Mundo de ficçãoIniciar sessão— Babá? — Aeron repetiu a palavra como se fosse um insulto.
O cano da 9mm continuou pressionado contra a testa de Jinx, frio e implacável.
— Você invade minha casa, burla um sistema de segurança militar vestida como uma terrorista e espera que eu acredite que veio trocar fraldas?
Jinx sentiu o suor escorrer pelas costas, encharcando o traje tático sob o kevlar. A pequena Luna ainda soluçava contra sua perna, usando o tecido grosso da calça de Jinx como escudo contra o próprio pai.
Na orelha direita de Jinx, um zumbido estático surgiu. A voz de Bit, seu hacker e olhos no céu, explodiu em seu ponto eletrônico, urgente e rápida.
— Jinx, não reage! Eu acessei o cronograma de serviço da casa. O sistema da portaria está alertando "Atraso de Funcionário" há duas horas. A agência 'Elite Nanny' deveria ter mandado uma substituta chamada Sarah Jenkins às 22h. Ela nunca deu baixa na entrada.
A informação foi como oxigênio puro para um cérebro morrendo asfixiado. Jinx agarrou aquele dado com todas as forças.
— É roupa de motociclismo — mentiu Jinx, a voz trêmula, mas mentalmente agradecendo a Bit. — Minha moto pifou a três quadras daqui por causa dessa tempestade maldita. A agência ligou informando que era uma emergência... que a babá anterior tinha faltado. Eu não tive tempo de vestir aquele uniforme ridículo de algodão doce!
Aeron estreitou os olhos. Ele a escaneava como um laser, procurando falhas na história. A barba por fazer no rosto dele dava um ar perigoso, e as olheiras profundas denunciavam um homem que não dormia há dias.
— A agência nunca mandou funcionárias sem crachá. E muito menos mandou que entrassem pela janela.
— A porta estava trancada e o interfone, mudo! — Jinx retrucou, apontando para a menina agarrada a ela. — E agradeça aos céus pela minha falta de educação, Sr. Vale. Sua filha estava roxa. Se eu tivesse esperado lá fora tocando a campainha, o senhor estaria segurando um cadáver agora, não uma arma.
As palavras foram um soco no estômago de Aeron. Ele empalideceu, o olhar desviando da invasora para Luna. A garotinha agora respirava melhor, o peito subindo e descendo num ritmo saudável, mas ainda se escondia atrás de Jinx.
— Jinx, cuidado — Bit alertou no ouvido dela. — Os batimentos dele estão erráticos. Ele está instável.
A muralha de gelo de Aeron rachou por um segundo, mas voltou a se fechar rapidamente.
— Vamos ver se essa história se sustenta — disse ele, a voz áspera como lixa.
Ele tirou o celular do bolso do pijama com a mão livre, sem nunca desviar a arma do rosto de Jinx.
— Vou ligar para a diretora da agência. Se ela não confirmar seu nome em dez segundos... você vai sair daqui em um saco preto.
O coração de Jinx falhou uma batida. Se aquela ligação completasse para a agência real, a mentira cairia.
— Estou dentro — Bit sussurrou, o som de teclas frenéticas ao fundo. — Vou interceptar a chamada. Deixa comigo.
Aeron discou. O dedo dele pairou sobre o botão de chamar.
— Mãos onde eu possa ver! — ele rugiu quando Jinx moveu o braço sutilmente para ajeitar o cabelo (e cobrir melhor o ponto eletrônico).
— Só estou nervosa, caramba! — Jinx gritou, fingindo histeria.
O celular de Aeron tocou no viva-voz.
Tuuu... Tuuu...
Jinx prendeu a respiração. O silêncio no quarto era ensurdecedor.
— Agência Elite Nanny, plantão de emergência — uma voz feminina, calma e profissional, preencheu o quarto.
Era o modificador de voz de Bit. Perfeito. Sem falhas.
— Aqui é Aeron Vale — disse o CEO, a voz cortante. — Vocês enviaram uma babá chamada Sarah para minha casa agora? De madrugada?
Houve uma pausa do outro lado. Bit estava improvisando, usando o que tinha ouvido pelo microfone de Jinx nos últimos minutos.
— Sim, Sr. Vale. Sarah Jenkins. Pedimos desculpas pelo traje inadequado, mas foi uma convocação de crise. — A "diretora" fez uma pausa dramática. — O senhor sabe que a pequena Luna tem histórico de crises respiratórias noturnas. A Srta. Jenkins não é uma babá comum, ela é nossa especialista em primeiros socorros pediátricos e gestão de trauma. O sistema da casa indicou alteração nos sinais vitais da criança, por isso a enviamos com prioridade máxima.
Aeron olhou para Jinx. A confusão franziu a testa dele, destacando aquela cicatriz acima da sobrancelha.
A história batia. A habilidade médica que ela usou para desengasgar Luna batia com a descrição de uma especialista em trauma.
— Ela está aqui — Aeron disse, contrariado, baixando a arma lentamente até travá-la. — Mas entrou pela janela.
— Ah... Sarah é muito dedicada — a voz no telefone respondeu com uma ironia suave. — Às vezes, dedicada demais.
Aeron desligou a chamada. O perigo de morte imediata passou, mas a tensão física permaneceu.
— Consegui alterar a ficha dela no servidor da agência agora — Bit confirmou no ouvido de Jinx, soando exausto. — Você é oficialmente Sarah Jenkins nos últimos cinco minutos. Não me agradeça.
Aeron guardou o celular, mas não guardou a desconfiança.
— Tudo bem. Você é a babá. Mas isso não explica por que minha filha, que grita se qualquer estranho chega a dois metros dela, está agora grudada em você.
Aeron se agachou, ficando na altura dos olhos da filha. Ele estendeu a mão grande e cheia de calos para a menina.
— Luna? — chamou suavemente, a voz mudando da água para o vinho. — Vem com o papai, querida. A Sarah precisa ir se trocar.
Luna olhou para a mão do pai. Depois olhou para cima, para o rosto de Jinx.
A menina soltou uma das mãos da perna de Jinx, pegou seu coelho de pelúcia encardido que estava no chão e o estendeu para cima. Não para o pai. Para Jinx.
Aeron travou. Jinx viu a mandíbula dele tensionar, um músculo saltando na bochecha.
— Ela... ela nunca empresta o Sr. Orelhas para ninguém — Aeron sussurrou, a voz carregada de uma mágoa profunda que fez Jinx sentir uma pontada rara de culpa. — Nem para mim.
Jinx pegou o coelho. Ela estava manipulando a carência de uma criança e a dor de um pai para encobrir um crime de bilhões, mas não podia recuar agora.
— Crianças sentem quem as salvou, Sr. Vale — Jinx disse, suave. — É instinto de sobrevivência. Vai passar.
Aeron se levantou. Ele parecia exausto e perigosamente atraente naquela vulnerabilidade momentânea. Ele olhou Jinx de cima a baixo, demorando nos lábios dela, depois subindo para os olhos, analisando o rosto cheio de sardas que parecia inocente demais para o traje tático que vestia.
— Você fica — decidiu abruptamente. — Período de experiência de uma semana.
— Ótimo — Jinx forçou um sorriso profissional, embora suas pernas estivessem tremendo. — Vou pegar minha mochila e...
— Não.
Aeron foi rápido como um ataque de cobra. Antes que Jinx pudesse reagir, ele se abaixou e agarrou a alça da mochila tática dela no chão.
O sangue de Jinx foi drenado de seu rosto. Dentro daquela mochila não havia apenas roupas. Havia decodificadores militares, explosivos plásticos C4 em miniatura e gazuas de titânio. Se ele a abrisse, a farsa acabava.
— Sr. Vale, isso é pessoal... — ela começou, dando um passo à frente, os músculos do corpo reagindo para o combate. Ela teria que derrubá-lo.
Aeron ergueu uma mão, parando-a. O olhar dele voltou a ser o do CEO paranoico.
— Eu não confio em você, "Sarah". Você invadiu minha casa. Até eu ter certeza absoluta de quem você é, seus pertences ficam sob minha custódia.
Ele jogou a mochila sobre o ombro largo. O som metálico das ferramentas lá dentro fez o estômago de Jinx revirar.
— Vou guardar isso no meu cofre pessoal — Aeron disse. Um sorriso de canto apareceu, cruel e dominante. — Se você é apenas uma babá, não vai se importar de ficar sem suas coisas de "motocross" por uma noite, certo?
Jinx cerrou os punhos ao lado do corpo, escondendo a raiva. Ele estava levando as ferramentas necessárias para abrir o cofre... para dentro do próprio cofre.
— Claro que não, Sr. Vale — ela respondeu com um sorriso doce que mascarava a vontade de chutá-lo na garganta.
Aeron assentiu e saiu do quarto, levando a mochila e a liberdade dela.
Jinx olhou para a porta fechada, depois para a menina que a observava com adoração.
— Merda — ela sussurrou para o coelho de pelúcia. — Agora eu sou a refém.
[FIM DO CAPÍTULO]
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Curiosidade: O Aeron tem essa barba por fazer não por estilo, mas porque trabalha 20 horas por dia no código de segurança. O homem é uma máquina (uma máquina muito sexy, convenhamos rs).
Nota da autora: A Jinx tem mais sorte que juízo! O Bit salvou a pele dela no último segundo, mas vocês viram o olhar do Aeron? Ele é um predador; ele sabe que tem algo podre nessa história. 👀
Vocês acham que ele engoliu a desculpa da "agência de emergência" ou está apenas mantendo os inimigos por perto para vigiar?
Deixem um 🕵️♀️ se acham que ele já sacou tudo!
Não esqueçam de votar no capítulo! O próximo jantar vai ser um campo minado e a nossa ladra vai ter que suar frio. Até lá!
Ravenna V.







