Axel

Eu sempre fui o amigo pobre do rico. Parece engraçado dizer assim, e talvez seja mesmo. Mas é a forma mais honesta que encontrei pra resumir minha vida antes dos meus dezoito anos.

Minha mãe era costureira. Trabalhava de manhã até de noite, e às vezes virava madrugadas com uma lâmpada velha costurando vestidos de festa que ganhavam elogios em casamentos chiques de gente rica. Só que quase ninguém sabia que aqueles vestidos tinham sido costurados por mãos cansadas, inchadas, que muitas vezes tremiam de tanto esforço.

Ela era mãe solteira, e eu… eu era só um moleque tentando ser menos um peso pra vida dela.

Nossa geladeira já ficou vazia mais vezes do que posso contar. Por muitos anos, fomos a família que recebia doações na igreja, e não a que ajudava. Tinha dia que o pão era dividido em três: metade pra mim, metade pra minha mãe… e uma parcela imaginária pro que a gente chamava de esperança.

E foi nesse cenário que eu conheci Alonzo.

Ele aparecia com o uniforme sempre limpo, tênis