Alice Kim

Os dias passaram como borrões.

Zion praticamente não estava em casa. E quando estava... parecia um fantasma. Silencioso, ausente, frio como um inverno que chegou sem aviso. Às vezes eu ouvia a porta batendo de madrugada. Outras vezes, só sentia o cheiro de cigarro impregnando o corredor quando acordava pra beber água. Mas ele não falava. Não olhava. Não tentava.

E eu? Eu também não.

Porque cada parte de mim que ainda queria correr até ele... estava de castigo. Amordaçada. Presa sob a obrigação de seguir em frente.

A semana passou num misto de silêncio, aulas mornas e fingimentos cansados. Eu e Zion viramos dois estranhos dividindo o mesmo teto. E, estranhamente, isso doía mais do que qualquer discussão.

Mas então chegou a segunda-feira.

O dia do meu recomeço.

O dia em que eu finalmente respiraria outro ar, longe das paredes que já sabiam demais sobre mim.

Acordei cedo. Aula de manhã, como sempre. Fingi prestar atenção, mesmo com a ansiedade zunindo no fundo do cérebro.

Julian