DanteMeu dedo apertava o botão de chamada de novo, e de novo. Nada.O celular da Ester só ia pra caixa postal. Eu tentei o número da babá, o telefone fixo do antigo apartamento, até o porteiro. Tudo sem resposta.O apartamento estava vazio.Sem sinal de ninguém. Sem vestígios do bebê. Sem Leo.Senti a mão suar enquanto saía do prédio, o estômago embrulhado em um aperto que fazia parecer que a última refeição tinha sido há dias. Na verdade, eu nem me lembrava se tinha comido alguma coisa naquele dia.Entrei no carro e fechei a porta com mais força do que pretendia.Disquei o número da Olivia, mesmo sem saber o que ia dizer. Quando ela atendeu, meu coração pulou no peito, como se uma parte de mim estivesse esperando que ela dissesse que estava tudo bem — que o Leo tinha sido deixado por ali, que estava comigo o tempo todo e que isso era só um mal-entendido.Mas não era.— Liv...— Dante? O que aconteceu? Você tá com uma voz estranha.— Ela não tá lá — minha voz saiu engasgada. — Eu fui
Olivia FernandesA primeira coisa que me disseram sobre o que aconteceu com Ester foi que ela sobreviveu.A segunda, que ela escolheu ir embora.Dante não entrou em detalhes. Só disse que, depois que a equipe de resgate conseguiu tirá-la da ponte, ela ficou em observação alguns dias e, no primeiro momento de lucidez, assinou os documentos cedendo a guarda total do Leo e recusou qualquer tipo de contato.Ela não queria ajuda. Não queria acompanhamento, nem tratamento. Apenas silêncio. Um desaparecimento. Um adeus, não dito, mas definitivo.Dante, claro, ofereceu o que pôde. Conversou com os médicos, com os advogados, fez o que era certo mesmo sem saber se aquilo ainda adiantava. Mas, no fim, Ester só queria desaparecer.E foi o que ela fez.Por alguns dias, me perguntei se era cruel demais pensar com alívio ao imaginar que ela tinha ido embora. Depois disso, a vida não mudou de repente, mas aos poucos, como um animal assustado que começa a sair do esconderijo, se acostumando com o toq
Dante SalvatoreA galeria estava vazia, o silêncio cortado apenas pelo som baixo de um soul antigo tocando nos alto-falantes discretos espalhados pela cobertura. O terraço parecia uma cena tirada de um filme: luzes amarelas penduradas por fios quase invisíveis cruzavam o teto sob a lona translúcida. O ar quente da noite de verão deixava tudo com um peso gostoso, quase íntimo.Foi aqui que eu quis trazer ela. Pra lembrar o que é estar só nós dois. Sem Leo no colo. Sem planos pra amanhã. Só pele. Só desejo.Quando ouvi o som leve dos passos dela subindo, me virei com um sorriso. E quase perdi o fôlego.— Tá tudo muito bonito aqui — ela disse, surgindo na porta com aquele sorriso meio desconfiado, meio encantado. Estava usando um vestido leve, o cabelo preso no alto com algumas mechas soltas que emolduravam o rosto.— Eu queria impressionar — brinquei, indo até ela e pegando sua mão. — E me redimir um pouco por ter te roubado de Leo por uma noite inteira.— Falando nisso… — ela me olhou
DedicatóriaQuando comecei a escrever essa história, eu era outra. Animada e cheia de expectativas, esqueci que a vida tem das suas pegadinhas. Tive momentos difíceis, onde achei que não fosse superar e que me fizeram ficar meses sem atualizar, e por isso, peço desculpa mais uma vez aos leitores pela ausência. Mas, no entanto, como os personagens, fui lembrada diariamente de que a vida não é perfeita, mas tem seus momentos que fazem valer a pena. Não é fácil, mas não precisa ser fácil pra ser bonito quando precisa ser. Escrevi essa história para alguns que podem achar que é tarde demais, para mostrar que amor de mãe nasce no peito também, e que nunca podemos pensar que não há mais chance de viver o que merecemos. Espero que essa história tenha te levado algo bom, e agradeço por ter amado Olivia e Dante tanto quanto eu. Com carinho, Lia Oliver.____________________________________________Olivia FernandesEu sempre achei que o casamento fosse aquele momento do filme em que tudo se
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos