2- A filha mais velha

"Cassius"

— Eu pensei que a reunião seria daqui a uma hora, pai. Estava me preparando.

A voz sonolenta de Caliban me tirou dos devaneios. Afastei meu olhar daqueles olhos azuis na fotografia e me virei para eles.

Meu irmão era um grande mentiroso. Foi bem informado do horário, mas, como sempre, passou a noite toda em farras e achou que Antares deixaria por isso mesmo.

— Sente-se de uma vez. — Lutando contra a impaciência, meu pai apontou para uma cadeira. — Não me faça perder mais tempo.

Caliban suspirou e obedeceu, esfregando o rosto pálido, com círculos escuros sob os olhos. Devia ter emendado alguma festa com outra. Ou experimentado o que não devia. Não era à toa que sua aparência era péssima.

— Essa é a sua noiva. A filha mais velha de Sebastian Thorne.

Seu olhar foi para a fotografia, sem muito interesse. Deu de ombros.

— Tudo bem. Pode ser qualquer uma.

— É isso o que tem a me dizer? Depois de todo esse tempo de pesquisa, observação e reuniões... — Antares não perdeu a cabeça, nunca o fazia. Mas a raiva fervia sob seu olhar gelado. — Consegue entender a gravidade da situação?

— Claro que sim, pai! Recebi uma função importante e vou cumprir com a minha parte.

— E qual é ela? Ainda se lembra ou está dopado demais para pensar? O tom frio o fez se remexer e me dar uma olhada. Suspirou:

— Tenho a missão de seduzir a loba, filha de um Alfa Supremo. E fazer um filho nela. Viu, eu...

— Por quê? Por que eu estou mandando um dos meus filhos, que tem sangue puro, se sujar com um vortex? Quando sempre os desprezei?

Antares exigiu, pálido. Eu continuei apenas a observar, assim como o juiz.

— Corremos risco de entrar em extinção. Somos cada vez mais a minoria. Sei de tudo, pai...

— Responda!

— Ela é, provavelmente, uma raça superior. Como nós. Um cruzamento pode significar uma raça única, ainda mais evoluída. Só saberemos tentando.

— E por que escolhi você para isso?

Caliban ficou ainda mais branco. O tom de voz contido mudou quando me encarou, com um sorriso sarcástico, assim como sua voz:

— O senhor jamais testaria isso no seu primogênito. Cassius vai manter a nossa espécie pura. Eu serei a experiência, o sacrifício.

— Sacrifício de um imprestável? Encare como a única possibilidade de mostrar algum valor e fazer algo que preste. — Sem alterar a voz, nosso pai se ergueu. — A Festa da Aliança se aproxima e enviei uma carta a Sebastian, pedindo três convites. Cassius, Calíope e você comparecerão. Faça a sua parte, se aproxime dela e a traga para cá na primeira oportunidade. Consegue ouvir, ou é uma tarefa difícil demais para um vampiro como você?

— Vou mostrar que não sou imprestável — murmurou. Antares não ficou mais tempo ali. Saiu, seguido por Casimir. Meu irmão apertou a boca, ainda irritado. Grunhiu:

— É bom ser o filho perfeito?

— A inveja não lhe cai bem. — O meu cinismo o irritou mais.

— Invejar o quê? Você ser tão necessitado de agradar nosso pai que se tornou essa máquina sem coração? Que obedece a tudo o que lhe mandam?

Mal terminou de falar, e eu já disparei em sua direção como uma flecha, tão rápido que só teve tempo de soltar arquejos quando sua cadeira caiu para trás. Eu o tirei do chão, agarrando seu pescoço com apenas uma das mãos, meus olhos ardendo tanto que os sentia cheios de sangue.

— Cassiu...

— Não confunda minha inteligência com suas idiotices, meu irmão — grunhi baixo, friamente, enquanto Caliban se debatia e tentava se soltar dos meus dedos. Apertei mais, cortando seu ar. — Desconhece o mínimo sobre família, honra e tradição. Se não fosse por mim, esse clã seria destruído por você.

— Me... larga... eu...

Sorri devagar, com desprezo.

— Esqueceu que podemos ficar muito tempo sem respirar? Pare de agir como um ordinário. — Empurrei-o contra a mesa, esfregando sua cara na fotografia. — Devia se preocupar com você, não comigo. E pensar no que fazer. Ela não parece fácil de ser seduzida.

Larguei-o e meu irmão se ergueu, esfregando o pescoço marcado por meus dedos. Os olhos estavam vermelhos, seu ódio fervia em minha direção, a palidez mais acentuada. Aos 197 anos, Caliban ainda não tinha aprendido algo que todos nós sabíamos desde muito cedo: dominar a si e às suas emoções.

— Não preciso que me ensine nada! Tenho qualquer mulher que quiser.

— Acha que Ravenna vai ser como as servas que cedem aos seus caprichos? Muitas por obrigação?

— Elas gostam e essa cadelinha não vai ser exceção. — Ajeitou o paletó e os cabelos no lugar, se empertigando. — Basta dominá-la mentalmente. Viverá aqui como as outras, se arrastando aos meus pés.

E farei o sacrifício de dar alguma atenção na cama, até engravidar. Só espero que não nasça um cachorro sarnento. Para mim, essa história do meu pai de misturar raças é uma palhaçada! Ele só quer me castigar!

Como sempre, Caliban achava que o mundo girava em torno dele e que todos estavam ali para servi-lo. Meu pai nunca depositaria as esperanças do Clã nas mãos de alguém como ele.

Não me movi quando saiu da sala, me mantendo na mira para não ser pego desprevenido. Meu olhar voltou a se fixar na foto, que parecia me fitar sobre um dos ombros. Lembrei-me de sua presença perto da cachoeira, com os cabelos espalhados, prestes a se despir.

Eu duvidava muito que fosse fácil, como meu irmão imaginava. Mas de uma coisa ele tinha razão: aquela história de misturar um vampiro puro com uma filha de Alfa Supremo era loucura.

Tínhamos provas que nossa espécie estava acabando com os cruzamentos, as inter-espécies. Não havia nada que provasse que com ela seria diferente, por isso meu pai testaria no filho que julgava mais fraco e desnecessário. Não na nossa irmã ou em mim, o futuro líder do nosso clã, já prometido para uma pura.

Apesar de ter minhas dúvidas sobre o sucesso daquela missão, eu faria tudo para que fosse levada até o fim. E quando eu começava algo, ninguém me parava até concluir. Podia não ser a máquina que meu irmão me acusava, mas era perfeccionista e determinado. Cumpria meu papel de líder.

Se havia alguma chance de uma espécie poderosa nascer entre um puro e uma suprema, eu descobriria.

Continuei olhando para Venna Thorne, esperando que ela fosse a peça que precisava ser manipulada e controlada para nossos objetivos.

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