Richard observava o céu nublado de sua propriedade em New Haven, a mente inquieta com os últimos acontecimentos. Sua filha, Kayla Prescott, finalmente havia sido encontrada. Durante dezesseis anos, ela crescera longe dos olhos da família, perdida após um episódio trágico que até hoje ele não compreendia completamente, apesar de sempre continuar investigando.Criada em um orfanato católico, Kayla jamais soubera da verdade sobre suas origens. E agora, aos dezesseis anos, retornava para o lar dos Prescott, sem imaginar a extensão do legado que carregava.Richard observava os filhos com atenção. Ainda que Kayla fosse uma recém-chegada à mansão Prescott, ele já sentia o peso de sua presença como se sempre tivesse feito parte daquele lar. Mas a verdade era mais dura: ele só soube do paradeiro da filha quando ela completou quinze anos. Durante todo esse tempo, ela vivera em um orfanato católico, sem saber nada sobre sua verdadeira origem. Apenas após uma investigação meticulosa e discreta fo
P.D.V de Kayla "Era escuridão. Mas eu sentia." O mundo era quente e frio ao mesmo tempo. Cheiros fortes — terra, sangue, fumaça. Sons cortavam o ar como lâminas: gritos, rosnados, trovões. Tudo era barulho demais. Tudo era muito. Meus olhos mal enxergavam, mas a luz piscava e doía. Algo brilhava no alto, uma esfera vermelha no céu. Era assustadora, mas também hipnotizante. Eu chorava. Meus pulmões pequenos tremiam de tanto esforço, e ainda assim, algo em mim resistia. Havia braços em volta de mim. Um toque trêmulo, apertado, mas reconfortante. Pele quente, o coração batendo rápido demais. Um cheiro doce, familiar, como se aquela pessoa me pertencesse mesmo que eu não soubesse por quê. Um sentimento profundo — segurança. Amor puro. Dor também. Essa pessoa falava. A voz era suave, mas cheia de lágrimas. Cada palavra parecia embalada com uma promessa. Eu não entendia, mas minha alma ouvia. Luzes dançavam ao nosso redor. Elas vibravam em meu corpo. Eu sentia meu peito quente, como se
P.D.V de Kayla Depois de um dia surpreendentemente tranquilo na escola, eu estava de volta à mansão. As vozes da minha nova rotina ecoavam baixas pelos corredores, e por um breve instante me permiti acreditar que as coisas talvez estivessem se encaixando. Talvez, por fim, alguma estabilidade estivesse começando a surgir. Mas aquele pensamento durou pouco. A governanta Lucille me avisou que Richard queria falar comigo no escritório. Um arrepio atravessou minha espinha. A formalidade daquilo, o jeito como foi dito, como se fosse algo sério. Me tirou da calmaria. O escritório dele era sóbrio, cheio de livros antigos, móveis de madeira escura e cheiro de couro envelhecido. Richard estava encostado na escrivaninha, olhando pela janela quando entrei. Só se virou quando fechei a porta atrás de mim. — Kayla — disse com a voz baixa, quase hesitante. — Sente-se, por favor. Obedeci. Esperei em silêncio, sentindo meu coração acelerar devagar. — Queria conversar com você sobre a sua origem —
P.D.V de KaidenA casa estava mais silenciosa do que o normal quando cheguei. Um silêncio espesso carregado. Como se algo no ar estivesse esperando para acontecer.Mal fechei a porta atrás de mim, Gustav, nosso mordomo, apareceu no corredor com o semblante tenso.— Seu pai pediu pra você ir até o escritório assim que chegasse.Assenti, engolindo o nó que começava a se formar no estômago. O corredor até o escritório parecia mais longo do que nunca. Cada passo ressoava pesado, como se meu corpo já soubesse que algo importante estava prestes a acontecer — mesmo que minha mente tentasse negar.Bati na porta uma vez.— Entre — disse a voz grave do meu pai.Abri. Kayla já estava lá dentro.Meu peito apertou só de vê-la. Sentada na poltrona ao lado da mesa, os olhos arregalados, como se lutasse para entender algo grande demais. Richard estava de pé, braços cruzados, rosto mais sério do que o habitual. Quase sombrio.— Senta, filho — ele disse, apontando para a cadeira vazia à minha frente.F
P.D.V de KaidenMeu lobo foi desperto há três anos atrás, eu tava completando dezessete anos, foi incrível quando o descobri a primeira vez, mas meu pai e minha mãe acharam ele diferente. Meu pai sorriu, minha mãe ficou mais cautelosa e cuidadora e tudo mudou. As garotas também ficaram ao meu redor como mariposas em volta de um lampião. FLASHBACK A lua cheia pairava alta, pesada, derramando sua luz prateada sobre a clareira ancestral. Eu já sabia o que esperar. Desde que me entendo por gente, fui preparado para aquele momento. Meu pai dizia que lobos como eu não esperavam pelo chamado — nós o sentíamos desde o ventre. E ele estava certo.Naquela noite, o chamado era ensurdecedor dentro de mim.Minha mãe me envolveu num abraço silencioso antes de se afastar apenas o necessário, posicionando-se ao lado do meu pai. Os dois estavam ali, firmes, como pilares ancestrais. Meus pais não me protegiam daquela dor — eles me honravam por enfrentá-la.Eu respirei fundo.A pulsação se acelerou, e
P.D.V de KaidenE então ela chegou. E tudo dentro de mim mudou. Tudo em Perses mudou também.O cheiro dela era inacreditável. Não era apenas agradável — era viciante, primordial, como o perfume de uma floresta viva depois da tempestade. Um chamado ancestral. O calor que emanava de seu corpo me aquecia por dentro, derretendo as paredes que eu havia construído ao redor do meu instinto. Mas o que me quebrava por completo era a voz dela.A voz de Kayla tinha o poder de acalmar a fúria de Perses com um sussurro. Ela pacificava minha alma quando eu estava à beira do colapso. E mesmo que sua loba ainda dormisse em silêncio dentro dela, eu sentia que ela me reconhecia. Que me queria.Eu a queria com cada fibra do meu ser. E Perses?Perses a desejava com um fervor que jamais tivera antes. Ele a escolheu no primeiro instante.Faltava apenas uma semana para o despertar da loba dela, ela completaria dezessete anos e haveria a lua de sangue. E nesse tempo, Stella ainda rondava. Tentava manter sua
P.D.V de Stella SullivanEles chegaram juntos mais uma vez.Kayla, com aquele sorriso fácil e a risada leve, andando ao lado de Kaiden como se estivessem em seu próprio mundinho particular. Ela brincava, empurrava de leve o ombro dele, e ele sorria, aquele sorriso que costumava ser só meu, se bem que, analisando bem, ele nunca sorria assim para mim. Meu peito apertou de novo.Eu estava ali, parada no pátio, fingindo conversar com minhas amigas, mas meus olhos estavam fixos nos dois. Desde que Kayla apareceu — ou melhor, desde que foi trazida de volta como parte da família Prescott — tudo começou a mudar. Ela chegou como quem não queria nada, frágil, perdida e agora está ali, dominando os olhares, o espaço, o tempo dele. Do meu Kaiden.Nós namoramos por quase um ano. Eu conheço o cheiro dele, o toque dele, os humores dele. Eu conheço o jeito que ele olha quando está prestes a se transformar, o modo como seu lobo, Perses, reage ao toque. Ele era meu. Era.Eu me preparei a vida inteira p
P.D.V de Kayla Ao sair da escola, dei de cara com Kaiden.Meu humor já estava um caos, e o nó no meu peito parecia apertar ainda mais.Como ele pôde esconder de mim que namorava a Stella? Ou que namorou? Já nem sei mais, afinal ela falou que ainda está com ele.Desde o dia em que a conheci — aquele dia maldito —, meu coração ficou com dúvidas e uma sombra se instalou dentro de mim.Uma inquietação que nunca desapareceu. Nenhuma outra garota jamais ousou tocá-lo com tanta intimidade, falar com ele com tanta familiaridade. Só ela.E agora tudo fazia sentido.Poucos minutos antes de encontrá-lo, meu celular vibrou repetidamente, como se estivesse tentando me alertar de uma tragédia iminente.Quando peguei o aparelho, uma enxurrada de prints saltou na tela.Cada imagem era uma facada no meu orgulho, uma confirmação cruel das palavras venenosas que Stella me lançara mais cedo naquele mesmo dia.As mensagens gritavam diante dos meus olhos, em letras afiadas que queimavam como ácido:"— Ste