Isso não vai ficar assim

Depois de me dar água dentro da casa luxuosa, a Sra. Smith me acompanhou até o lado de fora novamente. Dessa vez, fomos para a lateral da casa, e agradeci imensamente a Ahani sonolenta que escolheu nossa roupa hoje de manhã. Felizmente, não inventei de usar salto, minha mente funciona bem mesmo quando estou com sono. Um tênis branco funciona em qualquer situação, até mesmo na areia de uma ilha.

"Uau."

Ao lado da casa, uma barraca de palha erguia-se majestosamente em meio ao cenário tropical de uma ilha particular. Com suas laterais abertas, permitia que a brisa suave do oceano adentrasse livremente, trazendo consigo os aromas frescos da exuberante vegetação ao redor. Seu telhado de palha entrelaçada fornecia uma sombra agradável e proteção contra o sol escaldante.

No centro da barraca, uma mesa rústica e charmosa estava posta com um café da manhã irresistível. Sobre a superfície de madeira polida, havia uma toalha branca. Frutas tropicais suculentas e exóticas, como abacaxis dourados e mangas maduras, eram dispostas artisticamente em uma cesta de vime. Ao lado delas, uma variedade de pães recém-assados, croissants amanteigados e geleias caseiras aguardavam para serem degustados.

Uma jarra de suco fresco exalava um aroma refrescante mesmo antes de eu chegar à barraca. Eu já havia tomado café, mas diante de uma mesa tão bonita, meu estômago roncou.

Ben e o Sr. Smith estavam sentados à mesa, conversando casualmente sobre um assunto que não tinha mais a ver com a ilha. Para um homem fechado, meu chefe conversa facilmente com qualquer pessoa, menos com seus funcionários.

— Você está se sentindo melhor? — O Sr. Smith perguntou quando eu apareci.

Confirmei com a cabeça, parando ao lado de Ben.

— Sim, obrigada. Eu tenho um pouco de medo do mar, e foi a primeira vez que tive que atravessá-lo.

Ben fez um barulho estranho ao meu lado, sutilmente dando a entender que não gostou do que contei. Ele puxou a cadeira ao seu lado, arrastando-a e fazendo certo barulho. Entendendo o recado, sentei em silêncio ao seu lado, de frente para a Sra. Smith.

— Que horror! Você não podia ficar sem vir, querida? — A Sra. Smith realmente parecia preocupada.

Eu sorri docemente, colocando o guardanapo no meu colo.

— Eu sou nova na empresa, ainda é minha primeira semana, não queria dar ao meu chefe motivos para ele pensar que não sou responsável com meus deveres.

Ao meu lado, Ben Cooper se remexeu desconfortável mais uma vez.

— Que fofa. — A mulher sorria para mim.

— Então, vamos falar sobre o projeto? — Ben tentou mudar de assunto.

— Claro, claro! — A mulher concordou. — Mas fiquem à vontade, comam o que quiserem. Você já tomou café, querida?"

— Já sim, mas foi na pressa. Tive que sair mais cedo de casa.

- Oh... Eu avisei ao Sr. Cooper que não precisava ser tão cedo, mas imagino que tenha outros compromissos importantes hoje, não é? — O Sr. Smith olhava para o homem loiro.

Ben concordou com um aceno prolongado de cabeça. Eu não o conhecia o suficiente, mas era visível que estava desconfortável. Confesso que eu estava me divertindo bastante em constrangê-lo.

Em um prato, coloquei alguns pãezinhos, do bolo e alguns pedaços de frutas. Enquanto a reunião acontecia, onde os três discutiam ideias, eu fazia as anotações, intercalando entre escrever e comer. Vira e mexe Ben me olhava sempre que eu comia, suas sobrancelhas erguidas eram uma tentativa de me censurar. Mas é a primeira vez que tomo café em uma ilha particular, nunca recuso oportunidades únicas.

Ao longo da reunião, ficou claramente evidente o motivo pelo qual o escritório de Ben era tão famoso. Ben era incrível enquanto trabalhava, era um homem confiante que sabia se posicionar, sabia expressar suas ideias e escutar seus clientes, mesmo quando não gostava das ideias deles, o homem conseguia disfarçar e contornar a situação com inteligência. Ele não era apenas um arquiteto, era um homem de negócios, um empresário, seus gestos enquanto falava eram hipnotizantes, sua voz grossa transmitindo autoridade e experiência no assunto tiravam o meu foco com frequência.

Em um momento, eu já não anotava mais nada, muito menos comia, tudo em que eu pensava era como aquele homem conseguia ser um escroto no trabalho, mas tão eficiente também.

Ben me olhava com seus olhos claros, a sobrancelha levemente erguida, esperando uma resposta para uma pergunta que eu nem sequer ouvi.

— Você anotou isso? É importante.

Quis me enterrar. Correr para o mar e deixá-lo me matar como tanto desejava. Eu não fazia a menor ideia do que eles estavam falando e isso me deixou em desespero interno! Como eu poderia explicar que estava admirando-o profissionalmente e, por isso, não o escutei falar em detalhes?

Meus olhos varreram as três pessoas naquela mesa, e os três me olhavam de volta. Eu respirei fundo, tentando lidar com o constrangimento de passar tempo demais fitando meu chefe sem o intuito profissional.

— Desculpe, Sr. Cooper, eu me distraí. — Olhei para o casal na nossa frente. — Aqui tem uns sons tão relaxantes, os pássaros e o som das ondas... Eu me distraio muito fácil...

A mulher morena com a pele bronzeada riu alto, uma gargalhada gostosa que suavizou o clima na mesa.

— Eu entendo, querida. Às vezes eu me sento aqui ou no pier apenas para relaxar. Foi por isso que compramos uma ilha, não foi, querido?

Para minha total surpresa, o casal começou a conversar entre si, relembrando alegremente os bons momentos que tiveram até agora na ilha. Observei em silêncio, sorrindo. Arrisquei uma olhada para o lado, apenas para me deparar com o Sr. Cooper chateado. Seu rosto estava tão fechado quanto no meu primeiro dia de trabalho; é claro que eu seria responsável por ter atrapalhado a reunião que estava indo tão bem.

Quando chegou a hora de irmos embora, minhas pernas tremiam. Olhei para o mar ao longe, e toda a sua falsa calmaria. Eu teria que encará-lo mais uma vez, mas rezei internamente para que o Sr. Cooper tivesse piedade e me deixasse ficar na empresa na próxima vez. Talvez se eu voltasse a servir o seu café... Se eu voltasse a usar aquele termômetro ridículo, ele ficaria mais manso. Não custa nada tentar.

Subi a bordo mais uma vez, e a lancha balançou quando soltei a mão quente de Ben e caminhei até o meu assento.

— Você deve ficar de cabeça baixa outra vez, evitará o enjoo se não ficar olhando para a água. — Ele falava tranquilamente, como se estivesse pacientemente explicando a função de uma pilastra para seus clientes.

— Abaixarei o quanto der. — Avisei. — Não tirarei o colete dessa vez. — Eu já estava fechando os fechos sozinha.

Ben respirou fundo, alto o suficiente para que eu pudesse ouvir.

— Não seja teimosa, nada vai acontecer.

Virei para ele, impaciente por não estar conseguindo fechar o colete sozinha.

— Sr. Cooper, não quero ser grosseira, mas peço que não fique interferindo nas minhas decisões pessoais. Quando for um assunto relacionado ao trabalho, pode opinar à vontade, mas não tem esse direito quando o assunto é eu usar um colete salva-vidas ou não.

Eu ainda respirava fundo, como um boi pronto para entrar na arena. Minha agressividade era exagerada, no fundo eu reconheço, mas no momento o medo fala mais alto, é difícil agir com coesão.

Quer tenha entendido isso ou não, os olhos de Ben brilharam por um segundo, e ali eu percebi que havia feito besteira.

— Entendo o que me diz. — Ele disse casualmente, desviando os olhos para o mar. — Mas isso tem a ver com trabalho. Fechei um contrato hoje, retornaremos a essa ilha com frequência, quanto mais cedo você perder o medo, melhor será.

As palavras ficaram presas na minha garganta. O piloto ligou o motor da lancha e deu partida. Eu estaria com medo se a raiva não fosse maior. Ben Cooper estava fazendo de propósito... Esse homem não tem coração? Piedade? Que tipo de monstro ele poderia ser?

°°°

Na manhã seguinte, acordei determinada. Não contei sobre o incidente para ninguém, seria melhor assim. Eu e meu chefe começamos com o pé esquerdo, admito. Ele me contratou apenas para me provocar, achando que eu seria um patinho assustado como Melissa. Mas eu revidei, o enfrentei e agora ele usa meu medo para tentar me controlar. Tudo bem, se é o maldito café que ele quer, ele terá, sem joguinhos.

Em sua sala, respirei fundo, fechando o maldito termômetro na minha mão. Vamos lá, Anahi, não vai custar toda a sua dignidade voltar atrás, ele está apenas vencendo a batalha, não a guerra.

Virei-me para sair da sala do diabo, mas antes que eu pudesse chegar à porta, ela se abriu e Ben Cooper, todo de preto, entrou. O homem alto e com porte atlético parou no lugar, me observando. Seus olhos eram penetrantes, e ele vestido de preto chegava a ser intimidador; por um segundo, me senti uma presa na toca do predador. A porta se fechou lentamente atrás dele. Ele não exigiu uma explicação, sou sua secretária, afinal. Mas minha mente perturbada agiu mais rápido.

— Eu só vim deixar o seu café. — Apontei discretamente para a mesa.

Os olhos azuis claros olharam para a mesa por cima da minha cabeça. Quando voltou a me olhar, Ben parecia desconfiado.

— Devo me preocupar com essa mudança de comportamento?

Levantei as sobrancelhas, cética. Me esforcei ao máximo para não retorcer o maxilar e estalar a língua. Não sou obrigada a ouvir isso depois de vencer meu orgulho.

Ergui a cabeça.

— Senhor Cooper, seria educado se você apenas agradecesse minha gentileza, em vez de tentar me alfinetar.

Ele não foi afetado por minhas palavras, pelo contrário, apenas passou por mim e foi em direção à sua mesa.

— Minhas exigências não são gentilezas, Srt. Lopez. Eu lhe pago um salário. Elas são suas obrigações.

Segurei meu queixo no lugar diante dessa resposta. Por acaso, ele caiu da cama hoje? Ou a namorada dele dormiu de calça? Levando em consideração que ele tenha uma, com essa personalidade e arrogância, deve ser difícil manter um relacionamento amoroso. Virei-me, observando-o pegar o copo e beber o café com cuidado. Sem piedade, imaginei o café preto quente o suficiente para queimá-lo, ou então o copo de papel se rasgando e todo aquele líquido quente caindo em seu peito.

Ri maliciosamente, com a Anahi diabólica sentada no meu ombro, me parabenizando pelos pensamentos maldosos.

Ben se virou e eu ajeitei a postura imediatamente, fitando-o com atenção, ainda de cabeça erguida.

— O café está bom, você pode ir agora.

Acenei com a cabeça e saí de sua sala.

Sr. Cooper, eu te garanto que isso não vai ficar assim.

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