Finalmente chegou o dia de conhecer minha nova escola e eu parecia um caco de tão cansada. Não consegui dormir, mesmo trancando a porta o medo se apoderou de mim e cada segundo naquela casa pareciam horas.
Mas enfim, aqui estou eu prestes a conhecer o lugar onde vou estudar e minha mãe estar ao meu lado me deixa um pouco menos ansiosa. - Ah Sophy, essa escola é a melhor, você sempre foi inteligente, vai amar esse lugar. - Não sabia ou não me lembrava que minha mãe é uma pessoa assim, tão positiva. Depois de longas conversas com o diretor sobre como funciona a escola e sobre como eu teria que me esforçar para me encaixar nos padrões elevados daqui, finalmente pude ir a minha sala e me apresentar. A professora sorriu como quem queria me encorajar, mas ter que ficar enfrente a umas 25 pessoas, não é tão encorajador assim. - Bom dia! Me chamo Sophia, tenho 16 anos e… - olhei para ela como quem se pergunta o que devo dizer, ela apenas sorriu um pouco mais. Voltei a olhar para a turma que me olham indiferente - … e espero me dar bem com vocês. Eles esperaram um pouco mais em silêncio para ver se eu falaria algo e vendo que eu não disse mais nada começaram a fazer suas coisas. A professora aponta para minha mesa que era ao lado de um garoto pardo, cabelo negros meio ondulado cujo estava deitado sobre seus próprios braços em cima da mesa. Ao que parece, todos aqui se sentam em dupla. Me sento ao seu lado o despertando com o barulho que faz a cadeira ao se arrastar. Ele me olha. Seus olhos cor marrom parecem tão serenos e tranquilos, como um tronco molhado pela chuva. - Oi! - lhe digo tentando ser simpática. - Oi. - responde ele seco e logo se virando para o outro lado, para encarar uma janela. Estranhamente não era ruim o silêncio entre nós. Passamos todos os horários sem trocar mais nenhuma palavra, notei que ele também não fala com frequência com outras pessoas. Algumas se aproximaram de mim tentando puxar assunto quando era troca de professores, mas evitei prolongar assunto demais para não incomoda-lo, já que parecia não gostar quando tinha muita gente por perto. Assim que deu a hora do intervalo, ele saiu. Permaneço no meu lugar já que não conheço ninguém e não quero dar de cara com Pedro por aí. - Oie! - ouço uma voz delicada falar, olho em sua direção, é uma garota baixinha de óculos e cabelos ruivos. - como você se chama? Eu sou a Diana. Ela se senta ao meu lado. - Oi! Me chamo Sophia. Começamos a conversar sobre algumas coisas e pergunto a ela sobre o garoto que senta a meu lado. Ela ri achando graça. - Ele se chama Rafael. A maioria das meninas da nossa sala é apaixonada por ele, mas ele tem namorada já e não dá nem bola para elas. Faço uma cara de decepcionada que faz ela rir ainda mais ao ver, como quem vê algo realmente engraçado. - Ele pode parecer ríspido de início, mas é legal. Não posso dizer que sou amiga dele, mas a gente conversa as vezes. É só não passar do limite que vocês podem se dar bem. Ele odeia quem dá em cima dele. - Ok. Anotado! - disse a ela, não que eu fosse dar em cima dele de qualquer maneira. O sinal toca e aos poucos todos vão retornando. Diana volta para o seu lugar. Rafael logo chega e se senta novamente ao meu lado. Dessa vez não tento conversa, primeiro porque é até melhor assim, segundo que aparentemente eu já fiz uma nova amiga. As aulas foi passando e vez ou outra minha atenção era desviada pelos movimentos do lápis de Rafael, sempre rabiscando e desenhando algo. Até que me dou conta de que todos aqueles rabiscos formam o desenho de uma garota. Mesmo com vários traços meio bagunçado, da para ver alguns detalhes. Suaves ondas que caem pelo rosto dela, os olhos que mesmo a grafite passa uma sensação de pureza e elegância, os lábios carnudos em um leve sorriso. Que linda! “Seria essa sua namorada?” Me pego pensando. Ele olha para mim, como quem é pego desprevenido e rapidamente fecha seu caderno, constrangido. Me sinto levemente culpada. - Está lindo… - digo a ele como maneira de tentar me redimir - acho que é o desenho mais lindo que já vi de alguém. Ele me olha surpreso, mas ainda meio constrangido e incomodado. - Enfim… desculpa! - digo a ele sem saber mais o que dizer. Então, pela segunda vez, escuto sua voz. - Você não tem que pedir desculpa… foi eu quem estava desenhando por aqui. Sua voz é suave, mas grave ao mesmo tempo. Ele me olha intensamente, mas não de um jeito ruim. - Ok. - digo sorrindo timidamente. Não falamos mais nada, mas vez ou outro me pegava olhando para ele. Seus braços são fortes e com algumas veias saltando. Seus cabelos parecem dançar quando b**e um vento, castanhos escuros assim como seus olhos, e levemente ondulado. Sua mandíbula é marcada no nível certo, seu nariz reto combina perfeitamente com todo o rosto. E aqueles lábios… já havia esquecido que tentava ser discreta, dessa vez encarava seus lábios de forma muito clara. Seus lábios de baixo são mais cheios que o de cima. Ele se vira para mim e dessa vez quem fica constrangida sou eu. - Tem alguma coisa no meu rosto? - perguntou ele um pouco irritado.Sinto meu rosto queimar de tanta vergonha, mas se tem uma coisa em que eu sou boa, isso é improvisar. - Você está sujo de caneta aqui. - menti, apontando para perto da minha boca, o fazendo automaticamente passar sua mão no lugar que eu indiquei, porém em seu rosto, tentando se limpar. Vejo suas bochechas se corarem levemente contra sua pele parda, o que o faz parecer até meio fofo. Solto um riso baixo sem querer. Ele me olha atônito. - O que te causa tanta graça? - ele perguntou se recompondo. - Você! - falei sem hesitar e sorri ainda mais. Rafael fica sem palavras, surpreso pela minha resposta inimaginável. E eu gosto disso. Ele continua me olhando fixamente nos olhos. “ O que será que ele está pensando?” Esse tipo de pensamento brota em minha cabeça, porém ele é um livro difícil de ler. Ao contrário dele, imagino que eu seja um livro aberto que ele consegue entender perfeitamente. Nunca fui do tipo misteriosa. - Posso te dar uma foto minha se você quiser! - digo a ele o fa
Ela me fuzila com o olhar. - Por um acaso você está falando de mim?! - seu tom fica mais alto e estridente. - Ué! Se a carapuça serviu…. Pedro ri alto, fazendo tanto eu quanto ela se virar em sua direção. - Agora entendo a preocupação da sua mãe, irmãzinha. - diz ele sem desviar o olhar da estrada. - Você parece ser horrível fazendo amizade. Reviro os olhos e me acalmo um pouco, mas logo respondo: - É que eu escolho bem minhas amizades. - Cruzei os braços e evitei olhar para ela. “É melhor ter qualidade do que quantidade, mas acho que essas pessoas populares não entendem muito isso.” Pensei. A garota bufou ao meu lado. - Não é como se eu fosse ser sua amiga mesmo. - ela passou a mão em seus ombros, deslizando suas mechas loiras para trás. - E eu nem quero. - respondi, espelhando seus movimentos. Me viro para a janela do carro e sinto um olhar sobre mim. É Rafael me olhando pelo retrovisor externo do carro. Nossos olhos se encontraram, mas logo ele desvio
Virou certo costume Pedro me levar juntos com seus amigos a escola. O que me fazia ficar irritada logo cedo e quem não ficaria ao ver uma garota com cara de emburrada para mim sempre que nós vemos e Pedro com as provocações dele sempre que está sozinho comigo. Aliás, descobri que ela se chama Anna. Um nome tão bonito, para uma pessoa tão bonita, mas tão megera como ela. Acho que não combina. Rafael trocava algumas palavras comigo durante a aula apenas, mas não quando estávamos com eles. A sala está tão silenciosa que o único ruído que se escuta é o ranger do giz de cera no quadro negro. Com pouco tempo aqui, percebi que o professor de história adora escrever e ele escreve e escreve e não para mais. A mão chega a doer. Em um momento impulsivo bato minha cabeça no livro em cima da minha mesa como forma de tentar me acordar. “Mas um minuto dessa tortura e eu durmo!” Pensei, ainda com a cabeça sobre os livros. Escuto uma risada baixa ao meu lado e me viro em sua direção. É
“Me sinto culpado em querer saber” essa frase deu voltas e voltas o dia todo pela minha cabeça, me deixando confusa. Só o vi por 5 dias e já sinto coisas que nunca senti antes, nem sei explicar o que é, mas de certa forma me sinto culpada também. - Por que ele tem que ter namorada? - me pergunto atirando um urso de pelúcia no teto e ao cair, o uso para tapar minha boca e solto um grito que estava entalado em minha garganta. Sempre odiei pessoas que traem ou que sabendo que o outro namora, o faz trair. Para mim, ambos são igualmente culpados, sujos e desprezíveis. Então não consigo entender porque Rafael me chama tanta atenção assim. Eu nem mesmo aceitava ser amiga de homens que namoram, então por que sinto tanta vontade de estar perto dele? Deslizo meus braços pela cama de casal do meu quarto, enquanto encaro fixamente o teto imaginando o rosto do meu vizinho de mesa. - Como posso descrever o que sinto? - me pergunto a mim mesma ainda olhando para o teto. De alguma for
Me desperto novamente me sentindo mais descansada e ainda sem abrir os olhos, deslizo minhas mãos pela minha cama. Me lembro de Pedro dormindo ao meu lado e abro meus olhos rapidamente o procurando, mas ele já não está mais aqui. Respiro aliviada, apesar de um pouco surpresa. Olho ao meu redor procurando algo que ele possa ter deixado, mas não há nada. Nenhuma carta. Nenhuma mensagem. Nada. Me estiro na cama e faço o que sei fazer de melhor. Olhar para o nada e pensar em tudo. Observo meu teto enquanto pensamentos sobre meus antigos amigos surgem em minha cabeça. “O que será que eles estão fazendo agora?” Penso e logo desvio o olhar para a porta que dá a sacada, observando o dia lindo que parece estar lá fora. Quase todo sábado meus amigos e eu costumávamos ir de bicicleta até a cachoeira da cidade. As vezes ela estava cheia de pessoas e as vezes era só nós e mais algum outro grupo. “Será que eles estão lá? O dia está perfeito para algo assim!” Assim que o pensamento desapar
Pedro aproveitou que mais uma vez os adultos da casa estarão fora e chamou seus amigos para uma resenha. Os três estão na piscina aproveitando o calor da água durante a noite. Rindo, se divertindo, como parecem fazer sempre. Os observo da sacada sem ser vista. A dinâmica entre eles é de certa forma interessante. “Como pode Pedro ter tanta química com a namorada do seu melhor amigo? Eu consigo notar daqui, será que Rafael não vê isso?” penso analisando eles. Rafael está sentado na beira da piscina com uma lata de cerveja na mão, enquanto Anna e Pedro brincam um com o outro no meio dela. Ela tem um corpo de dar inveja. Barriga sequinha, muito peito e muita bunda, apesar do tamanho diminuto. - Por acaso seria eu a vilã da história? - pergunto a mim mesma ao imaginar como o mundo é injusto. Apesar de ser alta, eu não sou corpuda. Ao que parece eu cresci para cima, mas meus peitos e minha bunda esqueceram que também deveriam crescer. - Pelo menos eu tenho uma bela cintura! - elogio
Rafael solta uma risada sincera ao escutar o que eu disse ao Pedro. - Eu não sei por que você se sentiu tão ofendida… - Pedro cutuca a ponta do meu nariz de novo - Eu não disse que você é feia! Já cansada deles, saio da piscina. Afinal, já me sentia um pouco tonta pela bebida. Ignoro todos os comentários dos 3 e caminho em direção a cozinha. “Preciso de um copo de água!” Penso notando a visão um pouco borrosa. “Como poderia ele olhar para mim quando sua namorada é tão melhor que eu? Ela é baixinha, tem corpão, cabelos longos e é loira. Parece o combo perfeito para a maioria dos homens. Idiotas!” Me queixo em pensamentos. Encho um copo de água e me sento na cadeira, apoiando ele na mesa, sem me preocupar em acender a luz do ambiente. - Aí minha cabeça.. - coloco minha mão sobre minha testa fazendo movimentos circulares com dois dedos meus. Escuto passos em minha direção, mas não desvio o olhar do meu copo. - Que foi? Já está bêbeda com 3 latas de cerveja? - é Pedro.
Nunca chorei tanto em minha vida como chorei ontem. Acordei com os olhos todos inchados pela humilhação que passei. Não senti vontade de me levantar para aproveitar o domingo assim que fiquei grande parte do dia no meu quarto. Hora jogada na cama, hora sentada lendo algo na minha mesa de estudos. Se tem uma coisa que amo ler, são histórias de romance. - Nunca entendi porque as pessoas aceitam ser humilhadas por quem mais amam - falei a mim mesma ao ler outra história de romance desse tipo - Não há dinheiro nesse mundo que me faça aceitar tamanha humilhação desse jeito. Deixo o livro de lado e me jogo em minha cama. “Só estou passando por esse tipo de situação porque ainda não posso viver como adulta, mas pelo menos não amo o Pedro.” Pensei comigo ao me comparar com as protagonistas das histórias que leio, me sentindo orgulhosa por estar um pouco melhor que elas, pelo menos. - As vezes a gente acha que não existem pessoas que aceitaria isso, mas pelo visto existem sim… R