P.D.V de KaidenA porta do quarto de Kayla se fechou com um clique suave às minhas costas. Me afastei devagar, como se cada passo longe dela pesasse o triplo. A casa estava mergulhada no silêncio espesso da madrugada, mas dentro de mim, era só caos.Voltei para meu quarto, e cada metro percorrido parecia uma sentença. Meus sentidos ainda estavam em alvoroço — e não por Kayla, não diretamente.Era Stella.Fechei a porta atrás de mim e encostei a testa nela, inspirando fundo. Tentei apagar o cheiro dela do ar, do corpo, da memória. Mas era inútil. Ela tinha me tocado de novo com aquele perfume — aquele cheiro que antes não passava de uma lembrança distante. Que já não nos afetava. Por meses, nem eu, nem Perses reagíamos mais. Stella nunca foi nossa alma gêmea. Nunca teve esse poder.Mas algo naquela noite, algo estava errado.O cheiro dela estava diferente. Havia algo novo. Algo que não deveria estar ali — e estava. Um tom quente, familiar. Algo que fez Perses parar. Hesitar. Como se, p
P.D.V. de Stella SullivanTinha acabado de sair da casa de Kaiden. Era tarde da noite, e a cidade estava mergulhada num silêncio desconfortável. Sirenia, minha loba, rosnou baixo — não era medo, era alerta. Percebi então que havia um homem por perto. Ele não nos seguia exatamente, mas observava a casa. Vigiava.Não o reconheci. Mas havia algo... estranho nele. O cheiro era incomum — não era lobo, nem bruxo, nem mago. E ainda assim, ele exalava uma presença marcante. Uma aura que irradiava conhecimento. Nós, lobos, conseguimos ler isso. E a dele... era diferente. Complexa. Refinada. Nunca o vi por aqui antes.Decidi me aproximar com furtividade, movendo-me pelas sombras para surpreendê-lo.— Boa noite, senhor... Está muito interessado naquela casa? Conhece alguém lá?Ele se sobressaltou, mas rapidamente se recompôs, como se reorganizasse o próprio eixo.— Na verdade, sim. Uma ex-aluna minha. Excepcional. Linda. Especial... muito especial.Na hora pensei em Kayla. O jeito que ele falou,
Ponto de Vista de Eleanor PrescottA encontrei sozinha, absorta em pensamentos — o que, vindo de Stella, era incomum. Aproximar-me dela foi quase instintivo, como se algo me puxasse. O cheiro dela… estava diferente. Artificial. Havia um fundo químico incômodo, como se algo impuro estivesse tentando mascarar o natural. Aquilo me incomodou mais do que eu gostaria de admitir. Mas eu tinha um propósito claro, e não seria desviada por intuições desconfortáveis.Ela percebeu minha aproximação e levantou o olhar, fria e calculista. Nada em sua expressão indicava surpresa ou desconforto.— Olá, Srta. Sullivan — comecei, direta. Meu tom era firme, quase cortante. — Precisamos conversar sobre certos limites que devem ser respeitados.Não estava ali para rodeios ou conversas triviais. E ela sabia disso.— Luna, eu não entendi. Kaiden e eu somos namorados. É sobre isso que a senhora está falando?A forma como ela disse "namorados" me causou náusea. Havia cinismo no tom, e uma arrogância velada qu
P.D.V. de KaylaUma semana passou num piscar de olhos. Tudo parecia acelerado, como se o tempo tivesse engatado uma marcha que eu não controlei. Mas aprendi muito sobre a cultura Garou, fiz pesquisas também sobre a tal profecia, o que não se sabia muito, afinal a última herdeira do Dom foi há quase mil anos atrás, mas estudei muito sobre os conflitos também, os territórios, as leis e costumes, Ivy se aproximou ainda mais de mim, principalmente depois que contei o que aconteceu, estudávamos juntas também. Ela despertaria sua loba no mesmo dia que eu.Kaiden está sempre por perto. Não invade meu espaço, mas ronda — insistente, presente — como mosca em vitrine de padaria.Hoje à noite acontece o evento da Lua de Sangue. Estou animada, claro, mas também ansiosa. Nervosa. Depois disso, terei um ano inteiro para treinar, aperfeiçoar minhas habilidades e, principalmente, decidir sobre meu companheiro.Essa última parte, no entanto, talvez nem precise de tanto tempo. No fundo, eu sei o que é
P.D.V de KaylaA praça cerimonial era imensa, esculpida em pedra antiga e circundada por árvores que pareciam ter presenciado os primórdios do mundo. O céu estava limpo, e a Lua de Sangue se erguia lentamente, tingindo o espaço com um brilho escarlate místico. O ar vibrava com expectativa. Toda a estrutura do salão a céu aberto parecia pulsar com a presença espiritual de nossos ancestrais.Richard Prescott, o Alfa da nossa matilha, subiu os degraus do altar central. A luz da lua realçava os traços fortes de seu rosto e a autoridade em seu porte. Quando ele ergueu os braços, o silêncio caiu como uma manta sobre todos.— Irmãos e irmãs! — a voz de Richard ecoou com clareza e poder. — Esta é a Noite da Lua de Sangue. Uma noite rara, sagrada. Um marco no ciclo da Criação e da Ruptura.Ele girou sobre os calcanhares, olhando para cada um dos representantes das demais matilhas. Um por um, eles avançaram, com vestes cerimoniais e o peso dos seus legados nos olhos. Representantes de cada mati
P.D.V de Kayla Eu o encarei, paralisada. Meus olhos fixos naquele rosto conhecido, detestável, que minha mente tentou enterrar por anos — Dr. James Morrison. Um nome que ainda soava como veneno. Um dos professores do colégio interno onde estudei. Eu tinha apenas doze anos... e ele tentou me seduzir.O nojo me golpeou como uma onda violenta. Eu sabia que ele fazia o mesmo com outras garotas. Eu vi várias vezes, ele fazendo sexo com elas, todas as vezes eu denunciei, mas então as outras meninas que ele havia seduzido, usado e abandonado, ainda assim choravam, negavam, suplicavam indo em defesa dele, juravam que nada havia acontecido.Ele saia impune. Mas quando tentou contra mim, eu denunciei e eles acreditaram finalmente e o expulsaram.E agora, ali, diante de mim, o destino ousava me pregar essa peça grotesca?Um vínculo com ele?Meu estômago revirou. A náusea subiu como fogo ácido pela garganta. Ele nem sequer é um lobo. Ele não pertence ao meu mundo, à minha essência, à minha linha
Chegada de Kayla ao Orfanato St. Joseph’s Haven for ChildrenA neblina pairava baixa naquela manhã fria de outono, envolvendo em silêncio os arredores do St. Joseph’s Haven for Children, um orfanato católico situado nos arredores de uma pequena cidade americana. Os portões de ferro se abriram com um rangido suave, dando passagem ao carro preto do serviço social que avançava lentamente pela alameda coberta de folhas secas.Nos braços da assistente social, uma bebê recém nascida, observava o mundo com olhos azuis límpidos, grandes e silenciosos como um lago em pleno inverno. Seu cabelo loiro, puxado para um tom quase cobre, caía em mechas desalinhadas sobre a testa, contrastando com a palidez impecável de sua pele — branca como porcelana. A única coisa que apertava contra o corpo com força era um ursinho de pelúcia e em seu pescoço um colar fino em ouro, em sua roupa ainda continham marcas de sangue.Na escadaria principal, Irmã Margaret — de hábito azul-escuro e olhar maternal — aguard
Quando Kayla completou quinze anos, o pátio interno do St. Jude se encheu de luzes douradas e flores brancas, cuidadosamente organizadas pelas freiras e pelas colegas de classe. Era uma celebração simples, mas feita com amor. As irmãs haviam pedido doações e preparado tudo em segredo. Quando ela entrou no salão improvisado, de vestido azul claro e os cabelos presos num coque solto com pequenas pérolas, todos ficaram em silêncio por um instante.Ela estava deslumbrante — não só por sua beleza única, mas pela força silenciosa que irradiava. Como uma rainha selvagem em seu momento de glória.Houve música, risos, danças tímidas. E no fim da noite, enquanto Kayla observava a lua cheia no jardim do colégio, Ethan, um colega de turma e amigo próximo, se aproximou com as mãos trêmulas.— Eu… preciso te dizer uma coisa — disse ele, desviando o olhar por um segundo. — Eu te amo, Kayla. Desde o primeiro dia em que você chegou. Você me inspira. Me desafia. Me faz querer ser alguém melhor, e quand