CRISTINA SANTIAGO

A mente humana é um quebra-cabeça cruel.

Depois daquela primeira noite em que acordei aterrorizada com a lembrança de um Ethan frio me trancando no quarto, eu esperava que as comportas se abrissem. Esperava que uma enxurrada de horrores viesse para confirmar meus piores medos.

Mas não foi isso que aconteceu.

As memórias vinham, sim. Mas vinham em fragmentos desordenados, como peças de vidro trazidas pela maré. E, para minha total confusão, a maioria delas não transformava Ethan em um vilão. Pelo contrário. As memórias ruins tinham outros protagonistas.

Me lembrava da voz de Heitor, não pedindo desculpas, mas me culpando. Beatriz. Eu me lembrava de confrontá-la, e do sorriso dela ao dizer que sempre ganhava. Me lembrava dos meus pais. E a voz da minha mãe, não me consolando, mas me repreendendo. Heitor e Beatriz eram inocentes. Eu era a errada.

Essas memórias eram como ácido. Eles me traíram. Todos eles. Por isso agora estava evitando vê-los ou falar com eles.

Mas ent