POV ZION BELLINI
A luz da manhã entrou pela fresta da cortina como uma navalha preguiçosa. Mas o que me acordou mesmo… Foi o vazio. O lado esquerdo da cama.
Frio. Estiquei a mão por reflexo. Só lençol. O cheiro dela ainda ali. Mas o corpo… não. Sentei devagar.
Como se qualquer movimento brusco fosse despedaçar o pouco que ainda me restava.
Olhei em volta. Quarto arrumado. Nada fora do lugar. Nada dela. Levantei, andei até a sala.
O espaço onde ela ria. Silêncio. A prateleira onde ela deixava os livros? Vazia. A cozinha onde ela fazia café?
Ausência.
A vida dela tinha ido embora. E eu… nem ouvi a porta se fechar. Me aproximei da bancada. Tinha um bilhete. Uma única frase escrita à mão.
“Não era sobre desistir de você. Era sobre não esquecer de mim.”
Eu ri. Um riso de garganta seca. Desgraçado. Cruel. Porque ela foi embora amando. E eu fiquei… odiando a mim mesmo. Andei pela casa como um fantasma dentro do próprio corpo. Me olhei no espelho da sala.
Olhos fundos. Palidez. Cicat