Victor foi para a cozinha em silêncio. O apartamento, pequeno e simples, parecia ainda mais quieto enquanto ele preparava a refeição, perdido entre os temperos. Preparou uma sopa leve de macarrão com arroz, deixou o frango grelhar devagar na frigideira e espremia laranjas frescas para fazer o suco. Cada gesto era meticuloso, como se cozinhar fosse, naquele momento, um modo de cuidar e ao mesmo tempo de se acalmar.
Quando tudo ficou pronto, ele montou a mesa simples e foi até o quarto. Sentou-se na beirada da cama e, com a mão quente, começou a acariciar o braço de Rayra.
— Ray? — murmurou, com a voz baixa.
— Levanta pra comer só um pouco.
Ela despertou lentamente, sonolenta, notando as carícias. Olhou para ele com olhos pesados, mas suaves.
— Você se sente culpado, né? — disse, num tom quase de constatação.
— Não foi culpa sua.
Victor sorriu de leve, sem alegria, e assentiu.
— Um pouco. E não deveria?
Virou-se de costas, encarando o chão, com os ombros curvados pelo peso das própri