas, estacando na entrada e fitando-me com uma expressão que não consegui decifrar.
Bufei.
— Eu sei