4 Melinda Narrando

Acordei cedo naquela manhã. Tomei um banho e, como sempre fazia na casa da minha mãe, desci para preparar o café da manhã. Estava quase terminando quando Pietro apareceu na cozinha. Ele parou na porta, surpreso ao ver que eu mesma tinha feito tudo.

— Foi você quem fez o café? — perguntou, com um sorriso surpreso.

— Sim — respondi, simples.

Sentamos juntos à mesa e começamos a comer. A verdade é que, apesar de tudo, eu estava tentando fazer esse contrato funcionar. Precisava do dinheiro para cuidar da minha mãe, e o acordo nos permitia manter nossas rotinas — eu poderia continuar trabalhando e tendo minha liberdade. Então… estava tudo bem.

Durante o café, Pietro me disse que havia contratado uma equipe para me ajudar com tudo naquele dia. Disse que, mesmo sendo um casamento de contrato, eu merecia ter tudo que uma noiva tem direito. Achei fofo.

Antes de sair, ele se aproximou, me deu um beijo na testa e voltou só para dizer que havia deixado um papel com algumas informações para eu ler. Pediu que eu escrevesse um pouco sobre mim, sobre o que eu gostava, já que poderiam nos perguntar isso depois.

Mais tarde, mandei uma mensagem pra ele:

“Gosto de coisas simples, como ficar em casa assistindo filmes. Como quase de tudo, mas sou alérgica a pimenta.”

Ele respondeu me dizendo que havia colocado que gostava de ter as coisas do seu jeito na empresa, mas que, em casa, curtia momentos tranquilos — e que nos conhecemos num bar. O que, tecnicamente, era verdade. Segundo ele, a história continuava com a gente se encontrando outras vezes até percebermos que estávamos apaixonados.

Enquanto eu terminava de revisar o que escreveríamos sobre “nós”, a campainha tocou. Abri a porta e vi várias pessoas. Um rapaz simpático se apresentou:

— Sou Heitor, e essa é minha equipe. Fomos contratados pelo senhor Pietro para cuidar de você hoje, no seu dia de noiva.

Deixei que entrassem e o dia começou. Me senti uma verdadeira princesa. Heitor cuidava de mim com tanto carinho que, brincando, falei:

— A partir de hoje, você está oficialmente responsável pelo meu cabelo!

Ele riu alto.

— Agora você tem um melhor amigo e uma melhor amiga numa só pessoa, meu amor!

Caímos na risada juntos.

Já eram cinco da tarde quando comecei a colocar o vestido com a ajuda de Heitor. O casamento seria às seis e meia. Em breve minha mãe chegaria, assim como o amigo da família do Pietro, que seria meu acompanhante até o altar. No fundo, eu gostaria que fosse meu pai… mas ele não estava mais aqui.

Enquanto me olhava no espelho, recebi uma ligação do Pietro. Ele avisou que sua mãe, dona Rosa, estava vindo para minha casa. Concordei.

Cerca de quinze minutos depois, a campainha tocou. Heitor me deu um beijo na bochecha, se despediu e foi abrir a porta. Para minha surpresa, quem entrou foi minha mãe — junto com a mãe do Pietro.

Ambas estavam radiantes, como se fossem amigas de infância. Assim que me viram, ficaram emocionadas. Começaram a conversar, rindo, lembrando do passado. Foi quando revelaram que eram, de fato, melhores amigas há muitos anos, mas haviam se distanciado com o tempo. Agora estavam ali, reunidas novamente para ver os filhos se casarem.

Inacreditável.

Saímos juntas rumo à casa da família do Pietro, onde aconteceria o casamento. Minha mãe me abraçou forte e disse, com lágrimas nos olhos:

— Desejo toda a felicidade do mundo pra você, minha filha.

Agradeci, com o coração apertado.

As duas entraram juntas, e logo depois chegou o amigo da família do Pietro. Ele me ofereceu o braço, sorrindo, e me conduziu até o altar. Pietro estava lá, me esperando. Quando parei à sua frente, ele sorriu, se aproximou e me deu um beijo na testa. Então nos viramos e o padre começou a cerimônia.

Quando chegou a hora dos votos, ele perguntou:

— Pietro, você aceita Melinda como sua esposa?

— Aceito.

— Melinda, você aceita Pietro como seu esposo?

— Aceito.

O padre sorriu.

— Então, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Pietro se aproximou e me beijou. Um beijo doce, intenso, cheio de promessas silenciosas. Só paramos porque nos faltava o ar — e porque todos estavam aplaudindo.

Ao sair, fomos recebidos com arroz sendo jogado sobre nós. Todos sorriam. Enquanto as pessoas vinham nos cumprimentar, sorriam e desejavam felicidades, eu tentava manter a pose. A noiva perfeita. A mulher que acabara de se casar com o homem dos sonhos de qualquer revista de negócios. Pietro estava ao meu lado, seguro, elegante, e me guiava com naturalidade pelo salão como se aquele casamento tivesse sido planejado por meses — e não decidido em uma madrugada qualquer.

Ele sussurrava palavras baixas no meu ouvido, apresentava pessoas, fazia piadas discretas que me faziam rir. Era difícil lembrar que tudo aquilo era um acordo. Um teatro. Um contrato.

Mas… e se não fosse?

De vez em quando, nossos olhares se cruzavam e eu me perguntava se ele também sentia aquilo. Aquela coisa esquisita no peito. Uma confusão morna entre conforto e expectativa. Um medo bobo de gostar da convivência. Um desejo de não querer que tudo aquilo tivesse data para terminar.

Durante a primeira dança, Pietro me puxou com delicadeza para o centro do salão. As luzes se tornaram suaves, a música começou a tocar — uma melodia lenta, daquelas que aquecem a alma — e eu me deixei levar. Ele segurava minha cintura com firmeza, como se quisesse me manter ali por mais tempo. E, quando nossos olhos se encontraram novamente, eu vi. Nos olhos dele. Algo mais.

— Você está bem? — ele perguntou, baixinho.

Assenti.

— Só estou… tentando acreditar que isso está mesmo acontecendo.

Ele sorriu, sem desviar os olhos dos meus.

— Eu sei. Parece meio surreal mesmo. Mas você está indo muito bem no papel de esposa.

— E você no de marido perfeito.

— Eu sou bom em interpretar. — piscou.

Sorri de volta, mas, no fundo, me perguntei se estávamos mesmo interpretando. Ou se, pouco a pouco, estávamos sendo engolidos pelo roteiro que criamos.

A festa seguiu com comida, música e alguns brindes emocionados. Minha mãe não parava de sorrir. Em alguns momentos, a peguei observando Pietro como se o estivesse avaliando — e, curiosamente, parecia aprovar o que via. Rosa, a mãe dele, também não poupava elogios. Em um determinado momento, as duas se afastaram juntas, dizendo que precisavam “colocar o papo em dia”. Eu nem sabia que elas tinham tanto passado juntas.

Já era noite quando os convidados começaram a se despedir. Um a um, cumprimentavam Pietro, me abraçavam, e saíam. Quando o salão finalmente esvaziou, me vi sozinha com ele.

— Hora de ir pra casa — disse ele, me oferecendo a mão.

Aceitei.

Durante o trajeto de volta, fiquei em silêncio, olhando pela janela do carro. A cidade parecia diferente, como se eu a visse por outros olhos agora. Talvez fosse o vestido, a maquiagem, ou o fato de estar casada. Mesmo que fosse de mentira.

Ao chegarmos, Pietro abriu a porta do carro e me ajudou a sair. Estávamos de volta à nossa — nossa — casa. A empregada já havia deixado tudo arrumado. Um buquê de flores me esperava na sala com um cartão pequeno, escrito com a letra firme de Pietro: “Você foi incrível hoje. Obrigado por tornar tudo mais fácil.”

— Foi você quem deixou isso? — perguntei, emocionada.

— Achei que um gesto simbólico não faria mal.

— Fez bem. — sorri, abraçando as flores contra o peito.

Subimos as escadas em silêncio. Ele parou diante da porta do meu quarto, e eu diante da dele. Por um segundo, ficamos ali, um olhando para o outro.

— Boa noite, esposa contratada — disse ele, num tom leve.

— Boa noite, marido improvisado.

Ele riu, e eu também. Mas antes de entrar no quarto, ele se aproximou, devagar, e me deu mais um beijo na testa. Um gesto tão simples, mas que me desmontou por dentro.

— Qualquer coisa, estarei no quarto ao lado — sussurrou.

Assenti e entrei. Fechei a porta devagar. Encostei as costas nela e respirei fundo, tentando controlar o turbilhão de sentimentos dentro de mim.

Pietro não era só charme ou riqueza. Havia algo nele que me confundia. Algo que me fazia querer conhecê-lo além do contrato. Além dos termos assinados e do acordo silencioso.

Sentei na beira da cama, tirei os brincos, o colar… e então me deitei, olhando para o teto.

Sim, era um casamento por contrato.

Mas o problema é que… estava começando a não parecer. E isso, eu sabia, era perigoso.

Muito perigoso.

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