Na boa parte do tempo, não me sentia dentro do meu corpo, comia sem ter vontade e cumpria minhas necessidades básicas por cumprir. Me sentia no automático. Geralmente quando o efeito estava começando a passar e eu já não sentia toda aquela neblina em minha mente, conseguindo pensar e até mesmo me mover com mais agilidade, era a hora de outra dose dos medicamentos. E sempre era feito da forma mais agressiva possível. Eu sempre acabava os engolindo, por pressão ou até mesmo por acabar sendo machucada por um dos enfermeiros e sempre sentia os mesmos efeitos. Sentia como se a minha mente desligasse, bruscamente, com um puxar de tomada; Depois começava a ver vultos por toda parte, neste caso sempre era Elena e raramente eu dormia. As vezes passava a noite em claro e só conseguia dormir quando amanhecia, não demorando para que o meu sono fosse interrompido por algum dos enfermeiros, para ir tomar café da manhã ou banho de sol. Já estava acostumada com o
— Você vai tomar sim! — O enfermeiro grita sobre mim, apertando a mão com os comprimidos contra a minha boca. Meu maxiliar estava travado com toda força e eu já não tinha forças para continuar lutando contra o enfermeiro, que era duas vezes maior que eu e sem dúvida mais forte. Eu me debatia em baixo dele e movia a minha cabeça sem parar de um lado para o outro, estava completamente suada e sem fôlego, meus gritos já não soavam com força e o peso sobre mim apenas aumentava. Todo dia três vezes ao dia, os enfermeiros passavam nos quartos para a medicação; Todo dia no mesmo horário, poucos ainda relutavam, enquanto a grande maioria não pestanejava mais. Naquele dia, eu decidiria que iria pestanejar, não iria permitir que me dopassem, não quando minha mente já estava tão clara e eu conseguia sentir que eu estava em algum lugar dentro de mim. Nenhum daqueles enfermeiros tinham ideia de como era ser dopado frequentemente, como era nã
— Olá, Rebeca — diz Louise com Smooky, quando entro no prédio, após me despedir de Ana e Paul horas mais tarde. Olho para a senhora de meia idade, com lágrimas nos olhos, não acreditando que estava mesmo diante dela. Nunca fomos de conversar, apenas trocávamos breves palavras mas, nunca me senti tão feliz em ver ela.— Louise — digo abrindo um largo sorriso.— Senti sua falta, menina — Ela me olha de cima a baixo — Estava viajando ou se separou do menino Caleb?— Viajando — Gaguejo, me recompondo.— Que bom — Ela volta a andar — Vocês formam um casal lindo! Observo a senhora sair pela porta, dizendo a mim mesma que se fosse uma alucinação, era a alucinação mais vivida que já tinha tido até aquele momento. Subo os degraus das escadas, segurando com firmeza o corrimão mas, lenta que o normal que sempre subia. Sentia um pouco do efeito dos medicamentos ainda no meu organismo mas, acreditava que um café forte fosse o necessário para me fazer sentir melh
— Você tem certeza? — pergunto tentando disfarçar minha voz trêmula e o nervosismo que havia se apoderado do meu corpo em questão de segundos, sem mencionar que minhas mãos não paravam de suar e meu coração ainda continuava batendo de um jeito estranho em meu peito.— Tem uma ideia melhor? — Caleb pergunta no banco do motorista, com as mãos ainda no volante. Eu não tinha uma ideia melhor do que aquela, mesmo eu pensando e repensando no que estávamos prestes a fazer durante o trajeto. Algo precisava ser feito e parecia que tudo era válido naquele momento. Mas naquele momento, já não me parecia ser uma boa ideia.— O tempo está passando — murmuro.— Tem razão — Caleb desce rapidamente do carro, faço o mesmo engolindo em seco, andando logo atrás dele a medida que se aproxima do tribunal. Havia alguns repórteres do lado de fora, todos a postos, esperando o momento em que Brian seria condenado ou absolvido mas, todos ali já esperavam uma condenação, inclusive Bi
Mexo freneticamente a minha perna cruzada, concluindo mais uma vez o desconforto que a cadeira que estava causando. Mais uma vez. Ao meu lado, uma mulher parecia bastante a vontade no ambiente hospitalar, enquanto lia uma das revistas que encontrou numa pilha ao lado.Não conseguia entender como alguém conseguia se sentir tão...bem. Mesmo eu frequentando aquele hospital com frequência, ainda não me sentia habituada com toda aquela movimentação e a sensação que aquele ambiente me transmitia. Acreditava que boa parte daquela apreensão, não se vinha somente por estar num ambiente hospitalar mas, por Caleb estar atrasado. Ele já havia me mandado uma dúzia de mensagens dizendo que o trânsito não estava cooperando mas, que estava fazendo tudo que tinha seu alcance para chegar à tempo. E eu precisava acreditar que ele chegaria. Olho disfarçadamente para uma das mulheres que estavam ao meu lado, percebendo a manchete gritante que estava na capa da
Não era um dia diferente dos demais. O hospital Mayo Clinic era um dos melhores hospitais dos EUA, o que significava que uma quantidade grande da população o frequentava. Por ali havia o cheiro característico de anti- séptico, sussurros vindo dos corredores e da sala de espera, os sons dos intercomunicadores e quase que frequentemente os gritos dos enlutados. Nada parecia fora do comum, para o médico cirurgião residente, até que foi chamado de repente na sala de emergência, após minutos ao sair de uma cirurgia.O som familiar do intercomunicador soou pelos corredores, seguido por:— Chamando Dr. Harris, comparecer à emergência. Dr. Harris, comparecer à emergência — A voz suave e feminina, ainda repete o recado duas vezes, enquanto andava na direção a sala de cirurgia que havia acabado de ser ocupada. Mas ao entrar na sala, após se vestir novamente com a roupa cirúrgica com a ajuda de uma das enfermeiras, que iriam ajudar na cirurgia, simplesmente sente todo seu corpo parali
Mexo freneticamente a minha perna cruzada, concluindo mais uma vez o desconforto que a cadeira que estava causando. Ao meu lado, Beth parecia bastante a vontade no ambiente hospitalar, enquanto lia uma das revistas que encontrou numa pilha ao lado. Não conseguia entender como alguém conseguia se sentir tão...bem. Talvez a minha aversão a hospitais, estivesse complicando tudo, já que o último ano, o Mayo Clinic se tornou minha casa, enquanto estava ligada à uma máquina LVAD, esperando um transplante de coração. Toda noite eu driblava ao máximo o sono, tentava ficar acordada até o amanhecer, com medo de que se dormisse, não pudesse acordar no dia seguinte; E quando acordava na manhã seguinte e via o sol querendo entrar pelas cortinas, sentia que tinha mais uma chance, que aquele poderia ser o dia ou não, que receberia um coração novo. Durante um ano, essa foi a minha rotina, torcer para estar viva no dia seguinte, esperançosa de que o coração que me salvari
— Quero dar o mundo para você — Uma voz masculina sussurrou perto do meu ouvido. A fragrância de seu perfume, estava impregnada em minhas narinas, indo pouco a pouco para mais fundo dentro de mim. Conhecia cada partícula daquele perfume, apesar de não ser um perfume que sentia em vários homens, eu conhecia e gostava do cheiro forte e ao mesmo tempo com um toque feminino. Não demora para sentir lábios em meu pescoço, suaves, trilhando um caminho invisível. Cada beijo trazia mais familiaridade e logo seus braços me envolviam, firmes, me transmitindo segurança. Me acolhendo. Juntando todos os milhares de pedaços que tinha de mim, espalhados, numa tentativa de me trazer de volta. Inspiro profundamente o perfume, sentindo meu corpo leve.— Não quero o mundo. Já tenho você — Ouço as palavras saírem da minha boca, como se não tivessem sido ditas por mim. Mas para mim soaram verdadeiras, era como se meu coração estivesse falando — Só... — Inspiro profundamente