Meia hora antes.
A luz fria da sala de emergência raspava a pele de Ângela. Ela abriu os olhos com um sobressalto, o mundo girando em volta como se estivesse submersa: o cheiro metálico do hospital, o zumbido suave dos monitores, a toalha amassada sob a cabeça. A mão procurou a barriga por impulso, como se quisesse segurá-la contra o peito. Um soluço escapou, e ela apertou os dedos contra o tecido do vestido, a boca seca, ao se lembrar vagamente do que tinha acontecido e como Lúcios tinha sido covarde, sem nem mesmo conversarem antes.
— Desgraçado… como teve coragem — balbuciou, a voz um fio. — Como ele pode apenas decidir algo sem me ouvir ou se importar com o que penso?
O riso veio ao lado, inesperado, seco e, ao mesmo tempo, terno, deixando Ângela sem reação.
Ela virou a cabeça e encontrou Kellen ali, encostada na moldura da porta, como se fosse uma sombra pequena e firme.
O rosto de Kellen estava calmo, não a calma de quem não sente nada, mas a calma de quem fez o que precisava e