POV Alice Kim
Passaram-se algumas horas. A casa de Júlia virou um redemoinho doce de vozes, música baixa, cheiro de bolo e flores espalhadas por todo canto. Eu ajudo a organizar as lembrancinhas. Corto fitas, ajeito laços. Tento manter os dedos ocupados pra não pensar. Mas ele está em cada dobra da fita, em cada flor branca, em cada gole de café que eu tento engolir sem engasgar.
— Segura aqui pra mim, Ali. — Júlia fala, segurando um laço meio torto.
Eu seguro, respiro fundo. Me forço a sorrir.
— Você está nervosa? — pergunto, tentando puxar assunto, fugir da mente.
Ela ri, aquele riso leve que sempre me curou.
— Muito. — ela admite. — Mas feliz. Assustada, mas feliz.
Eu paro um segundo. Observo o brilho no olho dela. É isso. É assim que devia ser. O amor devia ser casa, devia ser lar, não um campo minado onde cada passo explode um trauma.
— Ele vai te fazer muito feliz. — falo, com a voz baixa.
— Vai. — ela confirma, sorrindo. — E você… você vai encontrar alguém que seja casa também.