Capítulo 03

Angela deu um passo para trás, o medo rastejando sob sua pele.

— Eu não... eu não sei do que você está falando.

Damian sorriu de novo, e, por um instante, ela viu — sob o homem — algo maior. Algo monstruoso e belo. Um poder que não era humano.

Ele se aproximou até que a distância entre eles fosse apenas um suspiro.

Angela prendeu a respiração.

Damian ergueu uma mão, lenta, deliberadamente, e pousou dois dedos sob o queixo dela, obrigando-a a levantar o rosto.

O toque era frio, mas sua pele ardia.

Seus olhos vermelhos se cravaram nos dela, e por um momento tudo desapareceu — a vila, a chuva, o medo.

Havia apenas a conexão.

Algo estalou no ar entre eles — como um fio invisível que se esticava até quase romper.

Angela sentiu uma onda de emoções atravessá-la: desejo, raiva, necessidade.

Tudo amplificado, como se Damiam pudesse acessar suas emoções mais profundas e expô-las sem piedade.

Ela soltou um suspiro trêmulo.

— Você não sabe quem é ainda — murmurou ele, os dedos percorrendo sua mandíbula em uma carícia ameaçadora. — Mas vai descobrir. E quando descobrir, pequena... será tarde demais para fugir.

Angela fechou os olhos, tentando resistir ao turbilhão que a arrastava.

Mas quando os abriu de novo, Damiam já havia se afastado.

Ele a observava com aquela expressão ilegível, como se estivesse decidindo se deveria devorá-la ou protegê-la.

— Fique atenta, Angela — disse, seu nome em sua boca soando como uma sentença. — Este mundo... não é feito apenas de carne e osso. Há coisas aqui que você não pode ver. Ainda.

Angela sentiu o chão tremer sob seus pés.

A vila inteira parecia respirar em volta deles, como um ser vivo, antigo e faminto.

— Quem... quem são vocês? — sussurrou.

Damiam apenas sorriu — um sorriso sombrio, carregado de promessas perigosas — antes de virar as costas e desaparecer na escuridão como se nunca tivesse estado ali.

Angela ficou parada no meio da rua, a chuva encharcando suas roupas, seus cabelos, sua alma.

Tinha fugido de um monstro.

Mas talvez, sem saber, tivesse corrido direto para as garras de outros ainda mais perigosos.

E, o mais assustador...

Uma parte dela queria isso.

Uma parte dela ansiava pela escuridão.

A noite caiu sobre Montemori como um manto espesso e silencioso.

Angela se encolheu sob os lençóis da cama velha da cabana, os olhos abertos no escuro. A chuva cessara, mas o vento ainda uivava através das frestas das janelas, carregando com ele sussurros que pareciam chamar seu nome.

Ela não conseguia dormir.

Desde o encontro com Damiam, algo dentro dela estava diferente.

Uma inquietação febril vibrava sob sua pele, como uma eletricidade invisível, ansiosa para se libertar.

Fechou os olhos e tentou respirar fundo, mas seu corpo não respondia. Era como se algo a puxasse para fora de si mesma, para um lugar entre o sonho e a vigília.

E então, ela viu.

Não com seus olhos, mas com algo mais antigo, mais instintivo.

Uma floresta banhada por uma luz azulada, árvores negras que sussurravam em línguas esquecidas. No centro da floresta, três figuras a esperavam.

Zane. Theo. Damiam

Cada um irradiava uma aura tão intensa que parecia distorcer o próprio ar ao redor.

Eles a observavam em silêncio, e Angela sentia a força esmagadora de seus olhares — não de ameaça, mas de reivindicação.

Ela deu um passo hesitante em sua direção.

O chão sob seus pés parecia pulsar, vivo, conectado a ela de uma forma que nunca experimentara antes.

Com cada passo, uma sensação estranha crescia dentro dela: poder.

Poder que não era deles. Era seu.

Angela parou diante deles, o coração martelando no peito.

Zane se aproximou primeiro, seus olhos dourados queimando sob a luz sobrenatural.

Ele estendeu a mão, e sem pensar, ela colocou a sua sobre a dele.

O toque foi como fogo correndo em suas veias, despertando algo adormecido.

Em seguida, Theo se aproximou pelo lado esquerdo.

Seus olhos verdes brilhavam com ternura e força. Ele tocou seu ombro, e onde sua mão pousou, Angela sentiu raízes invisíveis se entrelaçando dentro dela — firmeza, proteção.

Por último, Damiam.

Ele não precisou tocar.

Seus olhos vermelhos encontraram os dela, e com apenas aquele olhar, Angela sentiu a escuridão dentro de si — aquela parte de sua alma que ela sempre tentou ignorar — responder com um rugido de reconhecimento.

Ela abriu a boca para falar, para perguntar o que aquilo significava.

Mas antes que qualquer palavra pudesse nascer, a terra tremeu.

As árvores se curvaram em direção a ela, como se prestassem homenagem.

O vento soprou seu nome — não como um sussurro de ameaça, mas como uma aclamação.

Angela.

Ela caiu de joelhos, incapaz de suportar a força que a invadia.

Era magia.

Crua, antiga, selvagem.

E era dela.

Angela acordou com um sobressalto, o corpo coberto de suor, o peito arfando como se tivesse corrido quilômetros.

O quarto estava envolto em sombras, mas a sensação permanecia: uma vibração profunda em seus ossos, em sua pele, em seu sangue.

Ela levou as mãos ao rosto, tentando se acalmar.

— O que está acontecendo comigo? — sussurrou para a escuridão.

Nenhuma resposta veio.

Mas quando abaixou as mãos, notou algo estranho.

As pontas de seus dedos... brilhavam.

Um brilho fraco, azul, como a luz do sonho.

Angela piscou várias vezes, tentando afastar a ilusão. Mas o brilho persistia por alguns segundos antes de se apagar, como se nunca tivesse existido.

Ela se levantou cambaleando, o chão parecendo ondular sob seus pés.

Cada célula de seu corpo pulsava com uma energia que ela não sabia como conter.

Se olhou no espelho rachado pendurado na parede.

O reflexo que encontrou era familiar... e não era.

Seus olhos pareciam mais intensos, mais profundos.

Sua pele parecia irradiar um leve calor, como brasas sob a superfície.

E, o mais assustador, havia algo em sua expressão — uma centelha selvagem, uma força que não estava lá antes.

Eles fizeram isso comigo?

Ou eu sempre fui assim e apenas agora estou despertando?

A lembrança dos três homens voltou com força: Zane, com sua fome indomável. Theo, com sua firme proteção. Damiam com seu domínio sombrio.

Todos conectados a ela de uma forma que ela não compreendia ainda.

Mas uma coisa era certa.

Ela não era mais apenas Angela, a mulher que fugira de um passado violento tentando encontrar paz.

Não.

Ela era algo mais.

Algo que este mundo — este mundo secreto, mágico e brutal — reconhecia e queria.

Angela tocou o espelho, a superfície fria sob seus dedos trêmulos.

— Eu não sou fraca — disse a si mesma, a voz firmeando com cada palavra.

Seus olhos no espelho brilharam por um breve instante, como se o universo reconhecesse sua promessa.

Não sabia o que viria a seguir.

Não sabia se poderia confiar nos três Alfas — ou em si mesma.

Mas de uma coisa tinha certeza:

Ela não iria fugir novamente.

E, pela primeira vez em muito tempo, um sorriso cruzou seus lábios — feroz, selvagem.

Porque no fundo, bem no fundo...

Uma parte dela mal podia esperar para descobrir até onde sua escuridão poderia ir.

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