como é bom te ver, Henry.

Enquanto encarava os meus saltos pretos sujos de lama, a raiva só crescia. O barro agora seco, estragou um dos meus saltos preferidos. Eu duvidava muito de que ia conseguir deixar ele tão limpo quanto foi um dia. O barro grudado na barra da calça, começaram a desmanchar e a cair no chão conforme eu ia andando até a sala de Ben Cooper.

Como um furacão, como uma tempestade sem aviso prévio eu entrei na sala sem bater. Ben Cooper teve a ousadia de erguer a cabeça, me olhar por um segundo e voltar sua atenção para o computador. Como se eu não existisse, como se eu não tivesse importância.

E isso me irritou ainda mais.

Fui em direção a mesa e joguei a pasta com os documentos em cima da mesa dele. O objeto escorregou e acabou caindo no chão, abrindo e espalhando os papéis.

O homem olhou para a bagunça no chão e ergueu o rosto, me olhando de forma cética e arrogante.

─ O que significa isso?  ─ Perguntou.

Eu forcei uma risada curta.

─ Você me enviou para lá de propósito, não tinha necessidade de eu ir e você sabe disso! ─ Eu quase gritei.

Mas Ben Cooper não se abalou com a minha crise.

─ Você é minha secretária e eu te enviei para fazer um trabalho. O que tem de errado?

Eu respirei fundo.

─ Foi para isso que me contratou? Achou que eu ia vim, que você ia me mandar para um lugar cheio de lama e eu ia voltar te pedindo desculpas pelo o que falei ontem? ─ Fui até a mesa, apoiando minhas mãos nela e me inclinando para a frente. ─ Pois saiba que agora eu só tenho a certeza de que estava completamente certa. Não vou me desculpar por te falar umas verdades que, aparentemente, todo mundo concorda, apenas tem medo de dizer. Mas eu, eu não tenho medo de você.

Ficamos nos encarando. Ele estava com raiva, tinha fúria nos olhos dele embora tentasse não demonstrar.

Eu me afastei, finalmente me sentindo em paz como se tivesse tirado um caroço da garganta, pude voltar para o meu tom habitual.

─ Como o senhor pode ver, eu estou com os pés e roupa cheios de lama por conta de um serviço no trabalho. Por esse motivo, sairei mais cedo hoje. Foi um ótimo primeiro dia, Sr Cooper.

Sai da sala imediatamente, quase correndo. Ignorando a ira dele que queimava as minhas costas.

   ____________●●●___________

No dia seguinte o meu coração batia tão forte que eu estava com medo de ter um ataque cardíaco. Enquanto andava em direção ao elevador, me perguntava se hoje seria meu último dia. No calor do momento fui grosseira com o Sr. Cooper e ainda me dei a liberdade de sair mais cedo. Eu estava ferrada. Ele iria me massacrar assim que me visse.

─ Segura o elevador! ─ Eu gritei ao perceber as portas se fechando.

Para a minha sorte, o homem que havia acabado de entrar pôs a mão, impedindo que as portas se fechassem. Eu corri até ele, agradecendo infinitamente.

─ Você é a nova secretária do Ben, não é? ─ Ele perguntou.

Confirmei com a cabeça antes de dizer em palavras.

─ Sou sim. E você ?

Ele sorriu. O homem alto e moreno tinha uma barba desenhando o seu rosto e trazendo charme.

─  Sou Thomas Jordan. Sócio e amigo do Ben, prazer. ─  Ele esticou a mão para mim.

Eu apertei; surpresa.

─ Aquele cara consegue ter amigos? Impressionante.

─  Ele é difícil no começo, mas vai ficar melhor. Você verá.

Neguei com a cabeça.

─  Não vou não. Tenho certeza que ele vai me demitir hoje.

─  Por que?

─ Ontem ele aprontou uma comigo, eu fiquei com raiva e falei algumas coisas para ele, e ainda me dei o direito de sair mais cedo.

Ele sorriu.

─  Eu fiquei sabendo ontem sobre a secretária do Ben chegar na empresa com os pés cheios de lama. Tem algo a ver com isso, por acaso? ─  Ele estava rindo.

Eu apertei os olhos com força. Quis morrer! Aquilo não podia ser verdade, quanta gente fofoqueira!

Eu confirmei com a cabeça, envergonhada.

─  Não se preocupe. Ben não vai demiti-la.

─ Como tem certeza?

─  Demitir você seria admitir que ele cometeu um erro ao querer contrata-la. E Ben Cooper não comete erros. Tenho certeza que ele tem até reação alérgica.

Eu ri com ele.

─ Você o conhece tão bem assim?  ─ Perguntei.

─ Desde a faculdade.

As portas se abriram e Thomas saiu no segundo andar.

─ Boa sorte. ─ desejou enquanto ia pelo corredor.

Na sala do Ben, após deixar o café em cima da mesa, eu apertava o termômetro na mão, tentando decidir se passaria ou não por essa humilhação. A resposta surgiu logo em seguida na minha cabeça: Não!

Se Thomas, o amigo dele, estiver certo, então Ben não vai me demitir por puro ego. Nesse caso eu tenho duas opções. Uma: Vou me comportar e fazer o possível para termos uma boa convivência. Dois... Vou perturbar o juízo dele tal como merece.

E é óbvio que eu escolho a segunda opção.

Decidida eu sai da sala, jogando o termômetro em uma das gavetas da minha mesa.

O loiro elegante chegou minutos depois. Como se estivesse com pressa, ele falava no celular quando passou pela minha mesa, indo em direção a sua porta. Nem uma olhada para o lado, ou sequer um bom dia.

Ben Cooper... Você está tão ferrado comigo.

Ele abriu a porta do seu escritório, mas antes de entrar, deu meia volta e veio até mim. Me coloquei de pé imediatamente.

─ Conta 10 minutos e venha até a minha sala. ─ Já estava de costas outra vez antes mesmo de completar a exigência. 

Eu respirei fundo. Não tive a oportunidade de responder, então voltei a focar no meu trabalho no computador.

Não precisei contar 10 minutos. Na verdade, creio que não se passou nem cinco. Um Ben Cooper muito irritado apareceu na porta, já não estava mais no telefone e segurava com força o copo de café.

Céus... Que não seja o que eu estou pensando.

─ O que significa isso? ─ Ele tentava controlar o tom de voz.

Usando uma força excessiva, colocou o copo em cima da mesa.

─ Imagino que seja o café que o senhor exige toda manhã.

Aqui a minha coragem já tinha ido embora. A presença dele era esmagadora nesse momento, parecia que ele iria me jogar pela janela assim que tivesse a oportunidade.

─ Isso está... ─ Ele fez uma pausa abrupta, fechando os olhos com força. Quando voltou a me olhar, até parecia outra pessoa, estava escondendo a sua raiva. ─ Esse café está frio, Anahi Lopez.

Mesmo estando em um confronto, por um segundo eu me dei conta de que essa era a primeira vez que ele pronunciava o meu nome. E mesmo que não fosse a minha intenção, não pude deixar de notar como a sua voz grossa soava sexy enquanto falava o meu nome.

E isso me trouxe de volta para o meu outro estado de espírito. Eu não tinha medo dele e sua arrogância não me assustava.

Fingindo costume eu assenti com a cabeça. Ignorando seus olhos que me fuzilavam eu peguei o café, retirei a tampa e tomei um gole.

Levei um longo minuto fingindo estar apreciando o sabor e temperatura. Ben me olhava com surpresa e descrença.

─ Parece estar ótimo para mim. ─ Respondi colocando o café na frente dele outra vez.

O homem alto respirou fundo e pesado, passando uma mão no rosto demonstrando impaciência.

─ O café está abaixo da temperatura exigida, Anahi.

Eu respirei fundo, demonstrando impaciência também.

─ Senhor Cooper. Graças a sua insônia, o senhor passou a noite me enviando, trabalhos, arquivos e revisão. Então eu tenho muita coisa para fazer hoje. Se o senhor acha que o seu café está abaixo da temperatura que o senhor julga ideal, então sugiro que o senhor vá buscar um novo. Eu não tenho tempo para ficar desfilando pela empresa e cafeteria.

Suas sobrancelhas grossas estavam erguidas e a descrença estava estapada na cara dele. Não só isso, o ódio estava ainda maior.

Serio? Ninguém nunca mandou ele ir buscar o próprio café antes? Tá explicado porquê ele é desse jeito.

─ Você é a minha secretária. Fazer o que eu mando faz parte do serviço. ─ Ele está me ameaçando?

Juntei as minhas mãos em baixo do queixo antes de lhe responder:

─ Está livre para me demitir se acha que cometeu um erro ao me contratar.

Ele balançou a cabeça, ainda desacreditado. Coçou a barba por fazer e me deu as costas voltando para a sua sala.

O café ficou na minha mesa.

Passei o resto da manhã sem ver ele. Diferente do dia anterior, não me fez nenhuma exigência. Perto do horário de almoço, ele finalmente saiu da sala, e parecia desgostoso em ter que falar comigo.

─ Quando voltar, marca uma reunião com o Ian Patterson. Ou você não pode fazer isso também?

Eu segurei um sorriso.

─ Claro que posso senhor, é o meu trabalho. ─ Respondi já anotando em um papel para não esquecer quando voltasse.

Ben se virou e saiu. Finalmente pude acabar sorrindo sozinha.

:Foi uma ótima manhã, Anahi. Parabéns. Tenho certeza que ele teria esmagado a sua cabeça se pudesse.

Minutos depois eu arrumava a minha bolsa para poder descer, foi quando escutei uma voz familiar.

─ Com licença, Ben Cooper está?

Aquela voz mansa e aveludada me teletransportou para anos atrás, para o ensino médio. Eu não precisei olhar para ter certeza de que se tratava dele.

─ Henry? ─ Perguntei, encarando o homem.

Sim. Um homem. Incrível como quatro anos fizeram diferença, de um adolescente magro para um homem feito. Ele não tinha barba, o rosto ainda era tão liso quanto no ensino médio, mas ele ainda era bonito.

─ Não brinca, Anahi? ─ Nesse momento ele já estava dando a volta na mesa para me abraçar.

─ Faz tanto tempo que eu não o vejo. O que está fazendo aqui? ─ Eu perguntei com minha voz sendo abafada pelo peito dele.

Ele me apertou um pouco mais e se afastou.

─ Eu trabalho aqui. Você é a secretária nova do Ben?

Eu confirmei com um balanço de cabeça.

─ Sim. Eu comecei ontem. Aliás, ele já foi almoçar.

Ele pareceu refletir.

─ Caramba eu sinto muito por você, aturar o meu tio não é para qualquer um.

Eu levantei as sobrancelhas em surpresa. Não, não é possível que o meu amigo da escola é sobrinho de Ben Cooper.

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