14h01.
Dante estava encostado na parede lateral da sala privativa do 54º andar, blazer no encosto da cadeira, mangas da camisa dobradas até os antebraços, celular na mão.
Mandou a mensagem:
Já estou na mesa.
E o prato principal tá impaciente.
PS: Você ainda não almoçou, e isso fere cláusulas do contrato moral entre chefes e musas.
Sorriu. Do tipo que não era público. Um riso interno, de homem que sabia o que queria — e, pior: sabia que conseguiria.
O ambiente estava controlado: mesa posta, talheres de prata fosca, guardanapos em linho italiano, prato principal chegando na temperatura perfeita… e a sobremesa? Ainda estava em dúvida se era o suflê de pistache ou o decote da camisa de seda que Clara usava mais cedo.
Mas então…
Toc. Toc.
A porta foi aberta antes de qualquer “entre”.
Ela.
Letícia.
A ex.
— “Dante…” — disse, num tom que misturava saudade ensaiada com o eco de memórias que ele não fazia questão de lembrar.
Vestido justo demais para um ambiente corporativo. Perfume doce demais