Cap. 61

Cap. 61

A porta da mansão rangeu baixo quando eu entrei, as costas curvadas como se carregasse o peso de mil dias sem descanso.

O vento frio da madrugada entrou junto comigo, espalhando pelas escadas um cheiro de hospital e de chuva. Eu tinha ficado longe até aquela hora e ninguém sabia o que eu tinha feito.

No andar de cima, Abigail estava sentada na poltrona do corredor, meio encolhida num cobertor, enquanto Júnior observava o monitor cardíaco ao lado da cama do Lúcios. O barulho ritmado era tudo que preenchia aquele quarto — uma batida fraca, tão fraca que parecia zombar de quem ainda esperava um milagre.

Quando cruzei a soleira, Júnior me olhou com um misto de piedade e preocupação. Ele se levantou devagar, passou as mãos pelos meus ombros tensos, mas não encontrou palavras. Não havia mais o que dizer.

Respirei fundo, tirei o casaco molhado e pendurei na cadeira. Meus olhos, fundos de tanto chorar sem chorar, foram até Valerius, que se aproximava com passos pesados.

— Isso vai ser
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