Os últimos vinte e um dias tinham sido uma verdadeira provação.A espera era angustiante, os cuidados exigiam um rigor extremo e a vida de todos havia girado em torno da recuperação de Joshua.Luna e Jacob revezavam-se dia e noite ao lado do filho, garantindo que ele nunca se sentisse sozinho. Valentina visitava o irmão quase todos os dias, sempre trazendo desenhos, brinquedos e histórias para contar. Seu jeito doce e alegre iluminava o ambiente e Joshua, mesmo ainda debilitado, sorria sempre que a via.Nesse período, o relacionamento entre Luna e Jacob se fortaleceu. A cumplicidade entre eles crescia a cada dia, o respeito, o carinho, transbordavam nos pequenos gestos. Estavam cada vez mais certos de seus sentimentos e determinados a construírem uma vida juntos depois que tudo isso terminasse. Enquanto isso, o desaparecimento de Samantha seguia sem respostas.O advogado de Jacob já havia dado entrada no divórcio litigioso e a audiência estava marcada para o final do mês. Jacob não h
Sophie estava no jardim de sua casa, sentada sob a sombra de uma grande árvore centenária, o vento balançando levemente as folhas sobre sua cabeça, era a natureza lhe oferecendo algum consolo antes da tempestade começar. Usava um robe de seda creme, amarrado com descuido na cintura, os cabelos soltos e nas mãos, uma taça de vinho que girava devagar entre seus dedos.O fim da tarde estava belo demais para combinar com o que se passava dentro dela. O céu, pintado em tons de dourado e rosa, contrastava com a ansiedade que escurecia sua alma. Estava inquieta. Algo no ar parecia errado. Seu corpo, acostumado aos instintos de sobrevivência, já alertava sobre a aproximação de algo… definitivo.Seu celular tocou.O som daquele aparelho rasgou o silêncio como uma faca. O coração de Sophie disparou. O vinho tremeu na taça, respingando em sua coxa nua. Ela não sabia explicar, mas sentiu que aquele toque carregava um aviso sombrio.Pegou o aparelho com os dedos trêmulos.— Alô?— Dr. Victor foi
O hospital parecia calmo à primeira vista. As luzes fluorescentes acesas, o som rotineiro de monitores e conversas abafadas ecoando pelos corredores, os enfermeiros caminhando com suas pranchetas em mãos. Para quem observava de fora, era só mais uma noite comum.Aquela calmaria estava prestes a acabar porque Samantha estava ali. Ela traria o caos. Escondida sob o capuz preto de um casaco que não usava há anos, sentada em um banco de espera no térreo do hospital, misturada entre os visitantes comuns, ninguém a notava. Ninguém desconfiava. Aprendeu a se camuflar, a desaparecer, mesmo estando no centro de tudo.Nos olhos, óculos escuros grandes demais para o horário. No rosto, a expressão vazia de uma mulher que já não pertencia à própria realidade.Enquanto fora ela estava em frangalhos, por dentro sentia… poder. Um poder sombrio e silencioso, queimando em seu peito como brasa viva.Havia passado a noite anterior em claro. Sem comer. Sem dormir. Sem respirar direito.Seu apartamento es
O hospital estava em festa. Após vinte e um dias de angústia e mais sete de observação, Joshua finalmente teria alta. O medo, a incerteza e a dor ficaram para trás, dando lugar ao alívio e à esperança. A sensação de renovação pairava no ar, um novo capítulo se abrindo para todos.Luna caminhava ao lado de Valentina, sorrindo, os dedos entrelaçados com os da filha, enquanto conversavam sobre os planos para a comemoração. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que estava segura. O sol brilhava no céu aquecendo sua pele e o riso suave de Valentina enchia seu coração de alegria.O que ela não imaginava era que o perigo estava próximo.Samantha observava tudo de dentro do carro. Seus olhos chamuscavam em puro ódio. Ela segurava o volante com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Não havia mais lucidez, apenas uma única certeza pulsando em sua mente: vingança.Tudo o que ela fez, o que planejou, não foi por nada. Seu casamento estava destruído, Jacob deu entrada nos p
Luna HarrisonO som, foi o que veio primeiro.Não o impacto. Não a dor. Simplesmente o som.Um rugido brutal, feroz, vindo em nossa direção. Não era de um carro, era de algo muito mais primitivo. O som do ódio. Da loucura. Da morte.— LUNA, CUIDADO!Kevin gritou tão alto que sua voz cravou em mim como uma lâmina. Eu me virei, com Valentina ainda falando sobre o sabor do sorvete que queria na volta para casa, o tempo parou.Eu a vi.Samantha.Atrás do volante. Os olhos alucinados, rasgados de fúria. O cabelo desalinhado, as mãos cravadas no volante, o rosto contorcido de uma maneira que eu nunca tinha presenciado. Aquilo não era mais uma mulher, era um demônio solto na Terra.O carro vinha direto em nossa direção, rápido, sem hesitação.Tudo em mim gritou.Peguei Valentina no colo e me lancei para o lado. Não houve tempo para pensar, nem mesmo para temer. Era puro instinto de proteção, total desespero. Caímos sobre o concreto, o som do carro rasgou o ar tão perto que senti o calor do
Duas semanas haviam se passado desde o atentado.O tempo, apesar de breve, parecia ter se dilatado, como se cada dia carregasse o peso de uma década. As cicatrizes ainda eram visíveis. Algumas na pele, outras mais profundas, na alma.Valentina ainda acordava de madrugada, ofegante, com os olhos arregalados, buscando a voz da mãe em meio ao pesadelo. Joshua, permanecia ao lado de sua irmã sussurrando palavras de conforto. Luna, apesar de forte, sentia-se quebrada por dentro, mas havia uma coisa que mantinha todos de pé: a justiça. Ela estava prestes a acontecer.A notícia da prisão de Sophie e Victor já havia percorrido o país como um vendaval. Sites de notícias, programas de TV e perfis de redes sociais exploravam cada detalhe do escândalo. Dr. Victor, homem outrora respeitado, agora era o rosto da perversidade disfarçada de medicina. Sophie, apanhada ao tentar fugir, estava sendo processada por uma lista de crimes tão longa quanto as mentiras que sustentou.No entanto, nenhum julga
O céu estava encoberto por nuvens cinzentas, o vento carregava uma melancolia antiga. Era uma manhã que combinava com a alma de Jacob.Ele dirigia em silêncio pelas ruas estreitas que levavam ao cemitério. As mãos firmes no volante não escondiam o tremor sutil dos dedos. Ao seu lado, Luna mantinha o olhar silencioso voltado para ele, respeitando o peso daquele momento.Quando o portão do cemitério apareceu à frente, Jacob reduziu a velocidade e estacionou com cuidado. Respirou fundo, mantendo os olhos fixos na entrada, tentando reunir coragem para enfrentar o que estava por vir.Luna quebrou o silêncio.— Tem certeza de que quer fazer isso? — sua voz era um sussurro.Jacob engoliu em seco. — Eu preciso — seus olhos não se desviaram do caminho à frente.Ela assentiu tocando sua mão por um instante, transmitindo força sem dizer mais nada e então, soltou. Ela sabia que ele precisava fazer aquilo sozinho.Jacob desceu do carro com passos lentos. A cada metro que avançava, sentia o peso d
Quinze dias passaram desde o julgamento. O tempo, embora breve, foi gentil.As noites começaram a ser mais tranquilas, os sorrisos mais frequentes e os silêncios menos dolorosos. Luna ainda tinha seus momentos de reflexão, mas agora eram preenchidos por lembranças boas e promessas doces.Valentina voltou a desenhar corações com “mamãe”, “papai” e “Joshua” no centro. Joshua ria mais, brincava mais. E Jacob… Jacob parecia mais leve, como se um fardo de anos tivesse finalmente caído de seus ombros.Naquela manhã de céu limpo, Luna acordou com beijos suaves no rosto e a voz de Valentina.— Hoje é dia de surpresa, mamãe…— a pequena cochichava emseu ouvido.Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Joshua surgiu com uma venda preta nas mãos e um sorriso sapeca.— Vai ter que confiar na gente!O carro seguia em silêncio. Jacob dirigia com uma expressão misteriosa. No banco de trás, Joshua segurava a mão da irmã com firmeza, os dois vibrando em animação.— Posso saber qual é a surpresa? — L