Miranda franziu a testa, com a sonolência lutando contra a confusão.
— Você é estranho, Peterson. Um minuto me trata como lixo, no outro me elogia. Sua indiferença me parece bem mais agradável.
— Talvez eu seja complicado. — ele admitiu, com um meio sorriso surgindo.
— E você também. Mas me diz uma coisa, Miranda, você realmente não quer ter filhos? Ou é só o que a vida te fez acreditar?
Ela fechou os olhos novamente, com um suspiro pesado escapando.
— É só o que eu conheço. A realidade!
Miranda não respondeu mais. O cansaço, a tequila e a torrente de memórias a venceram. Ela afundou ainda mais no sofá, e Peterson a viu adormecer, com o rosto relaxado na beira do sono, as feições de dor suavizadas pela inconsciência.
Ele a observou por um longo momento, ficou com o olhar fixo nela, um misto complexo de sentimentos se formando em seu peito. Havia dó da realidade dela, da vida difícil que ela havia levado. Mas, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade e a autenticidade de Miranda reacenderam a