Alonzo
A luz entrou pelas frestas da cortina como um lembrete de que algo iria me destruir. Não foi a luz que me acordou. Foi a dor. A cabeça latejava. A boca estava seca. O cheiro de álcool ainda estava no ar, misturado com perfume feminino e algo que eu não queria identificar.
Abri os olhos devagar. Demorei dois segundos para entender onde eu estava. Não no meu quarto. O lençol revirado. O travesseiro no chão. O abajur torto. Virei o rosto para a esquerda e o mundo parou.
Antonella dormia ao meu lado. O corpo coberto apenas pelo lençol, puxado até a metade do peito. A pele do pescoço tinha marcas vermelhas. Havia roxos nos ombros. Marcas de dedos nos braços. As unhas dela, curtas, tinham uma linha de pele arranhada que eu reconheci como minha. O estômago virou.
— Não… — saiu sem voz.
Tentei sentar e o quarto girou. Suor frio na testa. Pressionei as têmporas com as pontas dos dedos. A memória veio como cenas soltas, todas erradas. O meu quarto. A garrafa. O quarto dela. A porta dela.