Capítulo 15
Luna
O carro ainda estava lá quando voltei para a cama. Mas eu me forcei a deitar, mesmo que o sono não viesse. Fiquei encarando o teto por tempo demais, ouvindo os próprios pensamentos ecoarem. Eles vinham em ondas, como marés imprevisíveis: culpa, desejo, desconfiança. Cada emoção carregando um rosto. O de Marcelo. O de Dante. E o meu — refletido num espelho que já não reconhecia.
O beijo ainda queimava nos meus lábios. A memória dele era um peso confortável e perigoso, como um cobertor quente em noite de tempestade. O problema é que eu sabia que não podia me cobrir por completo. Sabia que, em algum momento, o cobertor viraria armadilha.
E Dante… Ele tinha sido paciente. Gentil. Não forçou. Disse que esperaria.
Mas por quanto tempo?
Pela manhã, ele não mencionou nada. Tomamos café juntos em silêncio, como se o que tivesse acontecido na noite anterior tivesse sido apenas um sonho comum. Mas havia algo no olhar dele — uma ternura contida, quase cautelosa — que me dizia que