Lucca Ferraro
A manhã surgiu arrastada para mim, como se o próprio tempo tivesse se recusado a girar e tivesse ficado preso às sombras da noite anterior. Os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas pesadas do meu quarto, teimosos, como lâminas douradas que insistiam em ferir meu rosto. Pisquei, incomodado, tentando afastar aquela claridade intrusa, mas não havia escapatória. A luz parecia zombar da escuridão que ainda reinava dentro de mim.
Abri os olhos com esforço, sentindo cada músculo reclamar, como se o corpo tivesse se transformado em chumbo. A cabeça latejava com a força de mil marteladas, como se cada batida fosse um castigo pelo excesso de uísque. A boca estava seca, um deserto áspero, e eu ainda conseguia sentir o gosto amargo da bebida impregnado na língua, lem