Jéssica caminhava para a sala de atendimentos, ainda um pouco atordoada com o que acabara de acontecer. Assim que se acomodou, um buquê de flores foi entregue, acompanhado de um cartão discreto. Ao ler a mensagem, franziu a testa com desgosto: “Me ligue, precisamos conversar. — Leonardo.”
Ela não respondeu de imediato, o descaramento daquela frase pairando no ar como uma provocação. Estava em um turbilhão de sentimentos, mas não tinha qualquer intenção de ceder à pressão emocional de Leonardo.
— Esse idiota acha mesmo que vou me rastejar atrás dele? — murmurou. — É muita cara de pau.
Ia jogar as flores fora, mas hesitou. As flores eram belas. Inocentes até.
— Glória, coloca lá na sala de descanso de vocês.
— Que lindas, doutora! A senhora não vai lev
Clara entrou no escritório com um sorriso satisfeito nos lábios, seguida por Amanda, assistente de Leonardo, que trazia uma notícia que a beneficiaria muito. Ela se aproximou, sentou-se com elegância e, sem perder tempo, soltou a informação que fazia seu coração bater mais forte.— Leonardo, tenho uma grande novidade. Fechei uma turnê fora do país. Serão 30 shows em 15 países diferentes. — Clara falava com um brilho nos olhos, a expressão de quem sabia o poder que essa notícia teria sobre ele.Leonardo levantou os olhos, sentindo a ansiedade tomar conta de seu corpo. Ele não gostava da ideia de se afastar de casa agora, ainda mais em um momento tão delicado, com tudo o que acontecia com Jéssica e Breno. O som daquelas palavras reverberou na sua mente, e logo ele tentou esconder o desconforto.— Trinta shows? Isso da
Leonardo chegou à escola para o trabalho social. Tinha tanto charme pessoal que, mesmo com o ocorrido com Jéssica e Hugo, conseguiu manter o plano e continuar frequentando a escola. A única questão era que não poderia se aproximar de Breno novamente, sob o risco de acabar com tudo. Achou a condição injusta, mas, enfim, preferia vê-lo de longe do que não vê-lo.Caminhava para a sala que receberia a turma nova e viu um aluno na turma de educação. Breno estava entre eles, jogando basquete de maneira incrível. O homem olhava com orgulho, vendo que o filho herdara as habilidades dele para os esportes. Leonardo teve que se controlar muito para não ir até lá e jogar com o menino.— Professor, já estamos prontos. — Uma aluna o chamou para a sala de música, retirando-o do momento de pai coruja.— Ok. Vamos lá... Quero saber o
Jéssica recebeu a ligação da escola e atendeu de imediato.— Olá, dona Jéssica, aqui é a Fabiana, secretária da escola. Está tudo bem com as crianças, mas a diretora gostaria de falar com você. Pode atender agora?— Claro. Pode passar. — Jéssica se acalmou ao saber que os filhos estavam bem.— Boa tarde, senhora Jéssica. Preciso falar sobre o Caio. Ele veio até a secretaria hoje e manifestou o desejo de fazer as aulas de música com o senhor Leonardo. — A diretora foi direto ao ponto.— Olha, já dissemos a ele que não queremos que ele tenha contato com o Leonardo e que não poderá fazer as aulas.— Sei, mas acontece que ele questionou a escola dizendo que tem direito de participar, como todos os outros alunos. E, de fato, Jéssica, nós não podemos proib
Jéssica foi buscar os filhos com cara de poucos amigos. Breno e Caio saíram de mãos dadas, meio que tentando esconder um ao outro, como se pudessem se proteger. Sabiam que a mãe não estaria nada feliz com o que haviam feito. Os adultos às vezes não entendiam muito bem certas coisas da vida.— Em casa vamos conversar direitinho sobre o que você fez, Caio — Jéssica estreitou o olhar na direção do menino.— Ele não fez nada, mãe. Foi tudo culpa minha. Eu que fui falar com o professor, porque meu irmão tem todo direito de fazer a aula — Breno correu para defender o irmão.— O que aconteceu? — Maria, que havia almoçado com as amigas, não sabia do ocorrido.— Você foi falar com o Leonardo, filho? Depois de tudo o que ele fez? Sabe que deve ficar longe dele.Breno baixou a cabeça, enve
Leonardo entrou em casa assobiando baixinho, com um sorriso solto no rosto. A alegria era rara, mas naquele dia ele estava leve. O telefonema de Jéssica mexeu com ele mais do que gostaria de admitir. Talvez devesse mandar uma mensagem de boa noite. Uma mensagem simples, despretensiosa. Só para manter o fio do contato aceso.Clara apareceu na sala com passos suaves, vestida em um robe de seda bege que fazia questão de parecer casual, mas era calculadamente provocante.— Chegou animado, hein? — Ela sorriu, se aproximando para lhe dar um beijo cheio de intenção. — Vai me contar o motivo desse bom humor?Leonardo se deixou envolver e, com uma risada, contou.— Nada demais… o projeto social. Está dando certo, sabe? Eles estão fazendo aquilo com amor. Dá pra ver no jeito que tocam, no brilho nos olhos. Estão ali pela música.— Que lindo isso… — Clara forçou um sorriso, mas o maxilar tenso denunciava sua irritação. — E você pretende continua
Leonardo chegou à escola com a expectativa nas alturas. Imaginou que Caio não apareceria para a aula, acreditando que Jéssica tinha dado um jeito de fazer com que o menino desistisse de vez.Ele próprio estava muito inclinado a aceitar a proposta da turnê. A possibilidade de dividir o palco com seu maior ídolo mexia profundamente com sua alma. Seria a consagração do seu momento, a realização de um sonho acalentado desde a infância em Pedra Branca. Um daqueles acontecimentos que pareciam pertencer apenas aos filmes.Seu coração ainda batalhava internamente, tentando decidir se deveria ou não aceitar, quando a turma de Caio chegou à sala.A atenção do músico foi imediatamente capturada. Para sua surpresa, o menino estava ali. E mais do que presente — estava concentrado, verdadeiramente focado nos exercícios.— Bom, garotos e garotas... vamos ver o quanto vocês sabem de música. Escolham seus instrumentos — disse Leonardo, com um gesto amplo, in
Leonardo chegou em casa profundamente tocado, ainda sob o efeito do tempo que passou com Caio. O menino tinha um talento puro — uma daquelas raridades que emocionam só de ver.— Olha, essa turma está mesmo mexendo com você. É o segundo dia que chega assim tão feliz — disse Clara, aproximando-se com um belo sorriso. Sua insatisfação com a alegria dele por estar naquela cidade — perto demais da própria família — era enorme, mas ela disfarçava impecavelmente.Ele se aproximou e lhe deu um beijo satisfeito.— Hoje eu encontrei um aluno que, francamente... não se vê todo dia. O menino tem um talento nato, e é tão sensível. Foi uma das melhores aulas que tive até hoje na escola.Leonardo se deu conta de que Caio era filho de Clara e a olhou com curiosidade. Será que ela teria algum talento para a
Clara estava apavorada. Tremia com o papel nas mãos, caminhando de um lado para o outro, em completo desespero.— Como nos acharam? Era pra pensarem que tínhamos ido embora! — Ela manipulava o papel nervosamente.Leonardo tentou oferecer alguma tranquilidade para que pudessem pensar melhor sobre o que fazer.— Clara, calma. Não é o fim do mundo.— Claro que é! Olhe o que está escrito! Estão inventando coisas sobre nós. Imagina a humilhação de voltar naquela cidadezinha pobre, com aquela gentinha atrasada...— Pedra Branca não é tão ruim... E sejamos sinceros: a chance disso aqui não dar em nada é grande. — Leonardo abandonou a intimação e caminhou até Clara, tentando apoiá-la.— Leonardo, eles estão cobrando coisas! Querem o nosso dinheiro!&