Helena
O primeiro pensamento que me atravessa quando abro os olhos é: o que eu fiz?
O quarto ainda carrega o cheiro dele. Lençóis amassados, calor impregnado na pele, marcas visíveis e invisíveis espalhadas pelo meu corpo. O silêncio da manhã pesa sobre mim como um julgamento, e, mesmo assim, quando me movo, sinto a lembrança dele ainda em mim — profunda, ardente e impossível de apagar.
A vergonha me envolve como um véu. Mas junto dela, há algo mais perigoso: o desejo de repetir tudo.
Viro o rosto devagar e o encontro. Felipe está ali, deitado ao meu lado, o braço sobre o peito, o rosto relaxado como nunca vi. Aquele homem, que sempre parece afiado, calculista e implacável, dorme tranquilo. Há quase uma inocência em sua expressão, e isso me fere mais do que qualquer dureza.
Porque eu sei que não deveria vê-lo assim.
Não deveria querer guardá-lo assim.
Sinto como se estivesse traindo a memória de Edgar, e tudo o que ele representa para mim. E pior, traindo a mim mesma, e o juramento qu