Eu tenho medo do mar!

─ Bom dia, mãe! ─ O homem que havia acabado de descer para o café da manhã, deu um beijo carinhoso no topo da cabeça de sua mãe enquanto passava por perto. ─ O que você tem planejado para hoje? ─ Se acomodou na cabeceira da mesa.

A mulher dos cabelos castanhos, perfeitamente lisos e curtos, abaixou a xícara de café antes de lhe responder.

─ Bom dia, meu filho. Até agora, não tenho nenhum plano para sair de casa. ─ Ela fez um biquinho com seus lábios preenchidos com botox. Ben Cooper quase sorriu. ─ Aliás, você não gostaria de almoçar com a sua querida mãe hoje? ─ Ela terminou a frase com um sorriso encantador.

Ben, com seus cabelos loiros perfeitamente penteados para atrás, sorriu enquanto servia-se com uma xícara de café preto.

─ Me desculpe, mãe. Hoje estarei ocupado. Vou visitar um cliente em uma ilha e acredito que passarei a maior parte do dia lá.

O sorriso alegre da mulher desapareceu e suas mãos, antes agitadas, caíram em decepção. Ela jogou o cabelo para trás do ombro.

─ Claro. Eu esqueci que tudo é mais importante do que a sua própria mãe: trabalho, cliente, passeios na ilha. Tudo vem antes da sua mãe, que pode morrer a qualquer momento. ─ Seus gestos, que costumavam ser exagerados, quase não tiveram efeito dessa vez.

Ela estava sendo dramática, é claro. Depois da morte de sua primogênita, sua necessidade de carinho e atenção aumentou gradativamente.

─ Não seja dramática, mãe. Eu moro com você, tomo café e janto. Está exagerando por causa de um almoço?

Ela levantou a cabeça, orgulhosa. Não daria o braço a torcer. Sua mãe sempre foi teimosa.

─ Imagino que o Henry esteja livre, mãe. Convide-o.

□□□

─ Tem algo que você não está me contando, sinto isso no ar! ─ Minha avó andava de um lado para o outro, trazendo mais comida para a mesa.

─ Não estou escondendo nada de você, sempre te conto tudo.

─ Não tente me enganar, garota. ─ Ela me interrompeu. ─ Eu troquei suas fraldas! Eu te criei.

─ Sua mãe? ─ Minha avó gargalhou. Parece que a piada foi boa. ─ Não vamos falar dela durante o café da manhã.

Mike, que aceitou meu convite para tomar café da manhã em casa, riu baixinho ao meu lado.

Ele conhecia toda a história, meu amigo de longa data, sabia de tudo que aconteceu e ainda acontece na minha vida.

Mas minha avó estava certa, eu estava escondendo algo dela. Hoje não seria um dia agradável.

Além de ter que enfrentar meu medo de andar de barco pela primeira vez, também recebi uma notificação informando que não sairia cedo. Cedo! É engraçado até pensar nisso. Uma hora antes do normal não é cedo, é o mínimo para manter minha sanidade mental. Tive que cancelar uma reunião difícil de marcar, senti como se estivesse em uma luta de boxe com a secretária do Sr. Patterson fez duas ligações. Por sorte, sou uma lutadora e venci em ambas as vezes.

— E como está a faculdade? — minha avó finalmente se sentou à mesa conosco.

— Por enquanto, está indo tudo bem.

— Quando vai nos convidar para almoçar no restaurante, vovó? - Mike parecia agitado.

Estreitei os olhos para ele.

— Não preciso convidar vocês, apareçam por lá. Aquelas meninas novas são atrapalhadas, mas ainda não derrubaram nada em ninguém.

Eu e Mike não conseguimos conter nossas risadas.

Quase uma hora depois, me encontrava sozinha em um porto. Mike me deu uma carona até lá e foi para a empresa em seguida. Ben ainda não havia chegado, então tive tempo para olhar para aquela água azul e falsamente calma.

Minhas mãos tremiam só de ver lanchas e barcos passando. Como as pessoas conseguiam confiar nisso? Eu vou matar aquele cara por me fazer passar por isso.

Tirei o cabelo do rosto. Nunca estive em um porto antes, na verdade, sempre evitei até mesmo as praias. Só de imaginar estar no meio da água, não sentir o chão, não conseguir ver o que está ao meu redor...

Fechei os olhos e respirei fundo. Eu não ia passar mal ali, não naquele lugar sujo e fedido a peixe.

Um carro parou perto de mim. Me virei a tempo de ver Ben Cooper sair de dentro dele, como um galã de cinema. Se sua personalidade não fosse uma das piores existentes, eu poderia confessar que ele era sim atraente.

— Está pronta? — Ele perguntou quando chegou perto de mim, tirando os óculos escuros.

É claro que não. Se não tivéssemos um problema, eu estaria implorando para ele me deixar ficar em terra, mas jamais iria implorar algo a Ben Cooper.

Balancei a cabeça em confirmação.

Ben não perdeu mais tempo me olhando, ele foi em direção a um homem dentro de uma lancha e eu o segui.

Caminhei em direção à lancha sem conseguir esconder meu olhar preocupado. Não consegui evitar, muito menos me tornar confiante. Meu coração está batendo mais rápido do que o normal, minhas mãos estão suando frio e estou tremendo um pouco. Eu sei que estou indo em direção ao mar, e o medo do que está por vir está começando a me consumir.

Quando cheguei perto da lancha, meu chefe arrogante já estava lá, parado, esperando por mim. Como sempre, ele parecia impaciente e irritado, provavelmente por causa da minha lerdeza, mas não vou ceder, embora minhas pernas estejam moles como gelatina, não vou demonstrar medo ou fraqueza na frente dele. Forço um sorriso falso e digo:

— Podemos ir.

Ele não respondeu, apenas assentiu e se virou antes de começar a subir a bordo da lancha. Segui cuidadosamente, tentando manter o equilíbrio ao entrar na embarcação. O cheiro de gasolina e mar invadiu minhas narinas simultaneamente, e uma onda de náusea passou pelo meu estômago.

Sentei-me no primeiro assento que encontrei, apertando os cintos de segurança com força. O piloto nos ofereceu coletes salva-vidas, agarrei um deles como se minha vida dependesse disso, e talvez dependesse mesmo.

─ Pode me ajudar a colocar? ─ Minha voz saiu trêmula.

─ Claro. ─ O piloto respondeu.

Ben sentou-se ao meu lado.

─ Você não precisa disso. ─ Sua voz soou fria. ─ É uma viagem curta.

Não me importei com o conselho inútil dele.

─ Muito obrigada. ─ Agradeci ao piloto gentilmente.

Ben começou a conversar com o piloto, mas não consegui me concentrar na conversa. Meus pensamentos estavam ocupados com o mar e a possibilidade de algo dar errado.

A lancha começou a se mover, senti a água salgada batendo no casco. Meu coração acelerou, batendo tão forte que eu podia senti-lo nas orelhas. Tentei controlar minha respiração, mas o medo estava começando a tomar conta.

A lancha acelerou e senti meu corpo sendo empurrado para trás. Puxei o ar, olhando para o horizonte, tentando encontrar algo para me concentrar, mas senti que estava começando a entrar em pânico. Apertei os olhos por um momento, tentando me acalmar, segurando firmemente o assento da cadeira.

Quando abri os olhos novamente, a lancha estava indo a toda velocidade em direção às ondas. Meu estômago revirou e tentei segurar o vômito. Não precisei olhar para o lado para saber que Ben estava entretido em uma conversa com o piloto, que o respondia animadamente, mas eu não conseguia desfrutar de nada. Minha visão começou a ficar turva.

O barulho da água batendo no casco ecoava em meus ouvidos, e manchas negras apareceram diante dos meus olhos enquanto o vento forte bagunçava meus cabelos. Desesperadamente, tentei encher os pulmões, mas parecia que o ar havia desaparecido. O mar era apenas um borrão sem foco agora.

A voz de Ben começou a desaparecer, segurei o banco com ainda mais força, mas me senti fraca.

Quanto mais tentava inspirar, mais apertada ficava minha garganta.

─ Sr. Cooper. ─ Eu o chamei, mas não tinha certeza se minha voz saiu. ─ Eu... não consigo... respirar.

Reuni minhas últimas forças para levantar meu braço e tentar tocá-lo, mas Ben já havia percebido minha aflição. Quando falou, sua voz transbordava preocupação e emoção, diferente do tom ignorante no escritório.

— Anahi? O que aconteceu? — Sua mão segurou a minha.

— Eu... não... — Forcei-me a puxar o ar.

— Abaixe a cabeça — ele ordenou, empurrando gentilmente minha cabeça entre os joelhos com sua mão livre.

O colete atrapalhava. Aquela coisa ridícula e laranja, que poderia ser minha única salvação, estava sufocando-me.

Ben se moveu, ajoelhando-se diante de mim e rapidamente desprendendo todos os fechos do colete salva-vidas.

— Não! — Segurei suas mãos, tentando impedi-lo. Eu não podia tirar aquilo.

— Anahi — ele falou calmamente, como se estivesse lidando com alguém em crise ou com uma criança. — Você precisa abaixar a cabeça para que o sangue retorne. O colete está atrapalhando seus movimentos. Vamos tirá-lo apenas por um instante, está bem? Você não vai precisar dele, eu prometo.

Deveria confiar naquele homem? No mesmo homem que passava noites me enviando trabalhos, que me tratava como ninguém e talvez não tivesse sentimentos? Não havia tempo para questionamentos agora.

Assenti, soltando suas mãos.

Imediatamente, Ben abriu o colete e curvei-me. Meu estômago revirava e as batidas do coração se misturavam ao som das ondas batendo contra a lancha. Eu não deveria ter vindo, deveria ter inventado uma desculpa.

— Você precisa respirar — sua voz grave soava aveludada e tranquila. — Não pense no mar nem no balanço da lancha. Apenas respire, concentre-se nisso.

Ben estava realmente preocupado. Será que estava com medo de um processo trabalhista? Eu poderia processá-lo por isso? Mas estou na empresa há apenas três dias.

Inspirei lentamente. Expirei lentamente. Inspirei, expirei.

Pouco a pouco, ficava mais fácil.

— Estamos quase chegando — anunciou o piloto.

— Está se sentindo melhor? — perguntou Ben.

Balancei a cabeça em confirmação.

— Ótimo, ainda não se levante. Espere até a lancha parar.

Ele levantou-se, sentando-se ao meu lado novamente, e eu mantive minha cabeça entre os joelhos.

Finalmente, a lancha começou a diminuir a velocidade, e comecei a relaxar um pouco mais, sentindo que estava acabando. Ainda estava com medo, mas pelo menos agora me sentia melhor, sabendo que estaria em segurança. A viagem terminou sem incidentes graves, mas sei que terei que enfrentar essa situação novamente no futuro.

Sr. Cooper me ajudou a sair da lancha.

Olhei ao redor, sentindo-me melhor, mas ainda esforçando minhas pernas para se manterem firmes. Finalmente chegamos ao cais com a ajuda de Ben. Ao descer, experimentei uma sensação de alívio e segurança ao pisar no chão sólido novamente. Observando o entorno, percebi que estávamos em uma ilha cercada por águas azuis cristalinas. A brisa do mar soprava suavemente, trazendo consigo o som suave das ondas quebrando na praia. Seria uma cena bela e perfeita, se minha pressão não tivesse caído minutos atrás, justamente por causa dessas ondas.

A paisagem era de tirar o fôlego, com montanhas verdes e rochosas cercando a ilha, e praias de areia branca se estendendo por toda a costa. O sol brilhava alto no céu, iluminando tudo com uma luz cálida e dourada.

Virei-me para Ben.

─ Obrigada, Ben.

Naquele momento, eu não o odiava. Na verdade, aquele homem que tanto me ajudou, que foi... atencioso... Não era o mesmo homem que eu odiava.

Ben virou o rosto e nossos olhares se encontraram. Ele olhou profundamente para mim e, naquele instante, eu me perdi.

Seus olhos eram claros e penetrantes, quase hipnotizantes, e me vi incapaz de desviar o olhar. Havia uma força magnética em seu olhar, como se ele estivesse olhando diretamente para a minha alma.

Não era o meu chefe que me contratou por puro ego, não era o meu chefe que discutiu comigo por causa de café ou que me deu ordens sem nem sequer olhar para mim.

Ben estava, pela primeira vez, me enxergando.

Senti uma onda de emoção percorrer todo o meu corpo enquanto continuava encarando-o. Havia algo mais naquele homem do que sua aparência austera e distante. Era como se eu tivesse conhecido um novo Ben, e não conseguia desviar o olhar.

─ Que bom que vocês chegaram!

Uma mulher se aproximou de nós. Eu relutava em quebrar o contato visual, mas Ben o fez sem hesitar. Se eu pudesse apostar, diria que ele deu graças a Deus por alguém ter aparecido.

Virei-me.

─ Sr. e Sra. Smith. Obrigado por nos receber. ─ Ben apertou a mão de cada um.

Era um casal. Ambos deviam ter pouco mais de 40 anos e estavam de mãos dadas. A mulher, de pele morena, sorria alegremente enquanto cumprimentava Ben de volta.

Ben pareceu se lembrar de mim e voltou-se na minha direção.

─ Essa é minha secretária, Anahi Lopez. Ela não passou muito bem durante a viagem. Poderia lhe dar um copo d'água? ─ Ele falou diretamente com a Sra. Smith.

Eu estava prestes a negar, dizendo que não precisava, mas a Sra. Smith arregalou os olhos em surpresa e preocupação.

─ Mas é claro! Vem, venha comigo, querida. ─ A mulher passou o braço pelo meu ombro e me guiou até o casarão pouco distante do cais.

Enquanto caminhávamos, pude ouvir os homens conversando animadamente atrás de mim. O Sr. Smith parecia estar compartilhando suas ideias e eles pareciam se conhecer há bastante tempo.

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