Era manhã de sábado. O sol já subia alto no céu, invadindo o quarto com uma luz dourada. O telefone tocava sem parar em algum canto. Alexandre saía do banheiro, secando o cabelo com a toalha, e eu o observava com uma atenção quase devocional — o peito largo, a cintura firme, a nudez sem pressa. Cada detalhe dele parecia moldado entre o descuido e a intenção.
— Não vai atender? — perguntou, sem me olhar.
— É o seu. — respondi, ainda o acompanhando com os olhos.
Como ele seria no futuro? As pessoas pareciam estar rejuvenescendo. Os homens de quarenta pareciam ter trinta. Os de cinquenta, quarenta. Meu avô, com sessenta, estava acabado... mas eu não conseguia ver Alexandre assim. Ele era diferente. Inquietante. Intenso.
— Atende, mulher, tô ocupado. — disse, ainda enxugando o cabelo, vasculhando a gaveta.
Peguei o celular no bolso da calça dele. O nome na tela me travou os dedos.
— É a Maria Clara. — anunciei. Ele nem sequer se virou.
— Alô? — atendi, hesitante. A última lembrança dela a