Foi de propósito!

Durante a manhã eu caprichei para estar apresentável. Meus cabelos loiros ficaram soltos, usei uma calça preta, um corset, um blazer e saltos altos. Eu iria me esforçar para estar o mais apresentável possível todos os dias, não ia deixar ele me colocar no automático como fez com a Melissa. Cada dia eu estaria mais linda e ele seria obrigado a conviver com isso.

Desci as escadas com cuidado, o salto fazia barulho à cada degrau. Na sala de jantar, simples porém muito bonita, minha avó havia preparado um banquete para o café da manhã. Ela fazia isso apenas em datas especiais, eu havia me esquecido de alguma coisa? Quase congelei.

─ Eu perdi alguma data especial, vovó? ─ Perguntei me sentando na mesa.

Ela balançou a cabeça enquanto colocava uma cesta de pão junto com as outras coisas na mesa.

─ Não, não. Agora que você vai trabalhar com o mesmo chefe do Mike, terá que tomar um café reforçado todos os dias, não quero ele te estressando como faz com o jovem Mike. Mike perde a cabeça fácil porque não come direito. Chama ele, minha filha, peça para ele vim tomar café com você todos os dias a partir de hoje, alimentados vocês ficarão mais fortes.

Ela se sentou na cadeira enquanto falava e eu sorri. Não ia contrariar ela agora.

─ Pode deixar, vovó. Chamarei o Mike para se preparar para a guerra junto comigo.

Tive que pegar dois ônibus para chegar na empresa. Não só isso, tive que parar na cafeteria ao lado para comprar café para Ben Cooper. Aparentemente, ele gosta do café puro e quente daqui, logo pela manhã. Fala sério, ele não toma café em casa? Por quê isso tem que ser obrigação minha? E que mania é essa de querer controlar até a temperatura do café? O que eu devo fazer caso esteja mais frio? Pôr no micro-ondas?

Entrei na empresa tranquilamente, era meu primeiro dia, ia ser maravilhoso. Por um grande milagre eu consegui essa vaga, tenho que fazer tudo direito para poder mantê-la. Pelo menos até terminar a faculdade.

─ Garota! ─ Mike me alcançou enquanto eu caminhava até o elevador.─ Fiquei todo arrepiado quando me contou que conseguiu o emprego! ─ Ele me mostrou o braço. ─ Isso só pode ser uma benção divina, deve ser o seu propósito!

Ele estava realmente empolgado.

─ Ou é armação dele... ─ Falei com desconfiança.

Mike balançou a cabeça e as mãos no ar.

Um homem se aproximou de nós.

─ Aqui está as referências que me pediu, as obras do último ano estão aí. Bom dia, Srtª. ─ O homem alto e com a barba fechada, entregou um documento para Mike, e se afastou após eu responder.

Mike fez um gesto para o homem e voltou a falar comigo.

─ Ben Cooper é um homem sério e leva o trabalho muito a sério. Ele não iria contratar uma funcionária, principalmente a sua secretária, apenas para implicar com ela.

Abri a boca para rebater. Para dizer que o sorriso dele ontem, fazia muito sentido agora.

─ Srtª López. ─ Melissa apareceu atrás de mim.

Eu me virei para ela, me surpreendendo assim que a vi. Completamente diferente da mulher de ontem, agora até parecia outra. Melissa está radiando vida. Seus cabelos volumosos estavam em cachos perfeitos, suas roupas muito bem passadas e ela parecia feliz, até suas olheiras estavam menos evidentes.

E eu entendi aquilo, a resposta apareceu como quase que no mesmo instante, sem eu precisar pensar. Ela se sentia livre, ela estava livre, havia tirado um peso dos ombros. Peso esse que cairia sobre o meu.

─ Bom dia, Melissa. Pode me chamar de Anahi.

Ela assentiu com um sorriso.

─ Venha, precisa deixar o café na mesa dele antes que ele chegue.

Ela virou de costas e chamou o elevador. Apertei firme o porta café em minha mão, olhando para Mike pela última vez, sussurrei para ele me salvar. Mas o meu melhor amigo apenas me deu um tchauzinho com um sorriso debochado.

Ao chegamos no último andar, Melissa caminhou na frente indo até a sala do Sr. Cooper.

─ Anahi, eu darei alguns conselhos extras para você. Ben não é uma pessoa fácil de lidar, e imagino que você ficou tão surpresa quanto eu fiquei quando você foi escolhida. ─ Ela abriu a porta do escritório dele e entrou.

Melissa continuou falando, mas sua voz se perdeu um pouco. O escritório dele era um pouco diferente do que eu esperava. Talvez eu esperasse uma caverna, crucifixos de cabeça para baixo e coisas assim. Mas na verdade, era ampla e muito bem iluminada. Prateleiras recheadas de livros e belas obras de arte espalhadas pelo cômodo espaçoso. Sua mesa era muito bem organizada, eu diria que milimetricamente organizada.

─ Você está entendendo? ─ Melissa perguntou com insegurança.

Eu confirmei prontamente. Mesmo não tendo escutado uma só palavra desde que colocamos o pé aqui.

─ Ótimo, pode pôr apenas o copo em cima da mesa, ele já deve está chegando.

Eu fiz o que ela pediu, me aproximando da mesa lentamente, com medo de tocar em qualquer coisa. Quando voltei a parar ao lado da antiga secretária, ela estava com a mão na frente do corpo, me oferecendo um pequeno objeto.

─ O que é isso? ─ Perguntei enquanto pegava.

─ Um termômetro para você ver a temperatura do café. Considere um presente.

Minhas sobrancelhas se levantaram sozinhas, enquanto encarava a morena alta. Mas não era nenhuma piada, ela realmente estava falando sério.

Respirei fundo, me dando por vencida.

Me aproximei da mesa outra vez, retirei a tampa do copo e apontei o termômetro. 87°c.

─ Isso é bom? ─ Perguntei.

Melissa assentiu.

─ Até ele chegar vai estar nos 85°C. É essa a temperatura ideal. Até uns 83°c ele tolera.

Ela foi em direção a porta.

─ E se tiver abaixo? O que devo fazer?

─ Recomendo que você dessa correndo, compre outro café e torça para que esteja na temperatura certa quando ele chegar.

Eu quase ri, mas não podia perder o trabalho logo no primeiro dia.

─ Que exagero. Não posso apenas esquentar de novo?

Melissa se virou imediatamente. Me fazendo sentir que havia dito o pior absurdo do mundo.

─ Não faça isso, Anahi! Nunca! Nunca mesmo na sua vida. Ele surta se der café requentado para ele, diz ele que o gosto é outro e tudo mais.

Ben Cooper é mesmo um chefe insuportável. Mais dois anos e eu acabo a minha faculdade. Mas eu vou conseguir passar dois anos aqui?

Passei a manhã inteira atrás da Melissa por toda a empresa. Cooper chegou e nem olhou na minha cara. Mas ficou o tempo inteiro fazendo exigências. "Olhe isso" "me traga aquilo" "faça isso" "procure aquilo" Ia ser realmente difícil de lidar.

Durante o almoço, fui almoçar com Mike e seus colegas. Foi ótimo para eu conhecer o pessoal da empresa. Todos eram muito legais e atenciosos, e todos me davam os pêsames por estar trabalhando diretamente com Ben Cooper. Todos ali pareciam um tanto estressados por ter que trabalhar para ele, cada um tinha sua própria história com o chefe robótico.

Voltei para a empresa junto com todo mundo. Muitos ficaram no primeiro andar e eu segui para o último.

Tive tempo apenas de encostar a bunda na minha cadeira, nem sentei! E um Ben carrancudo e de poucos amigos apareceu na porta.

─ Na minha sala, agora.

Ótimo. Eu já tinha feito algo de errado?

Ele voltou para sua sala, e eu pude respirar aliviada. Era um homem muito bonito. Seus olhos claros combinavam perfeitamente com seus cabelos loiros. Mas o que ele tinha de bonito, tinha de insuportável. Eu o odiava mais do que tudo e sua beleza não livraria ele dessa.

Levantei da mesa, arrumando minha roupa e meus cabelos. Enquanto me afastava da mesa e ia em direção a cova do leão, meus saltos preto faziam barulho sobre o piso branco.

Bati na porta antes de entrar.

─ Pois não? ─ Perguntei.

Ele não olhou para mim, continuou assinando papéis.

─ Quero que você vá até uma das obras para mim.

Eu levantei uma sobrancelha.

─ Por que? ─ Foi a minha primeira reação.

Ele finalmente levantou o rosto para me olhar. Seus olhos azuis me fitavam com atenção. Eu respirei fundo, não ia ser hipnotizada pelos olhos da serpente.

─ Meu encarregado da obra precisa me mandar alguns relatórios. Velho demais para usar o e-mail, ocupado demais para passar aqui. Então você vai buscar.

Uma ordem sem espaço para dúvidas ou protesto. Era assim que ele agia. Ele estava sério e até irritado, mas por algum motivo, porque eu tinha a impressão de que ele estava se divertindo com isso?

Ergui o queixo. Observando ele levantar uma sobrancelha com a minha atitude.

─ Eu vou. Me diz o endereço, vou arrumar minhas coisas e passo lá.

________○●________

Minha cabeça fervia de ódio, eu estava com tanta raiva que estava prestes a surtar, e ele ia me escutar. Ia sim.

Desci do taxi em frente a empresa, tentando ignorar os meus saltos atolados de lama, tentando ignorar a barra da minha calça dura de tanta lama seca. Ben Cooper era um desgraçado e ele ia me pagar por isso.

Passei pela recepção como uma fera indomável, tendo consciência de que todos me olhavam assustados, mas ninguém tinha coragem de entrar na minha frente. Exceto Mike.

─ Amiga! O que aconteceu? ─ Perguntou completamente chocado.

Eu respirei fundo. Bloqueando as imagens daquele canteiro de obras cheio de barro e lama. Não era com Mike que eu queria ter essa conversa.

─ Sai da minha frente, Mike. Eu preciso conversar com o Cooper.

Os olhos castanhos de Mike se arregalaram.

─ Você está indo como um furacão conversar com o seu chefe?

─ Não. ─ Forcei um sorriso. ─ Estou indo tomar um cafezinho com ele. ─ Fui sarcástica. ─ Sai da minha frente Mike!

Vendo o meu estado, o meu bom amigo fez o que era sensato. Saiu da minha frente. Eu entrei no elevador e apertei o botão do último andar.

Antes das portas se fecharem por completo, pude ver Mike pedindo, como um último lamento, para eu pensar bem.

Mas eu não devia pensar. Ben Cooper fez de propósito. Me mandou para a obra, apenas para que eu me atolasse na lama. Foi para isso que me deu o cargo? Para se vingar do que falei dele? Bom, lamento dizer, mas ele só está provando que eu estava certa. E ele vai me escutar..

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