Alice Kim
O sol já estava baixo quando cheguei em casa. O céu alaranjado invadia meu quarto pela janela entreaberta, como se dissesse: Você sobreviveu mais um dia, garota.
Joguei a bolsa sobre a escrivaninha, me sentei na cama, respirei fundo.
O cheiro do café da manhã ainda pairava no ar. Ou talvez fosse só memória. Ou o peso das últimas 48 horas colado na minha pele.
Ouvi o som da campainha. E logo depois, a voz da minha mãe:
— Juliaaaa! Sobe, ela está no quarto!
Não demorou cinco segundos até Julia entrar, toda animada, com um saco de doces na mão e glitter no cabelo.
— Socorro, amiga! Comprei aquele docinho que você ama e tô pronta pra fofoca, terapia e exorcismo, se precisar!
Ri. Era impossível não rir com ela.
— Entra logo antes que minha sanidade me abandone de vez.
Ela se jogou na cama, ocupando metade do colchão como um gato de rua folgado. Tirou os sapatos, abriu o saco de doces e enfiou um brigadeiro na boca.
— Tá mais calma hoje?
— Mais ou menos — respondi, pegando outro br