Capítulo 31 – O Lado do Tirano
Acordei com a boca cheia de ferro e a garganta seca. O frio da neve grudava nas roupas rasgadas, o corpo latejava em cada articulação como se tivesse sido quebrado em pedaços. Por um instante, pensei que estava morta. Mas o ar ardido entrando nos pulmões me provava o contrário.
Levantei com esforço, apoiando-me numa árvore úmida. O vestido estava manchado de terra, sangue e folhas — um farrapo digno de uma fugitiva, não de uma Duquesa. O silêncio da floresta era enganador: corujas piavam ao longe, galhos estalavam como ossos partidos, e a escuridão parecia me observar de todos os lados.
A mente correu para trás, para os anos em que sobrevivi sozinha, caçando restos e dormindo em cantos imundos. Não era novidade para mim estar cercada de nada além de hostilidade. Respirei fundo, engoli o medo e comecei a juntar galhos. O frio não me daria trégua, e sem fogo eu não duraria até o amanhecer.
Arranquei pedaços de raízes da terra dura e provei com cautela.