Alonzo
O quarto de hospital cheira a remédio e solidão. É estranho como o silêncio aqui parece sempre mais alto. O bip dos aparelhos, o perfume distante de álcool e desinfetante, a claridade fria vinda da janela. Tudo isso vai criando um cenário onde até o simples ato de respirar parece cansativo demais.
Eu olho para o teto, sem realmente ver. Tem dias que eu acordo esperando que ela venha. Outros, eu só acordo.
A porta se abre. O médico entra com uma prancheta nas mãos e uma expressão cansada, mas firme.
— Bom dia, senhor Karvell.
Não respondo. Só viro o rosto para ele. Ele suspira e diz, como quem já repetiu aquilo muitas vezes:
— Se continuar se recusando a comer, o corpo vai começar a desligar. O senhor está sendo tratado de uma droga que causou uma alergia severa. Os parâmetros cardíacos oscilaram e seus rins começaram a dar sinais de sobrecarga. Precisa se alimentar para vencer isso. Para receber alta com a saúde pelo menos 90% melhor.
Eu rio, sem humor.
— Já desligou, doutor.
E