À tarde, chegaram mais jornalistas. A segurança os manteve afastados; mesmo assim, cada vez que empurrava a porta de vidro, sentia o cheiro da ansiedade coletiva como o ozônio antes de uma descarga. Trabalhei até que os planos deixassem de ser linhas e voltassem a ser espaços: luz, eco, vidas dentro. Lá estava a minha verdade. Nisso, ninguém podia me tocar.
Quando saí, o céu tinha a cor do grafite. Um sedã escuro me esperava. O motorista abaixou a janela.
— O engenheiro Del Valle pediu para eu levá-lo — disse ele.
Por um segundo, quis recusar. Depois pensei nas câmeras. Entrei.
Não conversamos durante o trajeto; o silêncio não me incomodou. O carro avançou como um peixe em um rio de buzinas até deixar o centro para trás. Ele me deixou a duas quadras do meu prédio, invisível para os curiosos. Antes de descer, o motorista inclinou-se levemente.
—À mesma hora amanhã, senhorita Ferrer.
***
Dormi pouco. Sonhei com uma fita métrica passando sobre minha pele: um, dois, três... ajuste fino. A