Alice Kim
Domingo. Final da manhã.
A mesa já estava posta. Minha mãe picava legumes com a leveza de quem não tinha a menor ideia do inferno emocional que se espalhava pela casa. Ricardo, meu padrasto, cortava carne assobiando uma música dos anos 80, como se o mundo fosse um grande comercial de margarina.
E eu?
Eu só queria desaparecer dentro da panela de arroz.
Zion estava quieto. Muito quieto. Sentado à mesa, mexendo no celular. Mas eu conhecia aquele silêncio. Aquilo não era tranquilidade. Era tensão. Era raiva engarrafada.
— E o Matheus, filha? — Ricardo soltou, do nada, como quem j**a uma granada no meio de um culto evangélico. — Faz tempo que não ouvimos falar dele. Sumiu?
A faca escorregou da minha mão.
Zion levantou os olhos na hora. O maxilar dele travou. As veias no pescoço saltaram.
— Terminamos — respondi seco. Rápido. Como se arrancasse um band-aid.
Minha mãe arregalou os olhos, surpresa. — Mas vocês estavam tão bem!
— Estávamos... até não estarmos mais.
Zion soltou um ris