A luz da tarde se deitava sobre os vidros do 49º andar com aquele tom dourado que só Manhattan sabe entregar. O expediente seguia em modo desacelerado, como se o dia tivesse sido vivido em intensidade dobrada. E, honestamente, tinha.
Clara soltou um suspiro discreto, os olhos acompanhando Ícaro enquanto ele recolhia seus pincéis, escovas e pequenos potes com a delicadeza de um cirurgião plástico montando o próprio arsenal.
— “Missão encerrada?” — ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Ícaro girou os calcanhares como se fosse fazer uma reverência dramática e respondeu:
— “Com louvor. Hoje você estava um escândalo. Se Dante não te pedir em casamento, eu vou.”
— “Prefiro que me leve pra Paris.” — ela rebateu, com um sorriso preguiçoso.
Ele se aproximou, ajustou um fio solto do cabelo dela, e sussurrou como se contasse um segredo de Estado:
— “Você tem dois olhares, mana. Um que seduz. E outro que sentencia. Hoje, você usou os dois. Ele não vai dormir.”
— “Nem eu.” — Clara confessou, me