Meu colega de sala

Finalmente chega o dia de conhecer minha nova escola e eu pareço um caco de tão cansada. Não consegui dormir, mesmo trancando a porta o medo se apoderou de mim e cada segundo naquela casa pareciam horas.

Mas enfim, aqui estou eu prestes a conhecer o lugar onde vou estudar e minha mãe estar ao meu lado me deixa um pouco menos ansiosa.

- Ah Sophy, essa escola é a melhor, você sempre foi inteligente, vai amar esse lugar. - Não sabia ou não me lembrava que minha mãe é uma pessoa assim, tão positiva.

Depois de uma conversa interminável com o diretor, daquelas que são cheias de regras, metas e expectativas exageradas, finalmente fui liberada para ir até a sala onde passaria o resto do meu ano.

A partir desse momento, minha mãe já não estaria mais comigo. O diretor me acompanha por um longo corredor, silencioso e frio, até finalmente chegar a porta da minha sala de aula. Meu coração parece querer me abandonar nesse momento. Ele abre a porta e dá um olhar para a professora que entende rápido e como querendo se livrar de mim logo, me empurra para dentro da sala. 

A sala de aula é impecável, não parece uma bagunça como era na minha antiga escola. É tudo limpo e organizado. Há enormes janelas que deixa o ambiente mais iluminado e as carteiras todas muito bem enfileiradas. "Entao é assim uma escola particular...", penso.

A professora pigarreia e faz todos olharem para frente, me deixando ainda mais nervosa. 

- Alunos, temos uma nova aluna na escola. Ela vai se apresentar para vocês. - diz ela, me deixando completamente só no meio de desconhecidos. Olho para eles e congelo, nunca fui muito boa em falar em público. Desvio o olhar para ela novamente. Ela sorri como quem tenta me encorajar, mas ter que ficar na frente de umas 25 pessoas não é tão encorajador assim.

- Bom dia! Me chamo Sophia, tenho 16 anos e… - olho para ela como quem se pergunta o que devo dizer, ela apenas sorri um pouco mais. Volto a olhar para a turma que me olham indiferente - … e espero me dar bem com vocês.

Eles esperam um pouco mais, em silêncio, para ver se eu irei falar algo mais e, vendo que eu não digo mais nada, começam a fazer suas coisas de novo. Não foi tao ruim assim. Respiro aliviada.

A professora aponta para minha mesa, que é ao lado de um garoto pardo, de cabelo negro e meio ondulado, que está deitado sobre seus próprios braços em cima da mesa. Ao que parece, todos aqui se sentam em dupla.

Me sento ao seu lado, o despertando com o barulho que faz a cadeira ao ser arrastada.

Ele me olha. Seus olhos, cor marrom, parecem tão serenos e tranquilos como um tronco molhado pela chuva.

- Oi! - lhe digo, tentando ser simpática.

- Oi. - responde ele seco, e logo se vira para o outro lado, para encarar uma janela.

Estranhamente não é ruim o silêncio entre nós. Passamos todos os horários sem trocar mais nenhuma palavra, notei que ele também não fala com frequência com outras pessoas. Algumas se aproximaram de mim, tentando puxar assunto quando era troca de professores, mas evitei prolongar assunto demais para não incomodá-lo, já que parecia não gostar quando tinha muita gente por perto.

Assim que dá a hora do intervalo, ele sai. Permaneço no meu lugar já que não conheço ninguém e não quero dar de cara com Pedro por aí.

- Oie! - ouço uma voz delicada falar, olho em sua direção, é uma garota baixinha de óculos e cabelos ruivos - Como você se chama? Eu sou a Diana.

Ela se senta ao meu lado.

- Oi! Me chamo Sophia.

Começamos a conversar sobre algumas coisas e pergunto a ela sobre o garoto que senta ao meu lado. Ela ri, achando graça.

- Ele se chama Rafael. A maioria das meninas da nossa sala é apaixonada por ele, mas ele tem namorada já e não dá nem bola para elas.

Faço uma cara de decepcionada que faz ela rir ainda mais ao ver, como quem vê algo realmente engraçado.

- Ele pode parecer ríspido de início, mas é legal. Não posso dizer que sou amiga dele, mas a gente conversa, às vezes. É só não passar do limite que vocês podem se dar bem. Ele odeia quem dá em cima dele.

- Ok. Anotado! - digo a ela, não que eu fosse dar em cima dele de qualquer maneira.

O sinal toca e aos poucos todos vão retornando. Diana volta para o seu lugar.

Rafael logo chega e se senta novamente ao meu lado. Dessa vez não tento conversa, primeiro, porque é até melhor assim, segundo, que, aparentemente, eu já fiz uma nova amiga.

As aulas foi passando e vez ou outra minha atenção era desviada pelos movimentos do lápis de Rafael, sempre rabiscando e desenhando algo.

Até que me dou conta de que todos aqueles rabiscos formam o desenho de uma garota. Mesmo com vários traços meio bagunçado, da para ver alguns detalhes. Suaves ondas que caem pelo rosto dela, os olhos que mesmo a grafite passa uma sensação de pureza e elegância, os lábios carnudos em um leve sorriso. Que linda! “Seria essa sua namorada?”, me pego pensando.

Ele olha para mim, como quem é pego desprevenido e rapidamente fecha seu caderno, constrangido.

Me sinto levemente culpada.

- Está lindo… - digo a ele, como maneira de tentar me redimir - Acho que é o desenho mais lindo que já vi de alguém.

Ele me olha surpreso, mas ainda meio constrangido e incomodado.

- Enfim… desculpa! - digo a ele sem saber mais o que dizer.

Então, pela segunda vez, escuto sua voz.

- Você não tem que pedir desculpa… fui eu quem estava desenhando por aqui.

Sua voz é suave, mas grave ao mesmo tempo. Ele me olha intensamente, mas não de um jeito ruim.

- Ok. - digo sorrindo, timidamente.

Não falamos mais nada, mas, vez ou outra, me pegava olhando para ele. Seus braços são fortes e com algumas veias saltando. Seus cabelos parecem dançar quando b**e um vento, castanhos escuros, assim como seus olhos, e levemente ondulado. Sua mandíbula é marcada no nível certo, seu nariz reto combina perfeitamente com todo o rosto. E aqueles lábios… já havia esquecido que tentava ser discreta, dessa vez encaro seus lábios de forma muito clara. É estranhamente bonito como seu lábio de baixo é mais cheio que o de cima.

Ele se vira para mim e dessa vez quem fica constrangida sou eu.

- Tem alguma coisa no meu rosto? - pergunta ele, um pouco irritado.

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