Aperto a campainha com força, repetindo o gesto diversas vezes, irritando até mesmo os vizinhos, que saem de seus apartamentos sem entender todo aquele barulho. Ignoro seus olhares em minha direção, continuando a apertar o pequeno botão, até que a porta abre de repente, me assustando. Beth estava molhada, enrolada em uma toalha. Havia sabão em seu corpo ainda, inclusive shampoo em seu cabelo, seu cenho franzido e seus olhos me varreram de cima a baixo, como se não esperasse por mim. E é claro que não esperava.— Oi — digo quando ela não diz nada.— Oi — Ela responde, ainda segurança a maçaneta da porta, me olhando.— Posso entrar? — Resolvo perguntar, quando ela mais uma vez fica em silêncio.— O apartamento não é meu, mas pode — Dito isto, ela volta para o interior do apartamento e fecho a porta atrás de mim, me mantendo encostada na mesma, enquanto meus olhos vagam pelo cômodo em minha frente. Estava tudo em seu devido lugar, Tyler não havia comprado
— Senhora — Ignoro a voz direcionada para mim, atravessando o saguão da empresa de Brian. Meus passos são rápidos enquanto andava em direção do elevador, sentindo um dos seguranças logo atrás de mim. Por sorte, as portas do elevador se fecham no exato momento em que ele iria me deter. Eu sabia que era questão de segundos, para que os demais seguranças que haviam naquele luxuoso prédio, estivessem a minha espera em algum dos andares. Se Brian achava que permitiria facilmente que Beth caísse em suas garras, ele estava muito enganado. O mundo inteiro poderia se iludir com a imagem que ele passava, mas eu era a única pessoa que o conhecia muito bem, que sabia que não havia limites para ele. Brian acreditava que tinha o mundo em suas mãos, assim como as pessoas. As portas do elevador abrem assim que um breve barulho soa, antes mesmo que eu saísse um segurança vem a minha espera, falando com alguém por um pequeno rádio.— Boa noite, senhora —
Eu não queria estar ali e isto ficou óbvio para mim, assim que desci daquele táxi.Deveria ter ido embora? Deveria, naquele mesmo instante ou poderia ter evitado isto, muito antes disso, muito antes de entrar naquele táxi e até mesmo confirmado a minha ida. Era loucura definitivamente a acredito que ninguém em sã consciente, pouco mais de um mês depois de tudo que aconteceu, que me resultou em uma breve depressão forte e crises de ansiedade, aceitaria ir no noivado de sua amiga e do homem que detestava. Não sei o que quis provar para mim, depois de receber aquele convite com letras douradas perfeitas e o reler várias e várias vezes. A verdade é que naquele momento, com o nome de Brian ao lado de uma mulher que mesmo que eu sentia que conhecia, parecia uma desconhecida, não me fazia sentido algum a comemoração daquela nova etapa. Como assim?, me questionei, com meu coração sem acreditar no que estava em minhas mãos. Era uma pegadinha, concluí menos de um minuto de
Brian estreita os olhos, sustentando o olhar de Jonah. O silêncio era absoluto, mesmo eu sabendo que havia outras pessoas ao nosso redor.— Do que você está falando? — A voz de Brian soa séria, ameaçadora.— Da Elena — diz Jonah sem ao menos pensar e é neste momento que dou conta de que tínhamos um possível problema, bem diante dos nossos olhos.— Jonah — digo segurando em seu antebraço, tentando fazer com que continuasse a andar para fora dali. Sem dúvida havia sido um erro ir até ali, pelo menos eu, não deveria ter ido provar nada para mim ou ver com meus próprios olhos a decisão que Beth havia tomado. Aquele último mês havia ficado mais do que claro para mim. Beth não se importava com as opiniões alheias e nada parecia forte o suficiente para mudar sua decisão.— O que tem a Elena, Jonah? — Brian pergunta devagar, tencionando o maxilar. Puxo novamente o braço de Jonah, numa última tentativa, mas o mesmo parecia assim como Beth, determinado em contar toda
Naquela noite, após sair daquele estacionamento em alta velocidade, em uma pista molhada por causa da chuva, Jonah sofre um acidente. O carro que estava, capota algumas vezes na pista, antes de parar na lateral. Por alguma razão, achei que quando chegasse em sua casa, o encontraria, e mesmo não vendo o carro na garagem, entrei o chamando pela casa, acreditando ainda que poderia estar ali.— Jonah? — Chamo, indo em todos os cômodos — Jonah — Chamo novamente, saindo do escritório, indo para a cozinha, encontrando apenas a cozinheira e a auxiliar — Viram o Jonah? Ambas balançam a cabeça de um lado para o outro.— Não, senhora — A cozinheira responde. Saio rapidamente da cozinha, tentando imaginar aonde que ele poderia ter ido, acabando por me deparar com Williams descendo a escada.— Rebeca? — diz franzindo levemente o cenho — Está tudo bem?— Jonah — digo sem ao menos pensar — Ele está em casa? Ela inclina
— Como se sente em relação à tudo isso? — Dra. Lee pergunta. Me encolho ainda mais na cadeira em sua frente, trazendo minhas pernas para mais perto do meu corpo. Meus olhos estavam fixos na janela lateral, eu ouvia o barulho dos carros mas, não os via, prestava atenção na coloração do céu naquela tarde, um misto de duas cores: laranja e rosa. Já era fim de tarde e não conseguia entender como o tempo passava tão depressa quando eu chegava ali. Havia contado da melhor forma os últimos acontecimentos, inclusive a sensação de que tinha que minha mente desligava e era tomada por d'javú que não conseguia controlar. Como nas últimas sessões, Dra. Lee me escutou atentamente, fez anotações e comentários sutis, me ajudando a manter a minha mente clara, mesmo quando eu me sentia numa verdadeira confusão mental. Fazia duas semanas desde o acidente de Jonah e o noivado de Beth. Williams visitava Jonah com frequência e sempre dizia qu
A sopa que Williams me dera estava deliciosa, cheia de cogumelos, arroz, vagens e pedaços de carneiro. Enquanto comíamos, me peguei pensando nos últimos acontecimentos. Cogitava mentalmente a ideia de ligar para Dra. Lee e insistir que algo de errado estava acontecendo comigo. Com certeza não era normal estar em dois estados ao mesmo tempo, sentia que aos poucos já não lembrava quem era eu e que Elena estava cada vez mais presente. O cheiro da sopa estava delicioso, mas não fazia com que eu me movesse, não fazia com que eu parasse de pensar em Elena.A colher de Williams bate contra o prato de cerâmica, o breve barulho ecoa no ar por alguns instantes, e fico tensa. Meu olhar saltou para a mão dela. No entanto, ela só estava comendo, com a atenção parecendo concentrada na comida.— Coma sua sopa — Ela me relembrou novamente, vendo que eu não havia nem tocado na sopa ainda. Ela se inclina um pouco para frente, para se servir outro prato para ela mesma.— Quer comer o
Desço rapidamente os degraus da escada, ciente de que corria um grande risco de tropeçar e cair escada abaixo. Mas não me importava, Oliver havia sumido e eu precisava encontrar ele.— Williams! — grito o mais alto que posso, sem saber aonde a governanta poderia ter se metido, num momento tão desesperador como aquele — Williams! — Grito novamente, terminando de descer os degraus da escada, parando na sala de estar, olhando atentamente o cômodo vazio — Williams? — Volto a andar, passando pela sala de jantar, escritório e mais dois cômodos, antes de chegar na cozinha e apenas encontrar as funcionárias em suas tarefas cotidianas. Não havia nenhum sinal da Williams por ali e por um momento, acreditei que ela poderia estar com o bebê, que só deveria estar sendo paranóica mais uma vez, entretanto, tudo muda quando me deparo com a mesma, vindo na minha direção.— Rebeca?— Cadê o Oliver? — Ela pisca duas vezes, processando a pergunta e quando não responde de imedi