Alice Kim
Cada palavra foi como uma navalha atravessando o ar pesado do jantar.
Zion jogando as verdades na cara do pai. Com raiva. Com dor. Com aquele orgulho tão alto que nem ele enxerga o próprio abismo.
E agora ele estava lá. Luz apagada. Só a sombra dele sentado na beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos no cabelo. O mundo desmoronando em silêncio.
Bati. Leve. Mas entrei mesmo assim.
— Você sempre faz isso? — perguntei. — Atira em todo mundo antes que alguém chegue perto?
Ele não olhou. Nem se mexeu.
— Eu sempre sobrevivo — murmurou. — Isso é o que importa.
— Isso é viver, pra você? Ferir primeiro? Pra não ser o único sangrando?
— Funciona.
— Não funciona, Zion. — avancei, a voz firme. — Você está sempre machucando os outros. Me machucando. Se sabotando. Como se estivesse tentando provar que não merece nada bom.
Ele ergueu os olhos. Havia algo ali. Algo quebrado demais pra ser consertado com fita adesiva.
— Talvez eu não mereça mesmo.
— Para com isso.
— Pra quê v