Heleana*
As horas pareciam se arrastar com crueldade. A escuridão do porão do navio era úmida, sufocante. O cheiro de sangue seco e sal impregnava as paredes. Heleana andava de um lado para o outro dentro da jaula, os passos ecoando sobre a madeira como marteladas no silêncio.
— Por que não voltam? — pensava.
Alade... Astar...
Tinha ouvido gritos abafados há algum tempo — som de luta, desespero, dor. Algo horrível havia acontecido. O tipo de silêncio que vinha depois de um grito como aquele era pior que qualquer resposta.
Ela tentara quebrar as grades com o que tivesse à mão. Tentara cavar o chão com as unhas. Mas nada cedia. Nada salvava.
Até que ouviu passos.
Grossos. Pesados.
Lupinos.
Dois deles surgiram no corredor estreito, e no meio deles — arrastado como um animal abatido — vinha Astar.
— ASTAR! — ela gritou, sem pensar.
Eles o lançaram para dentro da jaula como um fardo sem valor. O corpo dele caiu, mas antes que batesse no chão, Heleana correu, amparando-o em um gesto instint