Dante
As últimas semanas tinham sido mais tranquilas do que eu esperava — e, ao mesmo tempo, cheias de pequenas rachaduras que eu fingia não ver. A calmaria, pra mim, sempre foi um aviso. Como se o mundo estivesse respirando me preparando antes de mergulhar outra vez no caos.
Ester tinha insistido em voltar à rotina mesmo sem estar completamente recuperada. Primeiro, tentou convencer o Conselho de que estava pronta pra retomar o cargo na Glass. Queria aparecer nos eventos, fazer reuniões com sócios, soltar notas à imprensa. Mas não colava mais.
A verdade é que nem a empresa a queria por perto. A diretoria já não disfarçava o incômodo com a forma como ela tratava os funcionários. As reclamações eram frequentes. Falta de empatia, comentários agressivos, decisões impulsivas. A imagem pública dela estava se deteriorando — e isso, pra alguém como Ester, era o pior tipo de castigo.
Eu já tinha tomado minha decisão. Entrei na galeria de arte do Eduardo com os dois pés, sem medo algum de dar