GUSTAVO
O cheiro de café já preenchia o quarto quando Lorena se levantou da cama.
Eu ainda tava meio entre o sono e a consciência, mastigando o peso da noite anterior, quando vi — sem aviso — ela agarrar a barra da camisa branca, minha camisa, e puxar devagar, deslizando o tecido pela pele nua.
A camisa caiu no chão.
Ela ficou ali, só de calcinha preta fina e sutiã rendado, o corpo marcado de pequenos vincos do lençol, o cabelo bagunçado no coque alto, a pele viva, quente, respirando vida.
Dois anos em coma.
Quatro meses escondido como um fantasma.
Nenhuma mulher. Nenhum toque. Nenhum impulso permitido.
Eu não tava preparado.
O baque foi físico.
Senti o sangue descer rápido, o estômago afundar.
O café na mão tremulou levemente.
Fechei os dedos com força na alça da xícara.
Lorena agia como se nada tivesse acontecido.
Foi até a mala no canto do quarto, os pés descalços pisando silenciosos no chão frio.
A mala meio aberta, ela se agachou pra revirar lá dentr