3- O vampiro

"Ravenna"

O café da manhã no castelo, que era sempre agitado com falatório dos meus irmãos, estava em silêncio naquele momento.

Desde que um dos guardas se aproximou e entregou um envelope ao meu pai, que mais parecia um pergaminho, a expressão dele mudou e todos nós sentimos que era algo diferente.

— De quem é? — Minha mãe também estranhou o silêncio, o clima que se formou.

— Porra...

— O que foi? — Ela se preocupou.

— É de um vampiro que mora nos Ajaks Meridionais. O mesmo que visitou Jax dois anos atrás.

— Meu Deus... — Surpresa, Teo deixou a torrada de lado. — Aquele que apareceu à luz do dia e que pediu algum medicamento que prolongasse ainda mais as horas deles no sol?

— Esse mesmo.

— Por que ele procurou agora o senhor? — Franzi o cenho, realmente surpresa.

Todos sabiam que os vampiros eram isolados, nunca se aproximavam.

E já era a segunda vez que isso acontecia em pouco tempo.

Foi um falatório quando um deles pediu audiência com meu tio e apareceu em plena luz do dia. Até então, todos diziam que o sol os queimava. Pelo visto, haviam desenvolvido algum medicamento que lhes permitia ficar horas ao sol. E queriam que o laboratório do meu tio o aperfeiçoasse.

Minha prima Zara me contou que o pai negou o trabalho. Ainda mais depois que a mãe dela teve uma intuição de que eles se aproximavam por outros interesses. Tia Selena era híbrida de bruxa e loba, não errava nunca naquelas coisas.

Era estranho que, depois de dois anos, aparecessem de novo. Agora com aquela carta.

— Vamos ver. — Tenso, meu pai abriu o envelope.

Salomé, minha irmã de 19 anos, deixou de lado o livro que estudava para uma prova, ajeitando os óculos no rosto. As gêmeas Cristal e Safira, geralmente barulhentas, tinham os olhos arregalados. E o caçula de 10 anos, Ares, continuava a comer, mas atento. Até Nerin, que tomava conta da casa, se encontrava curiosa.

Meu pai pegou o papel grosso, lendo em silêncio. Troquei um olhar com minha mãe, que tentava disfarçar a ansiedade. Remexi-me, sabendo que, se fosse coisa ruim, eu me prepararia para a luta. Nenhum daqueles chupadores de sangue se meteria com a minha família.

— Ele pede três convites para seus filhos, na próxima Festa da Aliança.

— Assim, sem mais nem menos? — Minha mãe apertou as sobrancelhas, confusa.

— Querem nos investigar — sugeriu Salomé.

— Para quê? Invadir? — Safira se agitou na cadeira, abraçando Cristal. — Meu Deus, será que vai ter guerra, como vocês contam que aconteceu aqui no passado?

— Nem fala isso! — A outra fez que não, nervosa. Ares se animou, seus olhos dourados brilhando:

— Já sei atirar e lutar!

— Se fosse para fazer mal, ele não pediria permissão. — Nerin analisou. — Embora a Selena tenha sentido algum pressentimento ruim sobre eles, quando esse vampiro foi na casa dela.

— O que você vai fazer, pai? — Eu mal tinha me movido, sem demonstrar emoção.

— Dar os convites.

Minha mãe tirou uma mecha de cabelo do rosto, insegura.

— Você quer descobrir o que eles desejam. É isso, Sebastian?

— Seja o que for que o atrai para cá, não vai desistir. Prefiro saber antes, estando no meu território. — Decidido, ele se ergueu. — Vou responder à carta e comunicar aos meus irmãos.

Todos ficaram quietos, sem saber o que esperar. Tive um pressentimento de que coisa boa não era. De qualquer forma, estaríamos preparados.

Durante o dia, enquanto trabalhava nas minas de diamantes da minha família, aquele assunto vinha à minha mente de vez em quando e eu criava várias possibilidades para explicar a aproximação dos vampiros. A única real era que eles tinham algum interesse secreto. Duvidava muito que tivessem simplesmente decidido virar nossos amiguinhos.

Foi somente no fim do dia, depois que tomei banho, que falei sobre o assunto com minha prima Zara. Ela veio me visitar e se jogou na minha cama, cheia de curiosidade.

— Quando meu pai contou, eu vim correndo saber da fofoca! É sério isso? — De pernas cruzadas, balançava o pé em um sapato preto de salto alto. Os olhos verdes brilhavam.

— Se você fala sobre os vampiros, é sério, sim.

Enrolada em uma toalha, enxuguei o cabelo com outra, sentando-me ao lado. A curiosidade também me comia viva, e virei para ela.

— Enfim, vamos conhecer os mortos-vivos. Minha prima e amiga riu, agitada.

— Lembra quando a gente era pequena e ficava imaginando como eles seriam?

— Gelados como picolé — comecei.

— Fedendo a naftalina.

— E terra de caixão. Sem sombra nem alma, pálidos.

— Isso é um ponto a discutir! — Ela chutou os sapatos longe e se acomodou melhor na cama, cruzando as pernas sob o corpo. — Quando o tal Stormborn foi lá em Vanóia, disseram que os filhos ficaram esperando do lado de fora. E que eram fortes e bronzeados.

— Duvido! — Esfreguei a toalha no cabelo com mais vigor. — Todos dizem que são pálidos, a pele parece de papel!

— Dizem, não! Você está falando dos filmes. que viu. Se eles apareceram de dia, talvez possam pegar sol e ter uma corzinha saudável.

— Saudável? — Foi minha vez de rir. — O coração deles não b**e! Podem ter enganado todo mundo, usando enchimento sob a roupa e base na cara.

Ela gargalhou também.

— Em breve teremos certeza! A verdade é que são misteriosos, têm muitas lendas sobre eles. Minha mãe disse que não estão mortos e respiram.

— Agora fiquei confusa. Não comem comida como a gente, só engolem sangue dos outros. Acho difícil que sejam diferentes do que imaginamos. Mas, como você disse, em alguns dias vamos saber.

— Tô desesperada aqui para olhar na cara deles!

— E eu desconfiada. O que esse povo quer? Coisa boa não é. Se vierem de graça, coloco os três para correr! — Larguei a toalha no colo e comecei a pentear o cabelo com força.

— Hei, vai quebrar os fios assim! Deixa de ser bruta! — Zara tomou o pente de dentes largos da minha mão e desembaraçou com cuidado. — Venna, você mal os conhece e já pensa em briga! Nunca vi! Por isso os garotos têm medo de você.

— Ainda bem! Bando de fracotes — resmunguei.

— Já sei por que não dá chance para nenhum, nem para os que estão a fim. Está esperando o seu prometido, o vampiro.

— Para de palhaçada! — Riu ainda mais, lembrando da nossa brincadeira de criança, do que falei um dia da boca para fora: que ia me casar com um vampiro, caso visse um pela frente. — Da outra vez, contou isso na frente do meu pai e ele pensou que era sério!

— Isso faz séculos!

— Você é cheia de conversinha de namoro, mas dá mole para todos e não pega ninguém! Qual é a sua desculpa, Zara? Está esperando um vampiro também, frio como mármore de cemitério?

— Deus me livre! Tá doida? — Parou de me pentear um pouco. Então chegou mais perto, cochichando: — Será que são gelados mesmo? Até lá nas partes íntimas?

— Nem quero saber! Aliás, duvido que façam sexo. Pelo que sei, criam outros vampiros mordendo o pescoço dos inocentes.

Rimos como idiotas, os questionamentos espocando, a gente debochando enquanto a curiosidade continuava acesa.

Foi assim toda vez que nos falamos naqueles dias, inventando moda. A todo momento, uma mandava mensagem para a outra com perguntas e questionamentos do tipo:

São imortais? Eles cagam? Peidam fedorento? Mijam? Gozam? É real a lenda de que só entram num lugar se alguém convidar? Ficam invisíveis, voam, viram morcegos? Hipnotizam? Precisam dormir? Será que são mais fracos ou fortes do que a gente?

Eu esperava que fossem mais fracos. Assim, se criassem alguma confusão por ali, eu acabaria fácil com eles.

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