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03. O Passado de Matteo

A chuva havia parado. O amanhecer de Nápoles - cinzento, lento, carregado de nuvens - parecia refletir o humor de Matteo DeLuca.

Ele estava de pé diante da janela panorâmica do edifício onde morava, um arranha-céu de vidro e aço que dominava o horizonte. As mãos apoiadas nos bolsos da calça, o rosto cortado pela luz fria do dia nascente.

O reflexo no vidro mostrava um homem impenetrável, mas o silêncio em volta denunciava algo que o incomodava profundamente.

Matteo não costumava mostrar os dentes , ou seja , não sorria muito . Sempre foi um homem muito sério , aquele tipo de pessoa que parece que está sempre de mau humor . Talvez seja reflexo de uma infância um pouco complicada . Matteo foi uma criança que  cresceu longe do pai . Seus pais se separaram quando ele tinha apenas 5 anos . Se encontrava com seu pai de vez em quando . Sua mãe  teve outros namorados. As vezes levava um ou outro namorado para dentro de casa . Matteo nunca gostou disso . E quando se queixava disso , a mãe dava bronca , ficava brava . 

O tempo passou . Matteo saiu de casa aos 16 anos . Decidiu que tinha que seguir com a própria vida . Porém , para se manter , Matteo andou por caminhos tortuosos . Cometia pequenos crimes . Furtos em lojas , supermercados e lojas de conveniência . Quando conseguia comprar alguma coisa no fiado , nunca  voltava para pagar . Enganava pessoas , mentia o tempo todo . Aplicava golpes por onde passava . 

Se tornou uma pessoa ambiciosa . Queria mais , muito mais . Ao passar do tempo , fez amizades , contatos , com pessoas que também trilhavam caminhos errados , frequentava lugares perigosos . Lugares comandados por pessoas perigosas . 

Aos 20 anos , se tornou o braço direito de Frederico Lupiani. O maior contrabandista de bebidas falsificadas . Depois que conquistou a confiança de Frederico , a vida de Matteo se transformou  . Da noite para o dia , Matteo ganhou muito dinheiro . Houve um tempo que ele nem tinha onde dormir , e nem o que comer. Agora Matteo mora em uma cobertura caríssima , tem carros de luxo , veste as roupas das melhores marcas , tem dinheiro para viajar para onde quiser. 

Os subordinados de Frederico , também devem obediência  a Matteo . 

Os anos passam rapidamente . Frederico adoeceu . Sua idade já estava avançada . Na cama de hospital, internado , desenganado pelos médicos , Frederico já sabia que ia morrer . Mandou chamar Matteo . 

- Matteo , você sabe o quanto eu confio em você . Sempre tive um carinho especial por você . Sempre te tratei como um filho . 

- Eu sempre serei grato ao Senhor . Muito obrigado por tudo  o que eu Senhor fez por mim  . Jamais terei como pagar . - disse Matteo segurando as lágrimas , afinal de contas , nunca gostou de demonstrar emoções. 

- Prometa para mim que você ocupará o meu lugar . Você vai conduzir os negócios . Vai ser melhor do que eu fui . Quero que você coloque em prática tudo o que você aprendeu comigo  . 

-  Mas será que todo mundo vai concordar com esta decisão?  O Senhor já falou isso com mais alguém?

- Todo mundo sempre soube disso , Matteo. Eu dei ordens para que ninguém dissesse a você . Você será um grande líder . Tenho certeza disso . 

- Muito obrigado Chefe.  Nem sei como agradecer  .

- A única forma de me agradecer  é :  trabalhando e liderando esse grupo . 

- Sim , Senhor . Vou trabalhar e liderar da melhor forma que eu puder  . 

E assim que Matteo saiu do quarto ,  poucas horas depois , os médicos comunicaram que Frederico tinha falecido . 

Matteo cumpriu exatamente o que tinha prometido . A máfia de bebidas falsificadas multiplicou a clientela . E com isso ,  a movimentação de dinheiro também se multiplicou . 

Todos os esquemas , todos os movimentos , todas as operações , eram meticulosamente planejadas e calculadas  . E os negócios aumentavam . Tudo muito bem planejado . O objetivo era não deixar pontas soltas pois sabiam que a polícia poderia descobrir alguma coisa eu simplesmente desconfiar . 

Mas nesse mundo , mafiosos podem acabar escorregando . Quando algum cliente dava calote , comprava e não pagava , a regra era fazer o acerto de contas . Entre um caso e outro , a notícia chegou aos ouvidos da polícia . E desde então , os policiais e investigadores passaram a seguir Matteo e seu grupo . As  coisas mudaram um pouco . A tranquilidade de antes já não existe mais  . A polícia estava na cola de Matteo. 

E mais uma vez , a vida de Matteo se transformou . Mas desta vez , para pior.  

Durante  mais um acerto de contas que tinha sido milimetricamente planejado , tinha uma testemunha ocular : Sofia Almeida . Que não estava milimetricamente planejado . 

Em seu apartamento de luxo , olhando pela janela, observando a beleza  da cidade , Matteo parecia pensativo. 

Atrás dele, a porta se abriu sem som.

Morandi seu braço direito, entrou. Vestia terno escuro, gravata frouxa e o olhar atento de quem já conhecia bem os monstros que o mundo escondia.

- Com licença , Chefe. Trouxe as informações sobre a garota. -  disse, colocando uma pasta sobre a mesa.

Matteo não se virou.

 - Diga.

Morandi abriu o fecho metálico e começou a ler:
- Sofia Almeida, vinte e cinco anos. Bailarina clássica. Trabalha no Teatro Imperial desde os dezoito. Sem antecedentes, sem vínculos familiares próximos. Vive sozinha num apartamento alugado em Trastevere.

Matteo permaneceu imóvel, o olhar fixo no vidro.

-  Sozinha? -  repetiu, baixo.  -  Informação interessante.

-  Sim, senhor. -  Morandi hesitou.  - Quer que eu cuide disso? Posso fazer parecer um acidente.

Matteo finalmente se virou.

A luz fria da manhã revelou o contraste violento entre a serenidade do rosto e a escuridão dos olhos.

- Se eu quisesse que ela morresse, Morandi, já estaria morta.

Morandi sustentou o olhar por um segundo, depois concordou, respeitoso.

- Então o que fazemos, Chefe ?

Matteo aproximou-se da mesa, folheou lentamente a pasta. As fotos em preto e branco mostravam Sofia no palco, o corpo em movimento, o rosto concentrado, as mãos delicadas. Havia algo de trágico em cada imagem - como se dançar fosse sua forma de se comunicar com o  mundo.

- Ela viu demais - disse ele, finalmente.  - Mas não sei se ela entendeu o que viu.

Morandi cruzou os braços : 

- Tome cuidado , Chefe . Uma testemunha é sempre um risco . Não podemos ficar a mercê de ninguém.

- Uma mulher com medo....fala . - Matteo ergueu o olhar. - Uma mulher com algo a perder.... se cala.

Silêncio.

Morandi o observava, intrigado.

- Está planejando usá-la ?

Matteo desviou o olhar para o horizonte.

- Ainda não sei . 

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