William RodriguesResolvi levar a Priscila para longe dali. Mandei uma mensagem rápida para minha mãe, avisando que ia demorar um pouco, e simplesmente peguei sua mão. Não tínhamos um destino. Só precisava tirá-la daquele ambiente sufocante.Caminhamos em silêncio até um restaurante pequeno ali perto, acolhedor, discreto. Pedi uma mesa mais afastada, num canto reservado, e puxei a cadeira para ela. Priscila se sentou devagar, como se o mundo inteiro pesasse sobre seus ombros.Sem dizer nada, segurei sua mão sobre a mesa e comecei a acariciá-la devagar, tentando transmitir a calma que eu mal conseguia manter.— Pri... ignora tudo o que ele falou — disse, num tom baixo e firme. — Você é uma mãe incrível. Já é mãe da Nina. E muito em breve, a gente vai ser oficialmente pais da Íris, do Ítalo e da Belinha também. — Apertei seus dedos com ternura. — Eles te amam, Pri. Sabem exatamente quem você é. E eu também sei. Você é uma mãe maravilhosa.Ela mordeu o lábio inferior e desviou o olhar, t
Max FoxO Liam, mesmo relutante, subiu e voltou com a Belinha no colo. Aquilo me pegou de surpresa.— Tio Max, você vai sair com a gente também? — ela perguntou com um sorriso tão doce que quase fez meu peito apertar.— Vai sim, filha. A gente vai numa clínica rapidinho com o tio Max e depois tomar sorvete — ele respondeu como se aquilo fosse só um passeio comum de domingo.Esperei ela correr animada até o carro e puxei o Liam de lado, ali mesmo, perto da vaga onde o carro estava estacionado.— Cara, não precisava trazer ela... Era só uma amostra.— Se ela fizer a coleta na hora, o teste pode sair mais rápido — ele respondeu sem rodeios. — E a Priscila deixou com a condição de que eu voltasse com sorvete pra todo mundo. Mas, Max… eu preciso te dizer uma coisa.Ele me encarou com seriedade, como se tivesse guardando aquilo há um tempo.— Eu acredito que a Mavie possa estar viva. Mas não acho que seja a Belinha. E, sinceramente? Acho que você também não sente que ela é sua filha.As pal
Max FosQuando voltei pra casa com um pote de sorvete, o Marcelo ficou todo animado, pulando no sofá, rindo como se o mundo fosse leve. Mas a Rafaela… ela percebeu de cara que algo estava errado.— Que cara é essa, amor? — perguntou com aquela voz doce que sempre me acalma, enquanto a Marli levava as crianças pra cozinha.— A Belinha… ela não é minha filha — soltei de uma vez, sem rodeios, com a garganta apertada.Ela não hesitou nem por um segundo. Me abraçou forte, como se quisesse costurar com o corpo a dor que estava me rasgando por dentro. Como se dissesse, sem palavras, que estava comigo... até o fim.— Eu tenho uma coisa pra te mostrar — disse com firmeza, me puxando pela mão até o escritório.— Amor, se for trabalho, agora não dá...— A sua mãe está no Brasil — ela me cortou, a voz firme, já ligando o notebook e abrindo a fatura do cartão de crédito. — Assim que teve o acesso liberado, pagou um hotel em Aracaju. Cinco dias. Olha isso aqui — apontou para a tela — uma compra rec
Priscila BarcellaO Liam está esquisito. Muito esquisito. E por mais que eu tente não pensar no pior, meu coração aperta só de imaginar que ele possa estar me julgando… julgando por causa do que aquele desgraçado disse.Ele saiu com a Belinha pra comprar um sorvete — algo tão simples, tão doce — mas demoraram mais de três horas. Três horas! E ninguém me deu uma explicação decente. Quando voltaram, ele parecia distante. E não era só cansaço. Era como se algo dentro dele tivesse mudado.Logo depois, o Max apareceu dizendo que ia fazer uma viagem a trabalho. Também estava estranho. Os dois... estavam diferentes. Como se tivessem voltado de outro mundo, carregando segredos demais pra caber no peito.A angústia me corroía por dentro.— Está tudo bem, Liam? — perguntei, tentando esconder o tremor na voz.Ele veio até mim e me beijou devagar. Um beijo que, em outros dias, teria me aquecido por dentro. Mas hoje... teve gosto de silêncio. Gosto de quem tenta acalmar sem explicar. De quem beija
Priscila Barcella Era mais um dia normal. Como sempre, acordo às 6:23 da manhã, levo aproximadamente 20 minutos para me arrumar e escolho roupas que transmitam o quanto sou poderosa.Saio do meu quarto preparada para enfrentar o mundo machista das torres de metal.Assim que chego no andar inferior, vejo a minha governanta terminando de organizar o meu café da manhã na mesa da sala de jantar, junto com duas funcionárias. Gosto das coisas sempre perfeitamente alinhadas, e ela me conhece muito bem.Antes de chegar à mesa, olho pela grande janela de vidro da minha cobertura, de onde posso ver a enorme cidade cinza. Assim como lá fora, dentro do meu apartamento a decoração é toda em tons frios, pois tenho um amor pelo tom cinza e não queria nada convidativo.Quem gosta e tem peso morto é a minha irmã. Eu nunca a entendi, a Barcella sempre se contentou com pouco. Diferente de mim, ela não foi para a faculdade e muito menos quis sair daquele lugar no meio do nada. Na primeira oportunidade q
Priscila Barcella Depois de um voo de três horas e meia, aluguei um carro e dirigi por mais cinco horas, finalmente chegando em um pequeno povoado do município de Santo Antônio dos Milagres. A estrada era de terra e parecia que o tempo naquele lugar passava em câmera lenta e pouquíssimas coisas tinham mudado em 16 anos. As casas eram simples e a única diferença era nos fios de energia e novas construções, mas mesmo assim parecia existir apenas uma rua e uma praça como novidade.Fui devagar pela estrada de terra batida até chegar na casinha onde crescemos. Pouquíssimas coisas tinham mudado, mas a única diferença era que, além do reboco, a pequena casa estava pintada de branco, que já estava amarelada, com dois quartos. Apesar de ser bem diferente da minha cobertura, estar naquele lugar me causava arrepios, como se as paredes pudessem falar ou apenas de ver sentir os arrepios pelo meu corpo me pedindo para fugir daquele lugar.A casa estava cheia, e respirei fundo antes de sair do carr
Priscila Barcella — O que eu faço com o bebê? — perguntei a mim mesma, sem saber o que fazer. Assim que entrei no quarto, coloquei-a na cama e a cercou de travesseiros, pois precisava tomar um banho. Fui para o banheiro e deixei a água tirar o suor e, junto com ele, as lágrimas. Eu precisava manter uma postura firme, mas minha irmã era toda a família que eu tinha. Enquanto começava a me ensaboar, ouvi um chorinho que se intensificava a cada minuto. Sem saber o que fazer, parei o banho, coloquei uma toalha rapidamente e peguei o bebê no colo, mesmo ainda estando molhada. — Eu não sou a mamãe — falei quando ela tentou pegar meus seios desesperadamente. Ela estava com fome e eu não tinha o que ela queria. Mesmo sendo uma e meia da manhã, decidi ligar para Natália, minha única amiga que sempre me ajudava. Embora não nos víssemos muito desde que ela se casou, teve filhos e se mudou para o litoral, ela sempre arranjava tempo para se envolver na minha vida, principalmente na parte am
Priscila Barcella Natália teve que ir para casa às cinco da manhã para uma reunião em Campinas. A Nina chorou quase o tempo todo. Com um conta-gotas, conseguimos que ela comesse um pouco, mas era muito complicado. De acordo com Natália, ela estava com sono. Como não sabia o que fazer, a Nina tentava a todo custo pegar meu seio e desistia. Ela só dormiu no meu peito. Eu dei para ela ver que não havia nada lá, mas não imaginei que ela usaria isso como chupeta. Era uma sensação tão estranha e dolorosa. Tive que escolher entre a dor de cabeça causada pelo choro incessante ou a dor física, e o simples fato de ela ter parado de chorar já era um avanço.Eu acabei não dormindo, mas como não podia faltar a reunião de hoje, fui me arrumar para ir à empresa. Coloquei a Nina na cama mesmo ela choramingando. Desci com a bebê no colo e a Josefa estava na cozinha. Pelo som do forró, sabia que ela estava cozinhando. Justamente hoje era o dia de folga da moça da limpeza, e a minha cozinheira já tinha