— Estou grávida. Eu disse sem pensar, e os seus olhos se arregalaram de surpresa. — E quando contei a ele, ele fugiu, desapareceu depois de me prometer que superaríamos isso juntos. Solucei. — Ele sabe que não consigo fazer isso sozinha. Quando uma bailarina inexperiente vai conseguir sustentar uma ciriança sozinha?
— Típico do Benjamin. Ele sussurrou.
— Como assim, típico do Benjamin? Eu me irritei e me inclinei para a frente. — Quem é Benjamin? O nome dele não era Carter? Quantas identidades ele tem? Quantas mulheres grávidas ele já deixou por aí?
— Não, não. Ele negou. — Desculpe. Benjamin é o nome que a mãe dele deu a ele. Ela se recusou a seguir o legado. E não conheço nenhuma outra mulher grávida. Elas são... outras coisas.
— Que coisas? Com que tipo de idiota eu me meti? Murmurei baixinho, mas ele aparentemente me ouviu, porque pigarreou. Dei de ombros, sem me desculpar por dizer a verdade.
— Sim, o bebê é meu neto. Ele me lançou um olhar rápido, examinando o meu abdômen. — Eu vou cuidar dele até o Carter aparecer. Ele esboçou um breve sorriso, os cantos dos olhos se enrugaram e, por um segundo, senti que tudo ficaria bem.
— Agradeço muito. Respondi timidamente, com as bochechas coradas. Agarrei as mangas do meu moletom e o encarei. — Mas não é sua responsabilidade, é do Benny, e ele é quem tem que assumir a responsabilidade. É melhor ajudá-lo a ser homem e me dizer onde posso encontrá-lo.
— Esse é o problema. Ele suspirou. — Não sei onde ele está, ele não fala comigo. Ele está mochilando de um lugar para outro a muito tempo. Cancelei os cartões de crédito dele para fazê-lo voltar, mas ele não voltou há cerca de um ano. Acho que ele estava sobrevivendo com a pequena pensão que a mãe lhe deu quando morreu.
— É mais ou menos esse o tempo que ele mora comigo. Murmurei. — Um dia, encontrei-o em uma festa, ele me contou a história da vida dele e fomos para minha casa. E ficamos juntos, até ele desaparecer ontem. Confessei.
— Acho que ele vai a outra festa hoje e vai procurar uma casa nova. Disse ele, frustrado, as suas palavras partindo o meu coração. Solucei, o que fez o homem virar os olhos para mim. — Sinto muito... Ele se levantou, caminhou até mim e se agachou. Então, pegou a minha mão, que era áspera, mas irradiava calor. — Sinto muito... A sua testa franziu enquanto ele examinava o meu rosto.
— Natalia. Sussurrei o meu nome. — O meu nome é Natalia. O homem sorriu para mim, envergonhado. Olhei para baixo, encarando a sua mão cobrindo a minha. A sua pele estava levemente rachada, as suas veias saltadas, mas as suas unhas eram perfeitas, quadradas, curtas e limpas. Não eram as mãos de um menino, mas de um homem de verdade.
— A gravidez te deixou sensível, né? Assenti com um breve sorriso. — Sinto muito que estejamos nessa situação, mas é um prazer conhecê-la, Natalia. Levantei o rosto, dei um sorriso e não consegui entender o que tinha acontecido para Benny negar o pai, mas eu sabia que logo descobriria.
♪──── 🩰 ────♪
CARTER
Observei a garota enxugar as lágrimas com as costas da mão enquanto os seus ombros tremiam com a risada sem graça que soltou, o que me fez sorrir.
Acariciei a sua mão antes de soltá-la, levantei-me e ela seguiu os meus movimentos como um cordeiro assustado. Isso realmente tocou o meu coração.
Peguei o telefone fixo e o levei ao ouvido, discando o número zero que me conectaria à minha secretária.
— Jenny. Disse o nome da minha assistente quando ela atendeu instantaneamente. — Cancele todas as minhas reuniões de hoje. Ordenei, ainda encarando a namorada do meu filho, que observava uma pintura atrás de mim.
— Mas, senhor, hoje é a reunião com o embaixador da Arábia Saudita. As suas palavras não tiveram efeito sobre mim, pois a minha atenção foi cativada pelo rosto da mulher à minha frente. Os seus cílios estavam molhados, o que os tornava ainda mais curvados e chamativos. A ponta do nariz dela estava vermelha, e balancei a cabeça diante de seu olhar vazio e olhos opacos. Ela era tão jovem.
— Eu sei. Respondi. — Sei da minha agenda, mas tenho um assunto de família e...
— Se é por minha causa, não se preocupe. Interrompeu Natalia, sem se importar que eu estivesse falando com outra pessoa. Franzi a testa diante da sua ousadia. Respirei fundo e não respondi como fiz com centenas de outras pessoas que ousaram fazer algo assim. — Vou para casa. Só estava procurando o Benny, e ele não está aqui.
— Tudo bem. Cobri o alto-falante com a mão. — Mas, espere a reunião. Depois te dou uma carona. Gostaria de saber onde você mora, só por precaução.
— Posso escrever meu endereço em um post-it. Ela se levantou, inclinou-se sobre a minha mesa, e os meus olhos se fecharam com força ao ouvi-la rasgar um pedaço de papel.
Essa garota era um perigo para o meu TOC.
— Este é o meu endereço. Ela me entregou, e eu balancei a cabeça sem olhar para o pedaço de papel.
— Jenny, volto em uma hora, talvez uma hora e meia. Remarque o que eu tenho nesse horário.
— Tudo bem, senhor. Desliguei e apontei para a porta, para a namorada do meu filho, ou quem quer que ela fosse.
— Vou te levar para conversarmos um pouco e você me contar um pouco mais sobre o que meu filho tem feito durante esse tempo.
— Obrigada. Ela caminhou em direção à saída. Deixei um espaço razoável entre nós, mas abri a porta primeiro. Ela me agradeceu novamente e eu apenas acenei levemente com a cabeça.
A garota não se parecia com ninguém no prédio. Era obrigatório que os meus funcionários usassem traje formal, sapatos limpos e um penteado bem cuidado, então eu não entendia como ela conseguiu passar pelo filtro usando jeans, tênis e um moletom preto que cobria a maior parte do corpo. Talvez ela conseguiu encantar o porteiro só por ser naturalmente bonita.
Ao passar pela mesa da minha secretária, ela olhou para mim e franziu a testa ao notar que eu estava acompanhado. Lancei-lhe um olhar feio e Jenny congelou.
E, claro, não era certo ela ignorar a mesa e deixar um estranho entrar no meu escritório, mas eu não ia reclamar disso naquele momento.
Quando entramos no elevador, o silêncio não me incomodou. Eu gostei, era algo de que eu gostava muito, mas percebi que não era a mesma situação para a mulher de 20 e poucos anos que estava comigo.
Ela mexia os dedos dos pés constantemente, coçava a cabeça e roía as unhas. Passei a mão no rosto, querendo segurá-la pelos ombros, fazer com que ela me olhasse e lhe assegurasse que tudo ficaria bem. A jovem estava em um estado de nervosismo que logo me contagiaria.
Eu entendia que a situação dela era complicada.
Mas eu não tinha ideia do que dizer ou como animá-la quando ela parecia tão miserável. Eu não podia culpá-la. Jovem, grávida e abandonada, ela provavelmente sentia que sua vida estava arruinada, não é mesmo?
— Como você descobriu o nome verdadeiro do meu filho? Perguntei baixinho assim que saímos do elevador e eu a conduzia em direção ao estacionamento.
— Não fui eu. Ela suspirou. — Foi a minha melhor amiga, Allison... Agora eu entendia por que ninguém a impediu, nenhum funcionário prestava a mínima atenção em nada, ela passou completamente despercebida por todos.
O que eu não entendia. É que eu teria notado se a tivesse encontrado.