— Desculpe, o que você disse? Perguntei, balançando a cabeça.
— Você usa muito a internet? Ela repetiu, já que eu não estava prestando atenção nas suas últimas palavras.
— Não. Respondi. — Na verdade, eu uso mais programas criados para o meu trabalho.
— Entendo. Ela começa a explicar. — No navegador de internet, há um mecanismo de busca que permite carregar uma imagem e ver se há alguma correspondência online. Então, carregamos uma foto do Benny, e ela retornou apenas um ou dois resultados. Eram de uma página de revista social. Foi de lá que vieram as informações sobre este lugar.
— Entendo. Eu disse, querendo acreditar, mas sem acreditar plenamente. A vida não me dera as ferramentas para ser um homem de fé cega.
— Allison acreditou que ele era alguém da equipe de limpeza que invadiu aquela festa. Ela riu tão sinceramente que me fez sorrir.
— Acho que ele teria preferido isso, em vez de ser meu filho. Eu não sabia por que essas palavras saíram da minha boca. Não era como se eu quisesse contar a esse estranha sobre minha vida e os meus problemas familiares com Benjamin.
— Por quê...? Antes que ela continuasse interrompi, desativando o alarme da minha caminhonete e ligando o motor com o controle remoto.
— Vamos. Eu disse, acelerando o passo. — Aqui está a minha caminhonete. Continuei com a desculpa de abrir a porta para ela. Então, quando ela me alcançou, ofereci a minha mão para ela subir no degrau e finalmente se sentar.
— Ela é muito grande e alta. Ela disse admirada e assenti com um sorriso. Se fosse outra mulher, eu poderia ter brincado com algo vulgar.
— Não sou fã de carros pequenos, espero que não te incomode.
— Imagina. Fechei a porta, me virei e, quando me sentei no banco do motorista, a mulher cujo nome eu não conseguia lembrar já estava presa no cinto de segurança e enviando uma mensagem de texto, Deus sabe para quem.
— Você precisa fazer alguma parada? Perguntei, e ela balançou a cabeça.
— Não, eu só estava enviando minha localização em tempo real para a minha amiga, só por precaução, sabe, não é como se eu o conhecesse há tanto tempo.
— Garota esperta, hein? Abaixei o ar-condicionado.
Pedi para ela conectar o celular ao meu carro para que a rota até a casa dela aparecesse na tela.
— A Allison provavelmente está pesquisando o seu nome no G****e agora, espero que você não se importe.
— Não, eu não me importo. Deixe ela pesquisar com calma. Essa outra garota, que eu não sabia o nome, apenas ia descobrir que eu estava entre os 100 nomes mais pesquisados do país.
— A Allison é muito desconfiada, mas preciso começar a confiar mais nos instintos dela. Ela me avisou sobre o Benny, e eu a ignorei. Ela encostou o cotovelo na janela e apoiou a bochecha na mão.
— Sobre o que ela te avisou?Perguntei, mas ela não respondeu imediatamente.
— Ela disse que não era uma boa ideia deixar um estranho ficar no meu apartamento. Ela suspirou. —Como eu disse antes, conheci Benny em uma festa. Eu não conseguia dizer se ela estava dizendo a verdade ou não, porque ela estava olhando para a frente, parecendo absorta, como se tivesse viajando para o cenario da história, enquanto contava a história, e eu, por minha vez, precisava manter minha atenção na estrada. — Dançamos, conversamos e rimos, então ele me disse que não tinha onde ficar. Ofereci a ele o sofá do meu apartamento. Eu a vi dar de ombros. — É o que meus pais me ensinaram, que se alguém está em uma situação difícil, você deve ajudar, mas Allison me avisou que não se pode confiar tanto nas pessoas em Nova York. Não igual se confia na minha pequena cidade.
Eu não poderia culpá-la se a história fosse verdadeira. Benny tinha um poder de persuasão e um tom de vítima na voz e na expressão sempre que precisava.
— Então ele foi à sua casa. Insisti para que ela continuasse a história porque ela havia permanecido em silêncio. Vi ela assentir, acordando da viagem que ela estava fazendo ao passado.
— Ele vinha ao meu apartamento e ficava lá, sempre. Algumas semanas depois, começamos algo. Não sei dizer o dia exato, porque simplesmente aconteceu. Ela fungou para tirar o muco do nariz, e eu apertei o volante com mais força, porque se Benny tivesse feito o que eu pensava, significava que ele só tinha usado essa garota para manter um teto sobre a cabeça.
— Ele disse que não tinha família, que a mãe trabalhava muito e o pai estava morto. Ele inverteu os nossos papéis, porque, simplesmente, teria escolhido mil vezes que eu fosse o morto. — Ele não gostava muito de falar sobre a família. Ele só deixou claro que vocês dois, se você é realmente o pai dele e não mais um mentiroso como o Benny. Ela divagou. — Vocês dois nunca se deram bem, que você o abandonou e foi o pior pai do mundo.
— Eu... Eu queria me desculpar, pela primeira vez na minha vida. Eu não queria parecer o vilão, e eu não sabia por que diabos.
— E sabe qual é a pior parte? Ela me perguntou completamente furiosa me interrompendo. Os seus olhos eram duas bolas de fogo prontas para incendiar tudo. — Ele me prometeu que não seria como você! Ela apontou para mim e riu sem muita convicção. — Algumas horas antes de pegar as suas coisas e sair correndo como um covarde, ele jurou que sempre estaria lá para o nosso bebê, que não seria como o pai dele.
Soltei um suspiro.
De repente, o carro nos informou que tínhamos chegado. As minhas sobrancelhas se franziram quando percebi onde estávamos.
— Você mora aqui? Não consegui esconder o meu tom de desagrado. Estávamos perto do Rio Harlem, mas não prestei a mínima atenção ao caminho que havia tomado.
— Sim. Vi como ela se encolheu no lugar e como corou de vergonha. — É barato.
Não disse nada, pois estava xingando porque o meu filho, o único que tenho, morava em uma área de alto risco e sofreu privações quando não deveria.
Saí do carro, mas não sem antes tomar a precaução necessária: peguei o pequeno dispositivo de autodefesa da minha porta e o guardei discretamente atrás das costas. Assim que tirei o cinto, bati a porta e coloquei meus óculos de sol. Dei a volta no carro até abrir a porta para a namorada de Benjamin. Eu precisava encontrar um jeito de perguntar o nome dela de novo sem ofendê-la.
Quando segurei a sua mão e ela saiu da caminhonete, notei um bando de moradores de rua no prédio vizinho olhando descaradamente e com luxúria para a mulher ao meu lado.
— Então... Eu a ouvi dizer, mas os meus olhos estavam grudados nos caras que não conseguiam parar de olhar para a bunda dela. Um deles se inclinou completamente para a frente, como se estivesse procurando o que havia sob o moletom. — Obrigado pela carona, eu...
— Quem são eles? Perguntei, indicando o grupo com o queixo. A sua resposta foi revirar os olhos.
— É o abrigo de ex-presidiários. Eles falam muito, mas não fazem nada, ou voltam para a prisão, então tudo bem.
— Porra, você é a pessoa mais ingênua que eu já conheci. Passei o polegar na têmpora. — Entre no carro. Ordenei e abri a porta novamente.
— Como?
— Entre no carro. O grupo de homens se aproximou de nós. A garota percebeu que eu não estava olhando para ela. Ela seguiu meu olhar, e eu bufei quando ela ignorou as minhas palavras.
— Natalia. Disse um deles. — Que bom te ver. Cadê aquela a sua roupinha?.
Natalia. Memorizei. Natalia os encarou e cruzou os braços.
— O tutu rosa é o meu favorito. Um deles disse. Cerrei os punhos e senti a raiva começar a me invadir.
— Saiam daqui, não estou com vontade de falar com vocês e não tem comida. Natalie os expulsou.
— E esse seu amigo, ele não tem nada? Um deles perguntou ela, e eu balancei a cabeça.
— E aí, cara? Um deles me confrontou, tentando me intimidar. Não respondi.
— Seja legal com o homem, senão ele vai ter um ataque cardíaco. Um disse e o grupo de idiotas riu.
— E o seu namorado? A minha atenção se voltou para o cara que apoiou o queixo no ombro de Natalia. Ela se contorceu de desgosto.
Empurrei o cara na minha frente para longe dela, alcancei o perseguidor e agarrei a sua camisa com as mãos. Não pensei duas vezes antes de jogá-lo contra o meu carro, apreciando o som do seu corpo sendo esmagado enquanto a chapa de metal da minha caminhonete afundava.
— Não toque nela de novo. Saquei a arma que carregava nas costas, arreganhando os dentes como um cão raivoso. A sua pele empalideceu imediatamente quando ele viu a confiança com que eu aproximei o cano do seu rosto. Ele começou a tremer com o metal frio contra a testa.
— Entra no carro, Natalia. Ela não obedeceu. — Agora!
— Ei, cara... Gaguejou um homem atrás de mim. — A gente só estava brincando, larga isso, a gente só estava brincando, não vamos incomodar ninguém de novo, nunca mais, eu juro, nós juramos.
— Eu juro, eu juro. O cara na minha frente gemeu. Ele engoliu em seco e fechou os olhos com força quando me viu fazer o movimento de engatilhar a arma. Eu não tinha medo de puxar o gatilho, mas também não queria acabar tendo que prestar depoimento na delegacia. Então, eu o soltei, e ele caiu no chão, e lá ficou, com medo de se mexer.
Os seus amigos tinham escapado como os ratos que eram. Entrei no carro e fiquei nervoso pela primeira vez quando notei o jeito assustado que Natalia estava olhando para mim.