Antonella
A estrada parecia uma linha silenciosa entre o que eu fui com Alonzo… e o que eu poderia ser com ele agora. Três horas de viagem até um chalé escondido entre montanhas, neve leve, árvores altas, e um marido que, pela primeira vez, me observava sem invadir.
Ele dirigia com uma paz desconfiada. Mão firme no volante, olhar atento à estrada, mas com aquele jeito de quem sabe exatamente onde meu joelho está, onde minha respiração muda, onde meu olhar tenta fugir do dele. Eu sabia que ele sentia tudo aquilo. Sempre sentiu, só não dizia.
— Acha que vai sobreviver três dias longe da empresa? — perguntei.
Ele sorriu fraco, mas verdadeiro.
— O medo não é a distância da empresa.
— Então é do quê?
Ele me olhou, sem pressa. E respondeu como nunca respondeu antes.
— O medo é de você perceber como é fácil viver sem mim.
Engoli em seco. As palavras não tinham raiva, nem pressão. Só verdade. E a verdade às vezes dói mais do que qualquer discussão. A minha verdade é que não é nada fácil vive