A Conexão Humana

Lívia correu o mais rápido que pôde, o coração ainda disparado pela adrenalina e pelo medo. A voz de Daniel tornava-se cada vez mais nítida, e quando ela emergiu da floresta, ele estava de pé, à beira da trilha, com as mãos na cintura e o rosto iluminado pela lanterna do celular. A expressão dele oscilava entre alívio e irritação.

"Lívia, onde você estava? Fiquei preocupado! Fui até a biblioteca e a senhora Thompson disse que você saiu há horas. Eu liguei, mas você não atendeu," ele disse, com a voz embargada de ansiedade.

Lívia pegou o celular do bolso, e notou que estava sem bateria. "Eu... eu... fui caminhar," ela gaguejou, ainda ofegante, e se aproximou dele. "Eu perdi a noção do tempo. O meu celular descarregou."

Daniel a envolveu em seus braços, e Lívia sentiu a tensão dele. O cheiro de seu perfume, tão familiar, contrastava drasticamente com o cheiro de pinho e terra que ainda estava em suas narinas. Ela sentiu o calor do abraço, mas não sentiu a mesma faísca que sentiu ao lado de Kael. O toque de Daniel era de proteção, mas não de alma.

"Você me assustou," ele murmurou, e a beijou no cabelo. "Não me faça mais isso. A floresta é perigosa. Você sabe disso."

Lívia, ainda em choque, apenas assentiu. Ela não podia contar-lhe o que tinha acontecido. Como poderia? Ele pensaria que ela estava louca. A última coisa que ela precisava era que ele, um homem que não acreditava em lendas, soubesse que a floresta abrigava lobisomens, e que dois alfas tinham a escolhido como companheira. Ela sabia que Daniel a amava, à sua maneira, mas a sua vida era tão diferente da dela que ela sentiu um abismo a crescer entre eles.

Ao chegarem na casa dela, Daniel sentou-se no sofá e a esperou na sala de estar, enquanto ela tentava se recompor. Lívia, que ainda estava com os pés na terra molhada e a cabeça nas nuvens, tomou um banho rápido, e tentou esquecer o que tinha acontecido.

Quando ela voltou para a sala, Daniel a esperava com um olhar sério. "Nós precisamos conversar," ele disse. "A minha família está a planear a expansão da madeireira. A floresta precisa ser explorada para o progresso da cidade. A nossa floresta. E... o meu pai quer que eu comece a liderar a empresa. Isso significa que eu terei que me mudar para a cidade, e eu quero que você venha comigo."

A proposta de Daniel foi como um choque de realidade. A vida que ela tinha com ele, que antes parecia tão promissora, agora parecia uma prisão. O sonho de uma vida tranquila com ele, agora parecia um pesadelo. Ela olhou para ele, e percebeu que ele não a via, ele via a esposa perfeita para o futuro do prefeito. Ela, que sempre amou a floresta e os seus segredos, estava a ser convidada a ir para longe dela, para um mundo onde o progresso era mais importante que a natureza.

Ela sentou-se ao lado dele, e pegou a mão dele. "Daniel, eu... eu não sei," ela disse. "Eu amo esta cidade. A floresta. E a biblioteca. É aqui que eu sou feliz. Não me peça para ir embora."

Daniel, que nunca ouviu um "não" de Lívia, parecia chocado. "Mas... nós temos um futuro juntos. Nós vamos nos casar, ter filhos... e eu não posso fazer isso aqui. A cidade... ela é o meu destino, Lívia. E eu quero que você esteja ao meu lado."

O uso da palavra "destino" fez Lívia se lembrar dos dois lobos, de Kael e Silas, e do que eles tinham falado sobre o destino. O destino de Daniel era a cidade. O destino dela era... a floresta? Ela, que não acreditava em destino, sentiu um frio na barriga.

Ela olhou para a janela, e a lua, que ainda estava no céu, parecia olhá-la de volta. A voz de Daniel era um murmúrio distante. E a única coisa que ela conseguia ouvir era o uivo, que parecia estar a chamá-la. A floresta estava a chamá-la de volta. Ela sabia que, no fundo, a sua vida humana estava prestes a colidir com a sua vida secreta, e ela não sabia qual seria a vencedora.

O que Lívia faria agora? Como ela lidaria com o pedido de Daniel, e com a descoberta que a sua vida, a sua alma, estava destinada a pertencer a alguém?

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