Clara Vasconcelos
O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, envolto em um silêncio que parecia mais pesado do que qualquer barulho. As cortinas grossas permaneciam fechadas, sufocando quase toda a claridade, deixando passar apenas pequenas frestas de luz dourada que riscavam o ambiente como lembranças que teimam em invadir a mente, mesmo quando não são bem-vindas. O ar estava parado, denso, impregnado pelo aroma adocicado das flores frescas que Maria havia colocado em um vaso próximo à janela. Mas nem a beleza delas, nem o perfume doce foram capazes de suavizar a dor que apertava meu peito.
Eu permanecia deitada, encolhida sobre o colchão macio, como se pudesse me esconder do mundo ao me tornar pequena. O robe branco de renda envolvia minha camisola leve, mas parecia mais uma armadura frágil contra uma batalha que eu já sabia perdida. Os olhos ardiam, cansados, marejados pela noite mal dormida, e cada piscada era um lembrete do quanto chorei até que o corpo simplesmente não a